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Conheça a Bibi Perigosa da vida real

Bate-papo com Fabiana Escobar, a inspiração para a personagem da novela “A Força do Querer”

Quem acompanha a atual novela das 9h da TV Globo, “A Força do Querer”, está assistindo à atriz Juliana Paes interpretar a personagem Bibi Perigosa. Na trama, Bibi é casada com Rubinho, que foi preso por tráfico. Na prisão, ele acaba se envolvendo cada vez mais com o mundo do crime. Bibi – tanto a da vida real quanto a da ficção – é loucamente apaixonada pelo marido e, por isso, acaba sendo o braço direito do companheiro fora da cadeia – sem medir os riscos que isso poderia trazer.

No livro “Perigosa”, lançado pela editora “Novo Século” em julho de 2017, Fabiana Escobar, a Bibi da vida real, conta sobre essa paixão, o ciúme, as histórias do mundo do tráfico, a vida de uma companheira de preso, e muito mais. A história do livro, de pouco mais de 200 páginas, inspirou a personagem de Glória Perez, mas vai além.

A abordagem que Fabiana dá para o universo do crime é real o suficiente para mostrar o bônus e ônus de uma vida que, segundo ela, é de luxo e sofrimento. “Tudo o que é conquistado no crime se perde. O sofrimento da própria pessoa e da família, dinheiro nenhum paga” – revela. E continua: “A grande maioria se envolve para ganhar o que um trabalhador ganha”. “Todo poder, luxo, viram vergonha, lágrima, tristeza e destruição”.

A Bibi da vida real deu uma guinada na sua vida. Separou-se do seu Rubinho, cursou serviço social até o oitavo período, mas hoje quer fazer algo em relação a cinema. Já escreveu outros dois livros além do “Perigosa”, e outro está no forno. Além disso, é roteirista do grupo de cinema que criou na favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em 2015. A previsão do próximo curta sair, intitulado “A bala perdida”, é para agosto. Confira o bate- papo completo a seguir:

Fabiana, em que momento você virou a “Bibi Perigosa”?

Fabiana Escobar: De Bibi, minha família já me chamava desde criança. Perigosa foi depois da prisão do meu marido, quando acabei metida em situações em que eu precisava ser mais firme ou dura.

O que a motivou a escrever o livro?

Fabiana Escobar: Uma matéria que saiu no programa Fantástico, da TV Globo, no dia da ocupação da Rocinha pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Eu já estava separada há quase dois anos e o fato de colocarem imagens minhas trouxe à tona tudo de novo. Começando com a polícia na minha casa durante um mês, todos os dias, e o ataque imediato nas minhas redes sociais. Então resolvi escrever a história toda para as pessoas saberem pelo menos o que elas queriam criticar.

Como você e a autora da novela “A Força do Querer”, da TV Globo, Glória Perez, se conheceram?

Fabiana Escobar: A Glória estava pesquisando para a novela “Salve Jorge” e encontrou o meu blog. Assim começamos a conversar.

Qual foi a sua reação quando Glória Perez disse que ia incluir uma personagem na novela inspirada na sua história?

Fabiana Escobar: Fiquei feliz e, de imediato, achei-a muito corajosa por abordar esse tema com essa ótica.

De zero a dez, quanto você acha que a atriz Juliana Paes está parecida com você na novela?

Fabiana Escobar: Dez. Me vejo muito nela. No temperamento, na paixão desenfreada, nas reações.

Em uma passagem do livro, você diz que visitar o seu então marido “trazia à tona outra realidade. A pobreza é muito grande por lá. A grande maioria dos presos não tem dinheiro nenhum e seus familiares acabam arcando, com muita dificuldade, com os gastos que visitar um preso gera”. Houve alguma história especial que lhe marcou?

Fabiana Escobar: Os custos de manter um familiar na cadeia são altos. Do advogado à passagem para chegar lá, rola muita coisa que fica na responsabilidade da família. Os que não têm família vivem com a comida azeda que o Estado fornece e a doação de coisas de outros presos. A cena mais triste que vi em Bangu (presídio) foi uma senhora que faleceu na cancela. Foi visitar o filho e morreu. O corpo ficou lá muitas horas. Muito triste.

Você diz sempre que se arrepende por não ter dado atenção para seus dois filhos, por causa do tempo que exigia a condição de preso do seu ex-marido, pai deles. Como eles estão hoje? Como lidam com a visibilidade que a história da Bibi Perigosa tomou?

Fabiana Escobar: Sempre tentei conciliar essa loucura toda e manter a minha família unida. Mas infelizmente, não só no meu caso, muitas outras pessoas que se dedicam a alguma atividade de forma muito intensa, acabam ficando ausentes. Eles hoje já são grandes, já estão construindo a vida deles. Eles gostam de saber que eu dei a volta por cima e voltei a ser quem era antes.

No livro você conta que quase concluiu a graduação em serviço social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pretende voltar?

Fabiana Escobar: Sim, estudei até o oitavo período, mas não concluí. Gostaria de voltar, mas hoje minha vontade seria algo ligado a cinema, roteiros. Não quero me afastar disso por estar em outro curso. O único fator que ainda me limita é financeiro, mesmo. Falta só mais um pouco para eu estudar tranquila.

Você tem planos de escrever um novo livro?

Fabiana Escobar: Eu já tenho três livros publicados: “Perigosa”, “Linha Cruzada” e “Um gatinho chamado Flocos”. Também sou roteirista do grupo de cinema que criei na Rocinha em 2015. Já fui premiada com o filme “Anjos não falam” em um festival em Atibaia e ele chegou a ser exibido em um festival na França. Tem outro curta com lançamento previsto para agosto, que é “A bala perdida”. E estamos em fase de produção de um filme de terror chamado “Vale dos espíritos”. Ah! E estou com 60% concluído de um novo livro, um romance com ficção científica. Em breve sai do forno.

Você diz, em outro momento do livro, que “o tráfico não destrói só quem usa drogas, ele destrói quem trafica também”. Se você pudesse dar um recado para a juventude que pensa em se envolver, o que diria?

Fabiana Escobar: Que tudo que é conquistado no crime se perde. Que o sofrimento da própria pessoa e da família, dinheiro nenhum paga. Que a grande maioria se envolve para ganhar o que um trabalhador ganha. Poucos são os cabeças, que ganham muito. Eu diria que estão dando a vida, o sangue, por uma causa que não trará nada de bom para eles. Todo poder, luxo, vira vergonha, lágrima, tristeza e destruição.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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