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OPINIÃO | A era do feminino: por quê estamos falando tanto do feminismo?!

Já no início deste artigo me proponho a quebrar alguns tabus sobre o feminismo, então, se você acredita no feminismo como o contrário do machismo, como uma fase e “modinha” social ou ainda pela busca de igualdade entre homens e mulheres, este artigo é para você. Precisamos conhecer melhor o feminismo!

O conceito de feminismo pode ser entendido como a ação política das mulheres, que atuam como sujeitos de sua própria transformação social. Ou seja, uma luta contra a opressão que insiste manter os homens no poder de tomar decisões e realizar escolhas em nome das mulheres, interferindo no direito humano à liberdade e ao livre arbítrio. Desta forma por meio de ações individuais e coletivas as mulheres garantem direitos de se expressarem de um modo geral, seja na arte, na teoria ou na política.

Desde já é importante compreender que o feminismo deveria ser definido não como uma luta de igualdade mas como uma luta contra a opressão, uma luta que reconhece que a opressão não está ligada apenas à discriminação de gênero, mas que também se expressa no privilégio de classes sociais, no racismo e na negação de toda sexualidade que que não seja heterossexual. Assim é preciso entender o feminismo como um movimento plural e não universal, tendo em vista a diversidade entre as mulheres, sobretudo diante dos privilégios. É preciso entender que há um feminismo negro, um feminismo branco e um feminismo indígena. Cada um com suas particularidades.

Quando tudo começou…

Para conversarmos melhor sobre o feminismo é preciso entender um pouquinho sobre o seu percurso na história. As tendências do movimento feminista tiveram início no final do século XIX, o que já descarta a ideia sobre modinha passageira, e sua principal proposta era a libertação da mulher e não apenas sua emancipação. Isso significa que as reivindicações buscavam afirmar a mulher como um indivíduo autônomo e independente perante suas ações e escolhas, procurando equiparar-se aos homens em direitos jurídicos, políticos e econômicos. Sim, como já dizia Sérgio Britto e Arnaldo Antunes: “a gente não quer só comida, a gente tem desejo, necessidade e vontade.”

No Brasil, a primeira onda do feminismo ocorreu de maneira pública por meio da luta pelo direito de voto por volta de 1910. Nessa onda, além da reivindicação de direitos políticos se reivindicava também as condições de trabalho das mulheres operárias, submetidas a desumanas jornadas de trabalho e abusos. Infelizmente o movimento perdeu força nesta época e no Brasil só foi possível retomar mais profundamente o movimento na década de 70, quando em resposta à opressão do regime militar e da ditadura ocorreram as primeiras manifestações feministas.

Com a progressão das lutas feministas, a década de 90 abordava um conjunto de assuntos muito mais amplos relacionados às lutas das mulheres como: violência, sexualidade, direito ao trabalho, igualdade no casamento, direito à terra, direito à saúde materno-infantil, luta contra o racismo e opções sexuais.

Ainda navegando pela história é fundamental citar alguns grandes marcos para os movimentos feministas, como:

  • A criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM), em 1984, que impulsionou que a Constituição de 1988 fosse uma das que mais garante direitos para a mulher no mundo;
  • A manutenção desse conselho no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a criação da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres;
  • A criação das Delegacias Especiais da Mulher sob  a Lei Maria da Penha (Lei n. 11 340, de 7 de agosto de 2006), que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher;
  • As duas Conferências Nacionais para a Política da Mulher, ocorridas em 2005 e 2007, que mobilizaram mais de 3000 mulheres e produziram documentos importantes de análise sobre a situação da mulher no Brasil.

Mas afinal por quê temos falado tanto sobre feminino?!

Como você pode ter percebido com sua leitura até aqui, o feminismo como movimento social e luta por direitos vem de muito tempo, e vem conquistando aos poucos seu lugar de fala nas sociedades. Porém, talvez em nenhuma outra época o feminino tenha sido tão debatido, e talvez não soubéssemos tantas coisas sobre esse universo ou ainda não tivéssemos compreensão sobre as urgências que possuíamos em debater sobre assunto.

Fato é, que a representatividade das mulheres e da pauta sobre as mulheres nos meios de comunicação vem aumentando expressivamente, e agora não dispensamos o direito de contar e questionar nossas próprias histórias, mostrando que não precisamos que uma voz nos seja concedida mas sim que a possuímos e temos muito a dizer.

Foto - Usplash - Sharon McCutcheon
Foto – Usplash – Sharon McCutcheon

E assim surgem novas perspectivas e as mulheres, lésbicas, negras, bi e trans, não vão mais se calar. Assim vamos ganhando espaços e nos fazendo presente diante das pequenas vitórias contra o machismo, o racismo e a lgbtfobia. Vamos quebrando novos paradigmas e já não aceitamos as verdades enfiadas garganta abaixo sobre a superioridade do gênero masculino a partir do discurso de força física e racionalidade, pois sabemos que precisamos de muito mais do que isso para a construção de um mundo fraterno, solidário e igualitário.

Nossa sociedade está repleta de feridas, que apenas racionalidade e força física não são capazes de curar, precisamos repensar as coisas pela esfera do lado emocional e aos poucos os valores do feminino vão se encaixando perfeitamente ao nosso cotidiano. Isso vai para além do fato de ser mulher, isso é sobre gentileza, empatia e respeito. É sobre repensar os modos de vida, como temos conduzido nossas trajetórias e o que realmente queremos fazer. A era do feminino traz o autoconhecimento como pauta fundamental e com isso nos permitimos a ser mais felizes, tanto homens quanto mulheres. Sem o peso da lógica que automatiza as pessoas vamos criando conexões com os nossos sentimentos, nossa saúde, mente e alma.

O feminino impulsiona o feminismo, assim como o feminismo impulsiona o feminino. São forças que juntas prezam por um mundo melhor, mais justo e coerente. Eu espero que após essa leitura você possa compreender um pouco melhor sobre o feminismo e sobre a importância dessa luta, e que traga para o seu dia a dia situações em que repense o quanto essas lutas possam ter impactado a sua própria vida e que entenda que você é seu próprio lar. O caminho ainda é longo, mas é preciso estar atenta e forte. Ainda há tempo!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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