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Abafando em Paris – #ColunistaConvidado

Escrito por:  Regina Casé – Atriz e apresentadora de televisão

Todos os trabalhos que nós fizemos, como “Minha Perifeira”, “Programa Legal”, “Central da Periferia”, “Brasil Legal”, “Minha Periferia é o Mundo”, sempre que entramos numa favela foi para mostrar o que de mais legal estava acontecendo ali. Nunca fomos ingênuos, sempre soubemos que é na periferia que mora a injustiça e o descaso. Também moram milhões de pessoas que trabalham sem parar, que têm idéias incríveis, trazem o novo, fazem arte, produzem uma cultura potente, forte, original e são, na maior parte das vezes, vistas só como coitadinhas ou pior: como criminosas.

Esse nosso olhar afirmativo nunca fez vista grossa à toda essa desigualdade de direitos e oportunidades. Mas sempre acreditamos que, melhor que mostrar a vala negra, era apresentar os novos talentos, os empreendedores, os criadores geniais obscurecidos pelo medo, pela violência.

Continuo acreditando que para quem fala de favela daqui de fora ou para quem grita de dentro dela, o lema é: “só quero saber do que pode dar certo!”. Continuo acreditando que esse caminho de mostrar sempre o melhor, o que deu, ou pode dar certo é o que traz mais mudanças.

Sempre se viu a favela como o fim da linha, o lugar onde a notícia chegava por último, né? Esse jornal mesmo já provou o contrário. Muita manchete de jornal começou aqui. O preconceito sempre fez com que se achasse que uma coisa que estava na moda, quando chega na favela é porque ficou brega, fora de moda. Eu nunca vou esquecer dessa menina genial, moradora dessa comunidade, que conheci gravando a nossa série “Vem Com Tudo”, num salão de beleza do Leblon.

Juliana disse assim:

“A moda tem dois caminhos: às vezes ela começa lá em Paris, vem pra o “São Paulo Fashion Rio” (risos), de lá chega na Feirinha, daí a pouco geral tá usando aqui na favela. Mas também, muitas vezes, a gente inventa uma parada aqui, tipo um jeito de cortar o shortinho, de cortar o cabelo, de usar a sandália invertida, de pintar a sobrancelha, de amarrar o biquíni. E tudo isso que começa aqui, passa a vender na Feirinha, daqui a pouco tá no “São Paulo Fashion Rio” e bomba em Paris. Todos os estilistas copiam, todo mundo usa como a última moda e ninguém lembra, ninguém sabe, ninguém tem a menor ideia que aquilo foi criado, foi inventado aqui, no Complexo do Alemão!”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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