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Educação, alimentação, lazer, acessibilidade. Direito de todos?

Mineiros e seus habitantes que sobrevivem em meio a valas e promessas

O Morro dos Mineiros, localizado próximo a Serra da Misericórdia, como muitos locais, tem suas casas construídas em cima de valas, lixões a céu aberto, falta de lazer, falta de acessibilidade e muitos outros problemas. Famílias com pouca ou nenhuma estrutura, sobrevivendo de doações e auxílios do governo, que não suprem as necessidades, como o caso que é a capa desta edição.

O quintal é coberto por muito lixo e esgoto. Quem mora alí é obrigado a conviver com ratos, baratas e outros insetos - Foto: Bento Fabio
O quintal é coberto por muito lixo e esgoto. Quem mora alí é obrigado a conviver com ratos, baratas e outros insetos – Foto: Bento Fabio

Esmeralda mora em um ponto alto do Morro dos Mineiros e expressa um olhar de quem não sabe por onde começar. Esmeralda das Dores Pereira, 40 anos, é o que consta em seus documentos. Mãe de 5 filhos: José Henrique, 14, Flávia Cristina, 16, Samuel, 9, Leonardo, 5, e uma bebê de 1 ano e 1 mês.

“É um sacrifício morar no Mineiros. Além dos tiroteios, é vala para todo lado e ninguém toma uma providência. As crianças brincam no meio do lixo, do esgoto, gambá, ratos mortos. Aqui sempre foi assim. Em dia de chuva parece cachoeira. Não posso sair de casa e fico com medo de desabamento, por causa dos barrancos.“

A família de seis pessoas reside em uma casa só de tijolos, com um grande quintal composto, em sua maioria, por lixo, barro e bichos mortos. Olhando ao redor, é possível observar os barrancos que cercam a casa e os assusta. Entre seus componentes, uma adolescente grávida que sofre de epilepsia. Flávia Cristina conseguiu tratamento em um posto de saúde e toma remédio controlado, porém, quando passa mal a mãe fica em apuros, a passagem até a emergência mais próxima custa R$5,00 e raramente a família possui esse valor. Dos cinco filhos, apenas dois, Samuel e Leonardo, estão na escola.

A falta de vagas em torno do Morro dos Mineiros é muito grande e as escolas mais próximas tem vagas muito concorridas, dificultando a vida de quem mora no local. Os outros filhos passam o dia na rua e, provavelmente, a história irá se repetir ano que vem.

Lixões a céu aberto, falta de lazer, falta de acessibilidade e muitos outros problemas fazem - Foto: Bento Fabio
Lixões a céu aberto, falta de lazer, falta de acessibilidade e muitos outros problemas fazem – Foto: Bento Fabio

“Eu sou mãe e pai. É muito dicil, uma luta diária. Não trabalho, sobrevivemos com o bolsa família. Muitas vezes a gente não tem o que comer e eu fico atrás de doações. Vou em igrejas, feiras, certos locais. Na época de eleição, começaram algumas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e pararam. É a realidade do abandono”, lamentou a mãe.

Mais uma família que tem seu possível destino já traçado e não chama a atenção de ninguém

Uma senhora de 70 anos, que preferiu não se identificar, deu sua opinião ao Voz da Comunidade: “Quando cheguei aqui, as casas já eram em cima de valas mas não tinha luz, não tinha água encanada. Na minha casa, com o passar dos anos, essas coisas que são básicas, chegaram. Mas sei que lá pra cima, muita gente ainda vive assim, sem nada. Só queremos melhorias, ter uma luz e água em casa não é luxo, é necessidade.”

Mineiros, Capão, Favelinha da Skol, Inferno Verde e outros são lugares que têm sido notícia em nosso jornal todos os meses. Situados no Complexo do Alemão, mas que repetem os problemas de diversas favelas, periferia se comunidades espalha das pelo mundo. O sofrimento e as dificuldades são iguais, mesmo quando são diferentes. Ao olhar para esses locais, a primeira ideia é o que falta e não o que sobra. O que se torna estranho, pois não medimos nada pelo que não existe, e sim, pelo que é.

Infelizmente, além de mostrar os empreendedores, o ativismo, a beleza do Garota e Garoto da Favela, sabemos que temos o papel de denunciar cada problema social que o poder público finge não ver.

‘Quando cheguei, as casas já eram em cima de valas e não nha luz nem água encanada. Na minha casa as coisas que básicas chegaram. Sei que lá pra cima, muita gente ainda vive assim, sem nada.’ - Foto: Bento Fabio
‘Quando cheguei, as casas já eram em cima de valas e não nha luz nem água encanada. Na minha casa as coisas que básicas chegaram. Sei que lá pra cima, muita gente ainda vive assim, sem nada.’ – Foto: Bento Fabio

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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