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Aos 12 anos, morador da Favela Kelson vende empada para investir na carreira de jogador de futebol

Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

Xandinho da Empada. Assim é conhecido Alexandre Mendes de Assis Filho na Favela da Kelson, na Maré, onde mora com a mãe e oito irmãos. O apelido pegou assim que começou a vender o lanche para realizar um sonho comum entre muitas crianças: Ser jogador de futebol.

O menino conta que desde que seu pai foi preso, há 2 anos, busca ajudar a família enquanto luta para seguir a carreira de atleta e ser reconhecido no futebol.  “Meu pai tava fazendo coisa errada e foi preso. Iam matar ele, mas minha mãe chegou bem na hora. Ele disse lá na cadeia que ia mudar, chorou e tudo! Mas quando saiu voltou a usar drogas. Hoje ele tá com meu avô, que levou ele pra longe e tá se tratando”.

Cria da Vila Cruzeiro junto com o jogador Adriano, O Imperador, o pai de Xandinho, que tem o mesmo nome do filho, também já foi atleta e mesmo abandonando o esporte, ainda é um dos grandes ídolos do garoto. “Eu acho que ele quis largar o futebol achando que ia se dar bem naquela vida, mas agora não consegue mais voltar, tá preso na droga. Hoje nem era para a gente estar aqui na favela ainda se ele tivesse levado o futebol a sério. Ele era muito talentoso.” – conta o menino de 12 anos.

Xandinho é destro, mas chuta com os dois pés, assim como o jogador Ronaldinho Gaúcho e teve seu primeiro contato com o futebol profissional após conversar com uma professora e amigos da escola, onde frequenta o 8° ano. “Tava eu e meu amigo e a professora perguntou qual era o sonho de cada um. Falei que queria ser jogador de futebol. Ai esse meu amigo me chamou para ir com ele no Olaria ver o pessoal jogar”.

Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

Davi Santos é o nome do amigo que o levou para dentro do campo do Olaria Atlético Clube e logo, Xandinho da Empada, que se mostra um garoto muito concentrado e responsável, foi convidado pelo instrutor para participar das atividades junto com o time que estava formando. “A mãe do Davi me buscava de carro e levava a gente para lá. Eu treinava 6 dias por semana” – lembra. 

Foram 3 meses treinando com o time até passar na peneira, que aconteceu no início do ano. Mesmo classificado, Xandinho não pode participar do time, pois foi barrado por pendências de documentos e falta de uma chuteira profissional.  Muito triste por ter perdido a oportunidade, o menino contou com o apoio da mãe Viviane Vieira, que passou a recusar o lucro das vendas das empadas e influenciou o filho a empreender.

“Eu fazia empada por encomenda e ele me pediu para vender na rua, em frente ao mercadinho. Na hora eu disse que não, por ficar muito policial ali e eu não queria que ficasse sozinho. Então ele veio com um papo de aprender a fazer e eu mandei ele ficar olhando. Hoje o Xandinho faz tudo sozinho, desde a massa ao recheio.” – conta a mãe orgulhosa.

“Ele saí daqui de casa e 20 minutos já está de volta. As pessoas ficam atrás dele direto. Fico muito feliz por ele ser tão responsável. Assim como o pai, meu filho de 17 anos também se envolveu com coisa errada e está preso. Não quero isso para mais nenhum deles!” – completa.

São vendidas em média 50 empadinhas por dia a R$ 1,00 cada e o lucro é guardado em um cofre. “Eu sempre guardo o dinheiro e quando preciso de alguma coisa vou lá e pego. Ainda ajudo minha mãe também, mas sempre deixo um dinheirinho guardado”.

Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

“E tem que ver a chuteira dele! É iraaaada!” – grita Marcos Vinicius, de 11 anos, um dos irmãos mais novos, correndo para buscar o calçado.

Com a renda das empadinhas, Xandinho conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar a chuteira que tanto fez falta e exibe com muito orgulho. “Depois que minha mãe falou que não precisava mais do dinheiro das vendas, continuei cozinhando e vendendo mesmo assim e fui pegando o dinheiro todo para mim. Juntei até conseguir comprar minha chuteira nova. Aí ela me levou lá no shopping. Foi cara! Agora consegui comprar um celular também, oh!”.

Aluno do projeto Intercampus, que usa o esporte como ferramenta de inclusão social e cultural, o garoto treina todo sábado durante a manhã na favela que mora e se destaca como Lateral Esquerdo e Volante. Xandinho diz que não vai desistir do seu sonho e que algum dia ainda vai jogar no mesmo time que o atacante Neymar Júnior.

“Eu quero que as pessoas me vejam jogando. Quero ser chamado para vários times, até virar um grande jogador. Quero dar orgulho para minha mãe. Ela é tudo pra mim!”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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