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Contribuição das favelas para o clima do planeta

Medidas para melhorar o clima do mundo não deve ser apenas pauta nas convenções das Nações Unidas ou compromissos no Protocolo de Quioto. Atitudes assim é responsabilidade de cada cidadão, de cada organização civil, privada ou governamental. É um projeto nosso e nada melhor que seja um iniciativa individual e coletiva a todo momento.

Um exemplo disso é o projeto de reflorestamento da ONG Verdejar, situada na Zona Norte no Complexo do Alemão, que desde 1990 trabalha sensibilizando jovens com mutirões para manter as matas protegidas de incêndio, construindo aceiros para diminuir o avanço do fogo quando acontece queimadas e impedir invasões habitacionais por grileiros, traficantes e imobiliárias. O projeto, fundado por Luiz Carlos Matos Marins, conhecido como Poeta, tem como principal trabalho a recuperação da Serra da Misericórdia (maior área de Mata Atlântica na Zona Norte do Rio), que era, em sua grande parte, devastada pela mineração de granito e ocupações sem planejamento.

As atividades de reflorestamento, são fundamentais por promoverem a redução do gás carbônico da atmosfera, diminuindo a concentração deste gás, poluente nocivo a saúde e ao meio ambiente. A retirada do gás carbônico da atmosfera é realizada graças à fotossíntese, permitindo a fixação do carbono na biomassa da vegetação e nos solos. Conforme a vegetação vai crescendo, o carbono vai sendo incorporado nos troncos, galhos, folhas e raízes, cerca de 50% da biomassa vegetal é constituída de carbono.

O projeto do Verdejar está focado no reflorestamento e na preservação da Serra da Misericódia, que faz parte de uma área verde na comunidade Sérgio Silva, extensão do Complexo do Alemão. Reflorestar significa implantar  florestas em áreas naturalmente florestais que, por alguma ação antrópica ou natural, perderam suas características originais. Sendo assim, existe dois tipos de reflorestamento: Replantar em um lugar na qual houve devastação uma mata diferente da mata nativa da região ou a regeneração que é replantar a mesma mata que foi devastada. A regeneração é considerada a melhor forma de reflorestamento.

Serra da Misericódia e a importância da sua preservação

A Serra da Misericórdia abrange cerca de 43,9 km2 no município do Rio de Janeiro, e está localizada após uma faixa de baixada de aproximadamente 6 km a norte do Maciço da Tijuca e 3 km da costa oeste da Baia de Guanabara no ponto mais próximo de seu relevo: o bairro da Maré.  O maciço da Misericórdia chega a aproximados 260 metros de altitude em seu pico culminante a Serra do Juramento. E estende-se por 27 bairros do subúrbio carioca: Abolição, Bonsucesso, Brás de Pina, Cavalcante, Cascadura, Complexo do Alemão, Del Castilho, Engenho da Rainha, Higienópolis, Honório Gurgel, Inhaúma, Irajá, Madureira, Olaria, Penha, Penha Circular, Piedade, Pilares, Ramos, Rocha Miranda, Tomas Coelho, Turiaçu, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos e Vista Alegre.
A Serra está dentro da macrobacia hidrográfica da Baia de Guanabara. E destacam-se como principais corpos hídricos da região: O Canal do Cunha, o Canal da Penha, os rios Jacaré, Faria, Timbó (que tem suas águas enriquecidas por inúmeros afluentes na Serra da Misericórdia), Faria-Timbó, Cachorros (com suas nascentes na Misericórdia), Irajá e Ramos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE – 1996), viviam cerca de 897.797 habitantes inseridos nos bairros na região da Serra da Misericórdia, atualmente vivem muito mais. A maioria desses habitantes vive nas favelas existentes ao redor,  destacando-se Complexo do Alemão, Complexos da Penha e Juramento.

Antes da conquista da APARU (Àrea de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana) estabelecida pelo Decreto n.º 19.144, de 14 de novembro de 2000, não havia nenhum controle sobre a poluição dos bairros circundantes ao maciço da Misericórdia. Hoje infelismente ainda há a presença de três pedreiras com  exploração mineral de jazidas de granito na região, com emissão de poluentes atmosféricos, destruição de nascente, explosões que provocam rachaduras em casas próximas à pedreira. Por consequência, transportando metais pesados e detritos orgânicos para a Baía de Guanabara, com isso durante os períodos de chuvas fortes, lança-se grande olume anual de sedimentos através dos rios e canais que deságuam na Baía de Guanabara, provocando o assoreamento e muitos rios da região acabam virando valões devido a falta de saneamento básico.

