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Cria da Rocinha viaja o mundo como atleta de Basquete

Cria da Rocinha viaja o mundo como atleta de Basquete - Foto: Divulgação
Cria da Rocinha viaja o mundo como atleta de Basquete - Foto: Divulgação

Em entrevista ao FavelaDaRocinha.com/Voz das Comunidades, Leandro Lima, que nasceu na Rocinha, relembra sua trajetória e a falta de apoio

Durante uma busca em um site de pesquisas sobre o significado da palavra esporte, você poderá encontrar uma variedade de explicações, tais como ”prática metódica, individual ou coletiva de um jogo que demande exercício físico e destreza”. Mas ao escutar a fala do esportista e jogador de basquete na modalidade 3×3 Leandro Lima (33), o ato é identificado como um objeto animado e de completa singularidade. ”O esporte foi pra mim, durante muito tempo, um pai, que me criou e ajudou a crescer”.

Em entrevista ao FavelaDaRocinha.com, o atleta – que nasceu e foi criado na comunidade – relembra um pouco de sua trajetória, as dificuldades enfrentadas durante a carreira e a falta de apoio, mesmo colecionando títulos em países como França, México, China e nos Emirados Árabes. Porém Leandro não desanima, nem esmorece. ”Tornei-me uma pessoa mais forte, preparada e concentrada no que eu real- mente queria”.

Na entrevista a seguir, ele motiva os jovens que sonham em ser atletas profissionais (”Lu- tem pelo o que acreditam e não se preocupem em atender aos padrões”), fala sobre o Com- plexo Esportivo da Rocinha e também comenta seu atual momento, já que este ano foi convidado a se profissionalizar na liga adulta de basquete 3×3 pela equipe de Yokohama City.EXE, no Japão. Diz que hoje está ”dedicando 100% da vida para treinar, jogar e descansar” e flerta sobre a participação na Tóquio-2020: ”Para mim, será incrível. Uma grande realização”.

QUAL FOI SUA MAIOR DIFICULDADE NO INÍCIO DA SUA CARREIRA NO BASQUETE?

Leandro Lima: Conheci o basquete aos 14 anos, através da minha mãe e por incentivo dela. Não me dediquei tanto porque eu gostava de futebol. No basquete, comecei de fato aos 15, mas só entrei em um clube aos 19. A maior dificuldade foi não ter conseguido um apoio, foi ter que investir sozinho no próprio sonho. Até hoje não tenho nenhum patrocínio, mesmo tendo alcançado resultados internacionais e representado o Brasil em alguns países. Isso me impediu de investir mais tempo na minha carreira. Porém, me tornei uma pessoa mais forte, preparada e concentrada no que eu realmente queria, até hoje.

O QUE É ESPORTE PARA VOCÊ? E O QUE VOCÊ DIRIA A UM JOVEM QUE DESEJA SE TORNAR UM ATLETA?

Leandro Lima: O basquete e o esporte são minha vida. O esporte foi para mim, durante muito tempo, um pai: me ajudou a crescer e me criou. Foi um auxiliador na minha trajetória e na minha evolução como ser humano. Deu-me muitas coisas para além de troféus e medalhas, me tornando homem. Gostaria que os jovens pudessem ter mais apoio, incentivo e patrocinadores. Desejo que lutem pelo que acreditam, por aquilo que querem e não se preocupem em aos atender padrões. Precisamos investir mais nos nossos sonhos, no que nos inspira.

NA ROCINHA HOJE NÓS TEMOS O COMPLEXO ESPORTIVO, ESPAÇO PARA DESENVOLVIMENTO DO ESPORTE, MAS QUE INFELIZMENTE ENFRENTA PROBLEMAS DE INFRAESTRUTURA E DE APOIO. O QUE VOCÊ ACHA SOBRE ISSO?

Leandro Lima: Acho que é um problema mais político do que de falta de infraestrutura ou de apoio. Não entendo como na Rocinha, que tem tantas pessoas que fazem trabalhos muitas vezes gratuitos, não estão à frente de projetos como este. Por que temos que contratar pessoas de fora, que não têm nenhum tipo de vínculo com a comunidade? Para gerir um projeto social é necessário um pensamento social, ideais voltados para o social.

“Me sinto preparado para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, assim como sempre fiz, com muito amor, carinho e toda paixão pelo esporte”

COM TANTAS CONQUISTAS E TÍTULOS AO LONGO DE UMA TRAJETÓRIA DE 16 ANOS, O QUE É PARA VOCÊ SER O PRIMEIRO BRASILEIRO A ASSINAR COM O YOKOHAMA CITY.EXE, NO JAPÃO, SENDO ESTA A ÚNICA LIGA ADULTA PROFISSIONAL EM 3X3 (DISPUTA COM APENAS TRÊS PESSOAS POR TIME JOGANDO EM MEIA QUADRA) DO MUNDO?

Leandro Lima: Hoje eu sou o segundo no ranking nacional e o primeiro a ser contratado nesta nova modalidade. Estar aqui e poder me tornar um profissional de basquete, o que sempre foi meu desejo, é uma realização. Hoje tenho novos planos e projetos. Aqui se encerra um ciclo, termino uma etapa de dedicação e muito esforço na minha carreira. Me sinto mais leve, apesar de todas as minhas necessidades. Estou aproveitando muito este momento. O frio na barriga existe, porém um pouco menos do que no início. Com o tempo, adquirimos mais experiência e nos sentimos mais à vontade frente a este que é um ambiente de trabalho e prazer.

COMO ESTÁ SUA EXPECTATIVA PARA A TÓQUIO-2020, JÁ QUE SUA CATEGORIA PASSOU A SER RECENTEMENTE RECONHECIDA E AGORA SERÁ INCLUÍDA COMO MODALIDADE OLÍMPICA?


Leandro Lima: É algo muito novo. Há cinco anos, o desejo de tornar-me um profissional de basquete na modalidade 3×3 era impossível e a perspectiva das Olimpíadas, meses atrás, inimaginável. As coisas estão acontecendo de maneira muito rápida e não dá para projetar algo, mas estou me preparando e dedicando 100% de minha vida para descansar, treinar e jogar. Hoje consigo ter mais condições por conta de disponibilidades de tempo, etc. Sinto-me preparado para representar o Brasil, assim como sempre fiz, com muito amor, carinho e toda a paixão pelo esporte. Espero fazer parte de um evento tão maravilhoso quanto esse. Para mim, será incrível. Uma grande realização”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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