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Faróis acesos para o desperdício

Ao sol do meio-dia, com céu azul, sem nuvens, num dos tradicionais congestionamentos quilométricos de uma capital brasileira, quase todo os carros estão parados, com seus faróis acesos. Não, os motoristas não esqueceram a luz acesa da noite anterior. Eles também não estão com qualquer problema de visão que os faça imaginar que o sol a pino de um dia claro não seja suficiente para iluminar a estrada. É apenas mais uma lei brasileira que, no mínimo, ignora qualquer noção de bom senso existente.

Agora os motoristas são obrigados a andar sempre com os faróis dos seus carros acesos, mesmo que durante o mais claro dos dias, nas rodovias brasileiras –inclusive em seus trechos urbanos. Alguns países, como a Noruega e a Finlândia, já adotavam essa medida. Mas por uma razão bem clara: lá, devido à localização geográfica, em muitos dias do ano o sol não chega nem a aparecer, e a escuridão domina as manhãs e tardes. Definitivamente não é o nosso caso. A medida já era obrigatória por aqui dentro dos túneis (de onde nunca deveria ter saído), devido à falta de luminosidade no interior dos mesmos.

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A justificativa para a obrigatoriedade desse desperdício de combustível generalizado – sim, deixar os faróis acesos faz com que o carro gaste mais gasolina!– é o fato dele supostamente aumentar a segurança e evitar acidentes de trânsito, por tornar mais fácil de visualizar os veículos na pista. Os defensores da decisão se apoiam em estudos que comprovam o benefício. O problema é que esses estudos foram realizados nos países escandinavos, em dias de inverno: é claro que, num lugar onde os dias são escuros, faróis acesos vão ajudar. Além disso, os mesmos estudos demonstram que a efetividade dos faróis acesos durante o dia diminui à medida que aumenta a luminosidade natural do ambiente, como era de se esperar. Estudos comparativos mostram que os faróis ligados de dia são três vezes menos eficientes na prevenção de acidentes nos Estados Unidos que nos países nórdicos. Imagine um estudo desse tipo num dia ensolarado no Rio de Janeiro: o farol não faz diferença alguma. A única diferença prática entre o farol aceso e o apagado, de dia, é que, na primeira opção, o gasto de combustível, e, consequentemente, a emissão de poluentes, serão muito maiores. Quem paga o preço é o motorista -e o meio ambiente.

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Qualquer indivíduo habilitado para dirigir deve ter o mínimo de capacidade visual necessário para tal. É por isso que são feitos exames de visão para tirar ou renovar a carteira de motorista. Dessa forma, é pressuposto que qualquer motorista consiga enxergar, com perfeição, outro veículo a caminho na pista durante o dia. Se o farol está aceso ou apagado, pouco importa. E nem poderia importar: é leviano imaginar que o farol de um carro ilumina mais que o sol forte brasileiro num dia de verão.

AUTOR:

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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