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Porque não apoiei nem vou apoiar nenhum candidato

Sobre a farra das eleições municipais e o reforço da descrença no sistema

Que temos muitos políticos corruptos, todo mundo sabe. Que tem um monte de candidato incapaz, a gente também sabe. A gente precisa conversar um pouco mais profundamente e direcionar o debate político para a construção e manutenção da sociedade, não para a disputa de partidos e a concorrência eleitoral.

Todo ano eleitoral é a mesma coisa: candidatos me chamam pra tomar um café, pra trocar ideias, pra dizer que quer a mudança e tudo mais. Pra eles conseguirem a mudança, só precisam do seu apoio, da sua ajuda pra trazer um, dois, dez, cem votos.

Blá blá blá.

Até hoje NUNCA recebi um material de campanha pra ler. NUNCA tive acesso a propostas concretas de uma pessoa que se preparou para governar a minha cidade – ou meu estado, meu país… Jamais fui abordado seriamente para uma troca de ideias e um debate razoável sobre as maiores necessidades que meu setor tem. As raríssimas vezes que aceitei sentar numa mesa com um candidato para conversar, só ouvi reclamações, ideias sem muito planejamento e frases bonitas. Sempre com um “tamo junto” no final, claro.

A conversa vazia dos candidatos é tão grande, mas tão grande, que teve um inclusive que deixou no ar que eu poderia vir numa eleição a vice-prefeito. Confesso que senti até uma dor no estômago diante dessa promessa nitidamente falsa. Promessa de cargo em governo já recebi também. Cada um vende seu voto como quer, mas tem umas pessoas que não estão dispostas a negociar, mesmo que isso signifique votar nulo pra não votar errado.

Gente, me xinga mas não ofende meu intelecto, por favor.

Mas o que mais me chateia não são os caras-de-pau que me abordam pra oferecer mundos e fundos. Pior ainda são os picaretas que abusam da sua popularidade para conquistar votos. Nitidamente não vão assumir o cargo que se propõem a disputar, mas seus votos vão para os partidos que colocam gente desconhecida pra representar o povo.

No nosso atual modelo eleitoral, ganha quem tem mais votos – não quem tem os melhores planos de governo.

Por mais que a galera se manifeste contra o Temer, contra o Lula, contra a Dilma e contra todos, continuamos sendo uma fábrica de Eduardo Cunha. Não estou falando apenas dos candidatos – estou falando do sistema mesmo. Nós continuamos condicionados a dar poder a meia dúzia de pessoas, numa metodologia que permite alguém com menos apoio popular e mais influência de bastidores assumir cargos eletivos.

Tudo isso poderia ser diferente se as manifestações começassem antes de um incompetente assumir um cargo. Se a sociedade pressionasse para que os processos fossem mais transparentes e os candidatos disponibilizassem, desde seu primeiro dia de corrida eleitoral, os seus planos de governo e que eles se tornassem compromissos sérios em caso de vitória no pleito. Se houvessem cronogramas claros, com projetos desenvolvidos para serem cumpridos tanto no período do mandato quanto os de longo prazo, para um caso de reeleição – caso mereçam um novo voto de confiança.

Mas enquanto os políticos preferirem suas paródias ao “bumbum granada” ao invés de informar com clareza suas plataformas, nós continuaremos aqui, reclamando no Twitter e aceitando frases aleatórias que achamos ser propostas de leis mas na verdade são apenas reafirmações de ideias que a gente já tá cansado de ouvir.

As eleições tão tipo bomba e os políticos tipo granada.

Vai, taca.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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