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#ArtigoDeOpinião: Black Money e a importância do movimento na busca pela representatividade

Consumo e as prestação de serviço entre negros. Foto: Kenned Flautas Negra

Texto: Pablo Marcelino

“A carne mais barata é a carne negra”, diz Elza Soares na música “A Carne”. O verso junto ao resto da letra vai além de um manifesto ao abrir uma análise crítica e profunda sobre como nós negros somos tratados ao longo da História do Brasil. Também amplia a reflexão sobre um assunto importante de ser discutido nos dias atuais e não pode ser colocado pra debaixo do tapete: O Black Money ou “dinheiro negro” é uma ação que surgiu nos Estados Unidos e seu objetivo é estimular o consumo e as prestações de serviços entre negros, cuja pobreza tem cor e são os que ganham menos devido a inserção da estrutura de poder que marginaliza e criminaliza a sua existência e aumenta ainda mais a taxa de desigualdade no país.

A comunidade negra brasileira gira em torno de R$ 1,7 trilhão de reais por ano com renda própria, e de acordo com levantamento feito pelo Sebrae, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 50% dos donos de negócio são negros, 49% são brancos e 1% pertencem a outros grupos populacionais. Através destes números somos capazes de ver que, além da população preta ter uma boa aptidão para lidar com negócios, também tem um número significativo no poder aquisitivo do nosso país.

Se a maior parcela da circulação financeira é feita por pretos, por que ainda nos falta representatividades em várias áreas? E para onde está indo esse dinheiro, já que a população negra se encontra na última escala quando se fala na pirâmide socioeconômica? Esse também são os questionamentos que a organização tem trazido ao círculo de debates e ações.

A presidente do movimento Black Money, Nina Silva, em uma entrevista para o programa Futura Play conta que nos Estados Unidos, onde surgiu o movimento e também temos um diálogo mais presente em relação à economia, 1 dólar fica apenas seis horas dentro da comunidade negra, na asiática circula durante vinte e oito dias, na branca dezessete e na latina apenas sete. Ao ganharmos noção desses giros, podemos ver que população afrodescendente tem tido dificuldades em está mantendo a nota dentro do próprio grupo. É também nessa conjuntura que a ação tem trago estratégias para a conscientização do consumo negro. “Esse é um exemplo que podemos trazer para a realidade Brasileira que é ainda pior! O que estamos fazendo de errado se não conseguimos ficar nem um dia com um dólar dentro da nossa comunidade?” Afirma Nina, que também está na lista das cem pessoas negras com menos de 40 anos mais influentes do Mundo.  

Na maioria das vezes por falta de lucro e créditos no mercado, cerca de 60% das empresas fecham antes de completar 4 anos de existência (pesquisa demográfica das empresas 2014, do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que é o período que essas mesmas deveriam estar ganhando sustentabilidade e escalabilidade. Alan Soares, planejador Financeiro Sócio da Trader Brasil e fundador do Movimento Black Money explica que “logo para o empreendedor negro os desafios são maiores, por que se uma pessoa da comunidade negra tem o desejo de empreender, mas não possui capital para isso e nem conhece alguém próximo que possa fazer um empréstimo, possivelmente não vai ter a chance de dar consequência ao seu projeto”.

Nascemos submetidos a um meio social predominantemente branco, no qual nos é ofertado itens de mercado que se opõe a bagagem cultural do nosso povo negro fazendo-nos ficar sem perspectiva financeira e filtrar a  ideia de que “negro e dinheiro são inimigos”. Portanto, devemos começar a comprar de forma consciente visando promover o giro econômico entre a população afrodescendente, possibilitando igualdade na distribuição de renda e trazendo ainda mais valorização cultural. Desta forma, além de dar visibilidade a cultura negra e mostrar o seu potencial econômico, estaremos trazendo benefícios tais como: incentivo da profissionalização dentro da comunidade ao tornar a informação mais acessível, a motivação de futuros empreendedores que acabam impactando na geração de mais empregos e créditos e também no combate à discriminação étnica e social.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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