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Moradora relembra promessas não cumpridas na comunidade do Capão

#4AnosDepois: Equipe do Voz retorna ao Capão e conversa com moradores sobre o que mudou na favela

Após anos o cenário não é mais o mesmo, e sim, pior. A comunidade do Capão que fica no Complexo do Alemão é uma das mais afetadas pela falta de assistência do poder público e carrega o rótulo de abandono.

Passado

Antes, moradores acreditavam que a localidade receberia mais investimentos do governo para sanar os problemas de saneamento básico existentes, já que um dos pilares que sustentam os cabos de aço do teleférico seria instalado na região. Uma obra aqui, outra ali, quando tudo ficou pronto, restou uma área onde o acúmulo de lixo (que sempre foi um problema da região) que era da rua á cima desceu e começou a ocupar o espaço que fica no pé da torre instalada.

Foto da Matéria de 16 de Outubro de 2015 : “Lazer e Capão: duas palavras que precisam combinar!”

“O pouco que fizeram, foi uma maquiagem. Dei uma entrevista para o “Parceiros do RJ” e algumas semanas depois vieram aqui e taparam algumas coisas com cimento, mas quando chove, parece que piora. O que tinha de ser resolvido, não foi!” – Disse Andréia Soares em um relato ao jornal Voz das Comunidades em 9 de julho de 2015.

Em resposta a matéria, na época, a COMLURB emitiu uma nota: “A Comlurb, por meio da Gerência de Limpeza do Alemão, realizou agora à tarde (25/07) vistoria no local e constatou que a comunidade se encontra limpa e quanto aos terrenos citados, alguns estão cercados e outros com obras. Não estão abandonados e nem com lixo. A coleta domiciliar na Comunidade do Capão é realizada diariamente, de segunda a sábado, em dois turnos e aos domingos, pela manhã. Para atender melhor a comunidade foi instalado no local um ecoponto com duas caixas metálicas, para entulho de obras e móveis imprestáveis, além de uma caixa compactadora para receber o lixo comum. As caixas são limpas diariamente. Pede-se a colaboração dos moradores para que mantenham a comunidade limpa, não depositando seu lixo em local indevido e respeitando os horários de coleta domiciliar.”

Em outubro do mesmo ano, a moradora Andréia Soares novamente ao jornal Voz das Comunidades relatou: “A Comlurb, junto com o presidente da Associação da Nova Brasília, fizeram a limpeza. Porém, nada mais foi feito. Na maioria dos terrenos em torno do teleférico, o espaço não é utilizado. Temos certeza de que, se isso ficar sem nenhuma atividade, o local volta a ser lixão.”

Presente

Agora, além do local ter se tornado um imenso lixão, o matagal tomou conta de todo espaço que antes era a passagem mais rápida para quem cortava caminho para chegar na Alvorada. “Esse caminho é o mais rápido pra chegar porque tenho problema na perna e por aqui é melhor pra passar, mas com todo esse mato e esse lixo fica difícil. Meu filho nasceu em 2010 e já tinha o teleférico, quando vocês fizeram a primeira matéria ele ia fazer 5 anos, agora, já vai fazer 9. Depois que eles cercaram essa área aqui, tinha funcionário da COMLURB que começou a jogar lixo aqui pra baixo quando varria a rua de cima, com isso, ainda tinha gente que passava, via aquele monte de lixo e achava que era área pra descarte.” – Denuncia Débora França, moradora do Capão que ainda sofre com o descaso.

Questionada sobre as medidas que a Comlurb em nota disse ter tomado no ano de 2015 a entrevistada completou dizendo: “Nunca vi essa caixa metálica, é aquela grandona? pra por entulho e o caminhão recolhe? Nunca vi essa caixa aqui! Resumindo, eles botaram a culpa na gente, eles só capinaram, tiraram o lixo e deixaram o barro pra crescer tudo de novo.”

Andréia Soares que foi entrevistada na primeira matéria sobre o Capão, ainda acompanha e participa da luta da comunidade em busca de uma qualidade básica de vida. Em relato ela pontuou os perigos que os moradores estão a mercê por conta do descaso.

“Eles não colocaram caixa de metal alguma aqui, fizeram foi um muro que desabou e que quase acertou eu e a mãe do meu conhecido. As pessoas abandonam animais e as vezes jogam bicho morto aqui, até cobra já apareceu! A noite ninguém gosta de passar aqui, com o mato dessa altura invadindo o caminho. Já aconteceu de uma menina cortar o rosto no capim’’ – Disse Andréia.

Depois de 4 anos, moderadora mostra que nada mudou no Capão. Foto: Vilma Ribeiro/Voz das Comunidades

Procurada para esclarecimento a Comlurb em nota disse : “A Comlurb informa que vai vistoriar a área do Capão, no Complexo do Alemão, para programar o serviço de roçada. A coleta de lixo domiciliar é feita diariamente, pela manhã e à tarde, no entorno da estação do teleférico. Os moradores também levam o lixo domiciliar para o ecoponto na Praça do Terço, onde há uma caixa compactadora para lixo e duas caixas estacionárias para receber entulho de obras.

Futuro

Com esperança em possíveis melhorias, os moradores acreditam que os terrenos com lixo podem ser cimentados e utilizados para lazer através da criação de uma praça, já que a comunidade carece desse espaços atualmente. “As crianças jogam bola no meio do caminho, perto do esgoto. A trave do gol deles é a minha parede mesmo tendo esse espaço aqui sendo ocupado por mato e lixo” – Disse Andréia sobre as opções de lazer que o Capão possui.

Apelidada como “Terra do Nunca” por conta do abandono, a localidade segue aguardando pelo dia em que o poder público chegue com sua assistência e descubra essas terras.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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