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CRÔNICA | Um banho de amor

Texto escrito por:  Jhullyana da Silva | Revisado por: Gabi Coelho | Foto: Reprodução/Internet

Noite fria de uma sexta qualquer. Dia cansativo. Semana cansativa. Coloco minha bolsa na mesa, coloco também a mochila, a lancheira, o guarda-chuva e a maleta de trabalhinhos. Ah! Eu já ia me esquecendo da boneca. A boneca preferida dela.

Rapidamente com astúcia ainda sem tirar meus sapatos estou pronta para começar meu segundo tempo. Aproveito e já deixo o feijão no fogo. Na esperança  de ser atendida de primeira peço calmamente a ela que tire o uniforme e entre no banho. Primeira tentativa sem sucesso. Segunda tentativa, tom de voz mais ríspido eu exijo a ela que tire o uniforme e entre no banho, é como se não me escutasse. Terceira tentativa, prendo meu cabelo e arregaço as mangas, literalmente, pra não me molhar. Concentrando-me para não deixar a tristeza pelo fracasso me dominar. Pego no colo, tiro a roupa dela e então começa a sessão de lágrimas e gritos.

Meu banheiro em segundos se transforma em um ringue, onde luto com mais de um adversário. Os meus e os dela. O cansaço, a fadiga, o sono e até o desânimo. Entre tantos oponentes o mais difícil certamente é manter minha filha em baixo do chuveiro.  Com atitude distraída, coloco um dos pés dentro do boxe, quando percebo, sapato e calça encharcados.

Segundos que parecem eternos.

Ufa, consegui.

Aos poucos as lágrimas no rosto são substituídas por gotas mornas, fazendo com que o silêncio e a calmaria reinem no espaço onde minutos atrás acontecera uma grande batalha. Sonolenta,  encosta-se em meu ombro como se ali encontrasse seu abrigo, um aconchego,  um refúgio. Um pouco de cafuné e uma pequena massagem era tudo que ela precisava, pronto, me encontro completamente no banho.

A roupa incomoda um pouco. Na verdade incomoda muito. Mas só consigo pensar no equilíbrio que esse abraço me passa. Sensação benevolente.  Relaxo. Encontrei descanso e conforto em meio ao caos.

Assim como a água, todos os medos e inseguranças descem pelo ralo.

Nesse momento sou dela e ela é minha. Ela é meu refúgio, é meu abrigo, ela é meu porto seguro. Nosso escudo é o amor. Vencemos mais uma.

Vish, esqueci o feijão.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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