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Educação sem estrutura: o histórico prédio da Escola Judith Paiva, em Rio Largo, oferece riscos a alunos, professores e funcionários

(Crédito: Daniel Paulino/VozAL)

Daniel Paulino e Gustavo Lopes
Voz das Comunidades Alagoas 

(Crédito: Daniel Paulino/VozAL)
(Crédito: Daniel Paulino/Voz-AL)

Dentre históricos e centenários prédios da cidade de Rio Largo está a Escola Municipal Judith Paiva, que foi construída há mais de 60 anos atrás. Pela renomada e conhecida instituição de ensino passaram importantes nomes de Alagoas como do medico Dr. Diógenes Juca, o ex-deputado estadual e federal Roberto Torres, o ex-proprietário da Usina Clotilde Oiticica e ex-prefeito de Rio Largo Fernando Oiticica, o pai do atual prefeito que também foi gestor da cidade Antonio Lins, além de um dos mais conhecidos  prefeitos da cidade Walter Figueiredo, que construiu boa parte das escolas municipais existentes hoje. Com o passar dos anos, a estrutura foi necessitando de reformas e os gestores acabaram fazendo vista grossa e a ‘’bomba’’ acabou estourando nas mãos do atual Prefeito Antonio Lins de Souza Filho, mais conhecido como ‘Toninho Lins’.

O Portal Voz das Comunidades Alagoas resolveu fazer um ‘Raio X’ sobre a estrutura das escola municipais da cidade. A matéria foi dividida em duas partes, onde a primeira mostra a situação da Escola Judith Paiva e Escola de Educação Infantil João Paulo II, neste final de semana. Já no próximo final de semana, a continuação da realidade será a do Grupo Escolar Gustavo Paiva e de três unidades escolares que estão passando por reformas. Durante a visita, foi fácil encontrar muito descaso e falta de respeito com os alunos e com os próprios servidores que lá trabalham diariamente para tentar levar a cada aluno uma educação com mais qualidade.

O primeiro ponto de parada foi na Escola Municipal Judith Paiva, no alto da cidade de Rio Largo, onde o descaso é a estrutura deteriorada da unidade escolar e visível desde o portão que dá acesso a área interna da instituição municipal. De acordo com uma funcionária da escola, que preferiu ter a identidade preservada com receio de represálias, de dez salas de aulas apenas cinco estão em pleno funcionamento, pois outras cinco estão interditadas por oferecem sérios riscos estruturais aos estudantes e professores.

Durante a visita a unidade escolar, tentamos entrar na sala de informática, que segundo os alunos, nunca foi utilizada, mais a diretora-geral identificada apenas como Cristina, não autorizou a entrada da nossa equipe de reportagem no compartimento.

(Crédito: Daniel Paulino/VozAL)
(Crédito: Daniel Paulino/Voz-AL)

De acordo com alunos que estavam no pátio, a sala de informática é mais uma dentre as cinco salas de aula que nunca foram utilizadas. ‘’Estudo aqui há três anos e nunca entrei na sala de informática nem pra ter aula nem pra conhecer, nunca’’, afirmou. Mesmo sem autorização da diretora-geral de entrar na sala de informática, o Voz das Comunidades conseguiu obter, com exclusividade, imagens internas do compartimento através do monitoramento de câmeras da escola. Nas imagens é possível observar que existem mais CPU’s do que monitores.

De acordo com outra funcionaria – que também não quis ser identificada, a escola precisa de uma reforma urgentemente. “Quando eu entrei nessa escola eu tinha sonho para a Judith, hoje a escola precisa de uma reforma? Precisa sim, mas na sua casa quando aparece uma goteira você vai lá e tira ou espera pelo vizinho? Na minha casa eu vou e tiro, aqui não. Aqui aparece uma, duas, três, diversas goteiras e permanecem”, disparou.

Segundo a vice diretora, Ana Rosa, a última promessa de reforma foi no ano passado. ‘’A última promessa foi na época em que a escola se tornaria escola em tempo integral no ano passado. O engenheiro chegou a visitar a escola para realizar uma avaliação e depois disso nada mais feito. Com esse projeto, tivemos que passar muitos alunos para outras escolas, pois a escola não comportaria de cerca de mil alunos e com esse remanejamento hoje só temos em media 600’’, relatou.

Durante a tarde em que o Portal Voz das Comunidades esteve na escola, a merenda foi garantida, mais segundo os alunos e alguns funcionários, desde o início das aulas que vem ocorrendo um certo atraso e problema na entrega dos alimentos. ‘’Semana passada não tínhamos gás, a imprensa veio aqui, cobrou e aí no outro dia o gás chegou. Já teve dias de servimos para os alunos melancia com água e outros pão com queijo e água porque o suco até aqui não chegou”, denunciou uma funcionária.

