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Complexo do Alemão tem o ano de 2014 como o mais violento desde a ocupação de 2010

Desde que o Complexo do Alemão foi invadido e ocupado pela policia numa ação televisionada e mundialmente comentada nas Redes Sociais, jamais havia passado por um período tão violento. O ano de 2014 não começou bem para moradores e visitantes da comunidade. Entre agressões policiais, protestos, mortes de moradores e policiais baleados, dezenas de famílias ficam destruídas, comércio e investidores indo embora e uma sensação de volta ao passado. O desafio de nossa equipe de jornalismo foi estar no meio dos acontecimentos e tentar entender se existe, de fato um culpado nesta história. Esta dicil tarefa nos rendeu alguns ferimentos, quebra de nossos equipamentos e agressões que sofremos na pele, mas, trouxemos esta reflexão para vocês.

Mesmo para quem não mora em favelas do Rio, tem a certeza de que a pacificação ainda não chegou e que esta não depende só de confronto de policia com bandido, este pensamento é quase unânime. O que dá para afirmar é que a policia civil do Estado do Rio de Janeiro iniciou uma onda de investigações que resultou em prisões de diversas pessoas e isso iniciou outra onda, no Alemão: protestos em repudio às prisões. Moradores, parentes e amigos dos envolvidos afirmam que há inocentes dentre os presos. Já a policia, em estado de alerta com as manifestações que aconteciam por todo o Pais, combateram fortemente.


JOVENS PRESOS DIA 10 DE MARÇO. DIA 27 DE ABRIL MORRE DONA DALVA, INCÊNDIO DE ÔNIBUS, DEPREDAÇÃO DA UPA E DA AGÊNCIA DO ITAU

Pelo menos 100 pessoas que fecharam a Estrada do Itararé, discordam da versão da polícia quanto ao envolvimento de Kleyton da Rocha Afonso e Hallan Marcilio Gonçalves, com o tráfico de drogas. Reunidos na altura da Grota, os manifestantes fecharam a via com cartazes em protesto pacífico até que policiais militares começaram a dispersar a multidão com bombas, balas de borrachas e gás de pimenta. Estranhou-se, ainda, que mesmo após a multidão ser dispersa, policiais militares tenham iniciado novo confronto e mais de 2 horas de tiroteios no interior da comunidade. O Beco do Vivi, também no Alemão, foi palco da morte de Dalva Arlindo de Assis, 72, baleada ao proteger seu neto, Moradores revoltados, voltaram a fazer protesto na Estrada do Itararé até a UPA, onde Dona Dalva havia morrido. Policias do BOPE fizeram toda a escolta dos manifestantes.

E assim foi: a cada nova ação das forças militares, mais protestos e manifestações por motivos parecidos. No dia 28 de abril o protesto e o confronto foram além. Duraram cerca de 5 horas. Muitas bombas e tiros que viraram uma rotina nos meses de maio, junho e julho. Três ônibus incendiados nas Estradas do Itararé e do Timbó. Depredação da unidade de pronto atendimento (UPA) com destruição dos aparelhos eletrônicos, salas e todas as instalações que servem ao próprio público. A desordem parece trazer o caos e o caos, a incoerência.

Durante estes meses, quando as famílias do Alemão se reuniam toda noite, após o trabalho, na hora do jantar a conversa era a mesma: “O Carlos (Carlos Alberto Marcolino) foi baleado e levado às pressas pro Getulio Vargas da Penha, mas… passa bem. Muita sorte.”

Durante uma manifestação violenta com barricadas e incêndios que interditou a Avenida Itaoca, na altura da Nova Brasília, para impedir o acesso das viaturas militares ao local, uma agencia bancaria era incendiada, futuramente a agência sairia do alemão. No dia seguinte ao confronto que também durou cerca de 5 horas, o Governador Luiz Fernando Pezão e o Prefeito Eduardo Paes, junto com o Comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) Coronel Frederico Caldas, fizeram uma comitiva de imprensa e visitaram a UPA destruída. Dois médicos que trabalhavam na unidade pediram demissão.

