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A favela para beber: “Nova Brasília”, “Fazendinha” e “Complexo do Alemão”

Foto: Betinho Casas Novas/Voz Das Comunidades
Foto: Betinho Casas Novas/Voz Das Comunidades

Conheça a história por trás dos rótulos de cerveja

O Complexo do Alemão, formado por 13 favelas, pode ser bebido. Ou melhor, degustado. O casal Marcelo Ramos e Gabriela Romualdo, donos do Bistrô Estação R&R, que fica na localidade da Nova Brasília, lançaram em 2014 a versão de cevada de uma das maiores comunidades da América Latina. O primeiro dos rótulos foi o “Complexo do Alemão”, uma lager, que é um tipo de cerveja. O segundo, a weiss, outra classificação, é a “Nova Brasília”. A ansiedade agora é para a chegada da “Fazendinha” – que, segundo eles, será pilsen e sairá até o fim deste ano.

Tudo começou porque o casal é bom de copo. “Nunca fiz amigos bebendo leite, você já? A gente conhece as pessoas bebendo um negocinho” – contam os dois, rindo. Com a inauguração do bistrô – que já tem filiais nos shoppings Carioca e Bangu – em 2012, eles faziam cerveja artesanal como hobby, para oferecer aos amigos. Até que resolveram se profissionalizar.

A primeira decisão foi dar ao produto o nome do Complexo do Alemão. Isso é uma demonstração do que se percebe muito claramente conversando com eles: o orgulho contagiante de ser morador e cria do lugar. “A gente quer mostrar que o Complexo do Alemão não é só pobreza e tiro. Tem muita coisa boa aqui. Por que não uma cerveja?”.

A gente quer mostrar que o Complexo do Alemão não é só pobreza e tiro. Foto: Betinho Casas Novas/Voz Das Comunidades
A gente quer mostrar que o Complexo do Alemão não é só pobreza e tiro. Foto: Betinho Casas Novas/Voz Das Comunidades

Só que o orgulho e a garra dos dois, infelizmente, não eram prerrogativas para conseguir a produção industrial da cerveja. Legalmente, eles precisavam de uma cervejaria para vencer as burocracias do processo. Marcelo conta que não foi fácil. “Eu, pretinho, chegava dizendo que queria fazer uma cerveja com o nome do Complexo do Alemão, os caras só diziam não. Mas não desisti. Com 50 nãos, uma hora teria um sim”. Dito e feito. O preconceito não impossibilitou que a cerveja “Complexo do Alemão” nascesse.

A crise não está sendo capaz de atrapalhar a continuidade da linha. Mas Marcelo ressalta: “tudo na batalha, tem que trabalhar muito e acreditar que vai dar certo”. A próxima empreitada do casal, que tem um filho de três anos, Marcelo Junior, é oferecer um curso de cervejeiro para os moradores da favela. “Eles só pagarão os custos básicos para a produção da cerveja; não tem fins lucrativos, a gente quer é que quem gosta de fazer cerveja possa se profissionalizar e empreender”. Esse plano também deve sair até o fim de 2017 e deve ser realizado no Clube Everest, também no Complexo do Alemão.

Gabriela e Marcelo criaram a cerveja que leva o nome do Alemão pro mundo. Foto: Betinho Casas Novas/Voz Das Comunidades
Gabriela e Marcelo criaram a cerveja que leva o nome do Alemão pro mundo. Foto: Betinho Casas Novas/Voz Das Comunidades

Na página do Facebook da “Cerveja Complexo do Alemão” encontram-se todas as informações sobre onde encontrar a bebida, que também é vendida em outros pontos da cidade. Cada garrafa custa R$ 20,00. A equipe de reportagem provou e aprovou. Não importa que seja pelo gosto ou pela ideia, a torcida é para que o sonho de Gabriela se realize: “Ver o nome Complexo do Alemão rodando pelo mundo”. Saúde!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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