De acordo com um professor, a falta de merenda vem afetando bastante os alunos. ‘’Não demos início esse ano ao projeto ‘Mais Educação’ por falta de merenda, pois é um projeto integral onde devemos servir almoço para os alunos e não tem merenda para isso”, afirmou.

Durante o intervalo, os alunos ficam dispersos sem ter espaço para praticar esporte ou brincar.De acordo com alguns alunos, a escola tinha uma quadra esportiva mais com o muro quebrado é perigoso praticar atividade ou até mesmo brincar no local. ‘’Lá atrás é muito perigoso porque é aberto e todas as pessoas tem acesso até os bandidos”, relataram.

(Crédito: Daniel Paulino/VozAL)
(Crédito: Daniel Paulino/Voz-AL)

De acordo com uma das funcionarias – que não terá o nome revelado, a segurança na escola vai de mal a pior. ‘’O que impede um traficante entrar aqui na escola se nem vigia nós temos? Os vigias que ficam no portão são as diretoras, as funcionarias da merenda e o rapaz que deveria cuidar da disciplina, mais fica no portão da escola exercendo um papel que não é obrigação dele”. denunciou.

Enquanto a vice-diretora Ana Rosa passava algumas explicações para a equipe do Voz das Comunidades Alagoas, o funcionário responsável pela disciplina da escola entrou na sala da direção afirmando que a polícia teria que ser chamada, pois possíveis usuários de drogas da região estava sentados na porta da escola. ‘’Até tínhamos vigias, mas agora não temos nenhum. Uma pessoa só trabalhar é ruim, não tem condição uma pessoa só trabalhar com esses marginais aí fora, tem que ter pelo menos uns cinco”, desabafou.

A vice-diretora informou que o pedido de vigia para a escola Judith Paiva já foi enviado à Secretaria Municipal de Educação (SMED) e que a secretaria já está ciente do problema, mais até o presente momento não solucionou a situação.

Ainda segundo Ana Rosa, os militares do 8º Batalhão de Policiamento Militar (BPM) passam fazendo ronda em torno da unidade escolar, mais não constantemente como deveria. ‘’Eles também não só tem a nossa escola para fazer a segurança, antes era constante quando existia a Ronda Escolar. Com a ronda, os militares passavam toda tarde aqui na escola até que acabou e ficamos sem vigia e sem a ronda escolar”, comentou.

‘’Se eu fosse diretora, vice-diretora ou coordenadora eu já tinha fechado essa escola. Não existe conselho escolar da escola, eu iria ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal) da cidade, fazia uma reunião com pais, alunos e a comunidade, fazia um relatório, registrava em ata, todo mundo assinava e fechava a escola, mais o povo tem medo do prefeito”, disparou uma funcionária.

(Crédito: Daniel Paulino/VozAL)
(Crédito: Daniel Paulino/Voz-AL)

O segundo ponto de parada foi na Escola de Educação Infantil João Paulo II, onde atendem 409 alunos nos dois turnos, entre dois e seis anos de idade. De acordo com funcionários, durante a solenidade de inauguração, o prefeito prometeu que as aulas já iriam iniciar com todas as salas climatizadas, mais já fazem quase três meses que o ano letivo se iniciou para a escola e mal os alunos têm um ventilador por cada sala de aula.

De acordo com uma professora, os alunos reclamam muito de calor. ‘’Aqui na sala só temos um ventilador e eles reclamam constantemente do calor dentro da sala”, comentou.

Outro problema que vem preocupando aos funcionários da escola é a situação da escada que dá acesso ao primeiro andar onde ficam a maioria das salas. ‘’Aqui na escada temos que ter atenção redobrada com os alunos, pois pelo fato dela não ter corrimão para facilitara a locomoção sozinhas dos alunos temos que ter muito cuidado com eles”, afirmou uma professora.

Na cozinha, onde é preparada as refeições dos alunos, a situação é um pouco mais delicada. De acordo com os funcionários, os alimentos vêm sendo armazenados em cima do freezer ou de uma mesa de plástico. Durante o momento em que estávamos no local, flagramos o armazenamentos de frutas no chão da cozinha por falta de armários onde deveriam ser armazenados os alimentos corretamente.

O que mais chamou atenção, é que os alunos não tem local para realizar as refeições corretamente a não ser sentados no chão. ‘’A gente entrega a merenda e eles vão procurar um cantinho no chão porque não tem refeitório nem muito menos mesas aqui em baixo para os alunos sentarem”, relatou.

O Portal Voz das Comunidades Alagoas entrou em contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal da Cidade de Rio Largo, que garantiu que no decorrer da próxima semana irá enviar nota explicando toda a situação das escolas mostrada na reportagem.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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