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Independência, morte e a tal democracia

Neste mês de setembro gostaria de abordar “temas políticos”, apesar de gostar muito de escrever sobre comportamento. Os textos sairão aqui no Voz, alternando com outros lá no Site da Baixada. Toda semana um diferente.

Às margens plácidas do Ipiranga, um monarca herdeiro de uma fortuna resolveu gritar “independência ou morte”. Pois é, não foi um povo heróico soltando um brado retumbante não. Mas uma coisa é verdade: desde setembro de 1822 essa tal pátria mal amada desafia o próprio peito à própria morte.

Que a história do Brasil é totalmente zuada a gente meio que já sabe. O problema é que, além de pouca gente se atentar aos verdadeiros fatos, o país não aprende com seus erros. Estamos em 2016 assistindo de mãos atadas à violência da polícia de São Paulo contra os manifestantes. Os militares têm agredido muita gente ao seu bel-prazer e os tais “humanos direitos” que se julgam merecedores dos direitos humanos estão atropelando inocentes e clamando por governos golpistas – e olha que nem estou me referindo ao figurativo que atualmente governa. Apesar que neste exato instante o presidente do Brasil é o presidente da câmara, escolhido por 53.167 pessoas através do voto direto – o que deve dar menos que o bairro onde eu moro.

Opa, peraí.

A galera pede fora Dilma, fora Temer e fora todos. “Fora” virou a palavra da moda. E nessa de clamar por uma evasão de Brasília, a turma tá esquecendo que no meio do caos vence aquele que está mais organizado – que nitidamente não é o povo, não é a classe artística e nem a classe de intelectuais. Somos um país onde o vídeo do Livinho, aquele do “tá safada né? tá gostosa tá?”, tem 20 milhões de visualizações, enquanto o vídeo oficial do desfile de 7 de setembro não chegou nem a 300 visualizações. Então por favor, não me venha falar de civismo, nacionalismo, nem nenhuma outra cutcharra que defende o país mais alegre do mundo.

Isso mesmo, “cutcharra”.

Porque vivemos numa democracia que nunca, jamais defendeu o povo. Somos uma nação que foi explorada por uma família (Orleans e Bragança) e que vive até hoje explorada por um punhado de famílias. Inclusive Petrópolis tem um arrego imperial aí, tal de “laudêmio”, em pleno século XXI. Esse papo de “democracia” é pra boi dormir, pra inglês ver, pra você aceitar que tá tudo bem enquanto não vivemos num “governo do povo” não. Nunca foi assim, nem nos tempos do Lula. Porque “governo de coalizão” é uma maneira simples de dizer que o presidente fechou com o bonde na churrascaria e a tomada de decisão vai ser mais fácil. A galera desce um Black Label enquanto decide como você, querido leitor, vai pagar sua casa e montar a sua vida.

Mas o que é mesmo preocupante, sinceramente, não é o fato de continuarmos sendo governados por meia dúzia. O problema mora nessa falsa ilusão que precisamos derrubar todo mundo e que vai nascer uma nova nação. Esse sentimento falso de que agora as pessoas falam de política na mesa do bar e que agora falamos da democracia e que estamos nos mobilizando. Mobilizando nada, porque teve Copa e teve Olimpíada pra caraca. Mas muita mesmo, chega a sobrar. Tá tendo até agora, inclusive. E nem preciso dizer quem pagou essa conta pros gringos trazerem seus euros, que convenhamos, não cobriram o déficit do estado pra pagar suas próprias contas.

A gente tá é tomando porrada da polícia.

Seja na manifestação, seja nas esquinas da periferia, a polícia tá descendo a lenha em todo e qualquer um que não concorde com o governo. Eu já não tenho direito de chegar em casa depois das 19h porque posso ser assaltado. É porrada de todo lado e a gente tá escrevendo textão na internet.

O preço da tal da democracia é um povo nitidamente manipulado por um grupo de cinco ou seis caras, que mandam em uns 250 outros, que foram escolhidos por uma nação. A democracia foi feita para escolher quais são os nossos verdadeiros patrões e a gente tá batendo palmas pra um sistema falido, que constrói uma hierarquia bizarra onde a população escolhe quem vai ganhar muito mais grana do que a maioria com poderes de aumentar o próprio salário e direcionar verbas pra onde quiser sem a necessidade de consultas populares.

E não mete essa de “lava-jato”, porque o problema do nosso carro não é sujeira. Ou melhor, é tanta sujeira que não adianta mais lavar.

Mas só de pensar na taxa de juros pra comprar um carro novo, a gente segue na gambiarra mesmo.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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