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Tim Lopes morreu há 10 anos atrás, e ainda hoje jovens continuam morrendo nas favelas

Nesse sábado completa 10 anos que o  Jornalista Arcanjo Antonio Lopes do Nascimento, mas conhecido como Tim Lopes,  foi assasinado no Complexo do Alemão. Diante disso a irmã de Tim junto com uma Organização Não Governamental (ONG) do Alemão, realiza hoje um evento que pretende trazer a lembrança dos brasileiros a memória do jornalista e organizar um ato simbólico com todas as famílias que já tiveram casos de violência, que foram vítimas ou sofreram com perdas. Nesse caso são milhares de mães, mulheres viúvas, crianças orfâs, famílias pela metade.

A  ideia foi estender um varal no Campo do Sargento, no Alemão e pendurar 3.653 lenços referentes a quatidade de dias que passou desde a morte de Tim Lopes. Durante o evento aconteceu diversas ações como: retiradas de documentos, odontologia, certidão de nascimento, assessoria jurídica, entre outros. Além disso, moradores e convidados fizeram uma caminhada até a parte alta do morro do Alemão, próximo a CUFA (Central Única das Favelas), local onde foram encontrados os restos mortais do jornalista.    

Toda essa comoção por causa da morte de Tim Lopes me encomoda, não que ele não mereça ser lembrado, não que a morte dele não importe. Somos até colegas de profissão…

O que me incomoda é toda essa fala  em cima da vida de uma pessoa, se  esquecendo que muitos outros já  morerram e ainda morrem nas favelas cariocas. A maioria jovem e negro, morador de espaços populares. E eu não vejo citar nomes na TV, eu só vejo citar números. Esses jovens, nunca são reconhecidos como crianças, cheias de sonhos, jovens buscando um lugar ao sol. Eles são sempre taxados como possíveis marginais em potencial, suspeitos.

Quantas vezes eu já escutei um anúncio de morte  no jornal seguido de uma fala sempre clichê : “jovem é morto na comunidade tal, suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas” . Como se um possível envolvimento justificasse a morte dele. Ah é me esqueci,  a justificativa sempre é que a morte foi numa provável troca de tiros e nunca por queima de arquivo.

Mas o que mais me incomoda é que a sociedade brasileira e o governo hipocritamente responsabilizam o varejo de drogas na favela por toda essa violência se esquecendo (propositalmente), que quem financia esse sistema corrupto são aqueles que trazem as armas para a favela, que trazem drogas em grandes quantidades para o morro e que facilitam a entrada desses produtos ilegais nas fronteiras brasileiras.

Eles se esqueceram que o maior culpado  da morte de Tim Lopes e de outros milhares não mora na favela!

Fotos: Michelle Beff


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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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