Com a perda da vegetação original, houve a destruição da estrutura do solo que é necessária à sua agregação e firmeza, causando a impermeabilização, ressecando os rios que dependem da vegetação e a aceleração da erosão e do assoreamento, grande causador do aumento de inundações e alagamentos, pondo em risco muitas comunidades que viviam nas encostas.

Atualmente a Serra da Misercódia é considerada Parque e área de preservação ambiental desde 16 de dezembro de 2010 com o Decreto nº 33280, que nomeou o Parque Municipal da Serra da Misericórdia como Parque Municipal Urbano da Serra da Misericórdia e estabeleceu seus limites. “Art. 1.º Fica renomeado o Parque Municipal da Serra da Misericórdia como Parque Municipal Urbano da Serra da Misericórdia, com 240,91 ha, situado na Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana – APARU – da Serra da Misericórdia, na AP 3, estabelecida pelo Decreto n.º 19.144, de 14 de novembro de 2000, conforme delimitação constante no Anexo Único do presente”.

Isso significa que o local será destinado: ao lazer, À prática esportiva, À recreação em meio à natureza, a promoção da educação ambiental e valorização das manifestações culturais e tradições locais e a ações de proteçao  às áreas de reflorestamento, à fauna, mananciais e nascentes d’água existentes no local.


O trabalho do agente ambiental nas Favelas Cariocas

O trabalho de agente ambiental foi estabelecido pela secretaria municipal de Meio Ambiente, com o objetivo de atender favelas cariocas, que possuam alguma ação de reflorestamento e preservação ambiental. O agente ambiental tem como função multiplicar informações sobre meio ambiente na comunidade. E conscientizar moradores que moram perto das áreas de preservação a não jogarem lixo no local. O trabalho do agente abrange também palestras nas escolas sobre preservação ambiental, gravidez na adolescência, higiene, doenças sexualmente transmissíveis, drogas e bullying.

Leandro Cristiano dos Santos, conhecido como Urso, agente ambiental na Rocinha e na Vila Parque, explica sobre a dificuldade que é conscientizar os moradores. “Na rocinha já teve quatro rios, mas hoje não tem mais. O sanemento ia todo para esses rios e hoje é um grande esgoto. O que falta é o morador ter educação, tem lugares que a pessoa joga lixo na sua frente do lado onde você acabou de limpar”, conta.

Na favela da Rocinha o responsável geral pelo reflorestamento é o Senhor Adilson. Na região existem três áreas de reflorestamento, uma delas, a área da Macega, que ja tinha passado por um processo de reflorestamento, depois foi ocupado por casas e depósito de lixo novamente e agora está sendo desocupada e reflorestada de novo. Muitos moradores construíram depois dos ecolimites, que são placas de aço que sinalizam risco e áreas de preservação. “Eles violaram essas regras de construção por causa da falta de moradia de  baixo custo e agora estão sendo obrigados a sair e recebendo indenização por isso”, explica Leandro.

Atualmente no valão da Rocinha possui um sistema de coleta de matérias recicláveis, criado pelo antigo presidente da Associação dos Moradores, Sr. Lima. O local compra materiais recicláveis, a preço de mercado, como: lata, cobre, garrafas, metal, motor de geladeira e alumínio. E repassa para uma fábrica em Bonsucesso. Mas nem todo mundo quer colaborar com essa mudança, afirma Leandro, lembrando de uma história triste que vivenciou na Rocinha: “Chegamos em um lugar de depósito de lixo para limpar e o morador saiu de lá bravo dizendo que não queria que o agente limpasse. Eu perguntei o porquê, e ele disse que daquele lixo ele tirava o alimento dele. Ele tinha feito várias tocas para capturar camundongos e ratos”.

O estado do Rio de Janeiro faz parte do bioma da Mata Atlântica Brasileira e tem em seu relevo montanha e baixadas localizadas entre a Serra da Mantiqueira e Oceano Atlântico. O Rio destaca-se por suas paisagens diversificadas com escarpas elevadas à beira-mar, restingas, baías, lagunas e florestas tropicais.  Com o aumento da população com o passar dos anos e as ocupações irregulares em área de preservação, surge cada vez mais a importância de ações governamentais e das atuações de movimentos sociais   prometidos com a preservação dessa biodiversidade. Entendendo que,  no Rio de Janeiro essa preservação envolve questões bem mais profundas como: falta de moradia digna de baixa custo, favelas e desigualdade social.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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