Nilson Lopes Lima, 23, foi preso em 13 de maio, por Policiais da 45DP. Junto com ele, mais sete suspeitos. Em nome de Nilson, foi organizado um protesto pacifico sem desentendimento entre manifestantes e policias. Houve quem julgasse necessário ir às ruas e correr risco, em nome de Nilson e não dos demais. às diversas outras que se espalham pelo Complexo do Alemão como um aviso de que podem estar por vir, muitos e muitos passos para trás.


desafio de nossa equipe de jornalismo foi estar no meio dos acontecimentos e tentar entender o que aconteceu. A tarefa é difícil e rendeu quebra de nossos equipamentos e agressões que sofremos na pele mas, trouxemos a matéria para vocês.

A MORTE QUE MAIS CAUSOU REVOLTA, FOI A DO MOTO-TAXISTA CAIO MORAES DA SILVA

Após a prisão de Romário Moraes da Silva conhecido como “Romarinho” preso por policiais da 22DP da Penha, moradores e amigos fizeram um protesto na Estrada do Itararé pela prisão do acusado. O ato estava pacifico até que a policia recebeu ordem de desobstruir a via. Isso gerou confronto entre manifestantes e policiais e o jovem Caio Moraes foi baleado no peito enquanto levava um passageiro. Caio tinha 20 anos e dois filhos pequenos e morava com a família na comunidade da nova Brasília. Caio Chegou a ser socorrido por policiais da UPP levado à UPA do Itararé, mas não resistiu. Na mesma noite da morte de Caio, a policia entrou em confronto com traficantes da comunidade, um ônibus foi incendiado na Avenida Adhemar Bebiano próximo ao PAM de Del Castilho e um policial foi ferido na mão esquerda.

Durante o Decorrer dos meses os tiroteios ficaram mais frequentes, já não tendo mais horas para se iniciar. Muitas vimas surgiam semanalmente, desde vimas fatais e apenas feridos.
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Desde de o início do ano de 2014 cerca de 27 moradores foram baleados nas favelas do Alemão, dentre elas, treze ficaram feridas, atendidas em hospitais, pontos médicos e liberadas em seguidas, e quatorze delas morreram.

Somente no início do mês de outubro doze pessoas foram baleadas nas favelas do alemão. Das doze pessoas, três morreram, duas foram encontradas mortas em uma rua na fazendinha, e um, morto em um roteio na comunidade da sabino. Das doze vítimas, nove sobreviveram aos tiros, três policiais militares, e seis moradores da comunidade. Dos seis, quatro delas foram baleadas na mesma noite dentro da ocupação da antiga Fábrica de Plástico Tuffy Habib. A antiga fábrica é ocupada por populares desde março desse ano, cerca de duas mil pessoas vivem no local.

A onda de violência aterrorizou os moradores do Alemão, residências permaneciam fechadas, lojas e casas com placas de “vende-se”, o complexo do alemão era palco de uma das maiores guerras sendo televisionada mundialmente, o clima de tensão permanecia no dia a dia dos moradores.

As ondas de violência atingiram a todos, Militares, moradores, comerciantes e visitantes. Só esse ano, 46 Policiais Militares foram baleados em ação no alemão. Destes, três foram mortos e dezenove feridos.

Os meses mais violentos foram os de Abril no começo do ano, e o de novembro no fim, onde os índices de vímas são maiores. No dia 11 de setembro, o Capitão e comandante da Base UPP Nova Brasília localizado no alto do Morro da Alvorada, foi uma das 3 vímas fatais. Baleado, o comandante ainda chegou a ser socorrido pelos os companheiros de farda e lavado ao UPA da região, mas não resistiu aso ferimentos.

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Hoje, os tiroteios voltaram à rotina dos moradores. É comum ver os vídeos de moradores, postados na Rede Social do Jornal Voz da Comunidade, com os estampidos dos tiroteios a qualquer hora do dia e de noite.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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