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Colunista convidado do mês: Monica Puga

A nossa praia –  Por: Monica Puga

Foi um domingo daqueles! Os termômetros marcavam mais de quarenta graus mas a sensação térmica ultrapassava, fácil, os cinquenta.

Como tantos outros moradores da zona norte, decidi me refrescar na praia. Um mergulho no mar geladinho seria o melhor programa. E o metrô, a melhor maneira de chegar até lá. Quando embarquei o vagão estava vazio mas foi só parar no Estácio para o trem lotar. E foi digno daquelas cenas do metrô japonês que assistimos de olhos arregalados na televisão. Ainda bem que não tinha ninguém empurrando do lado de fora.

Jeniffer, Andressa e Charles, todos com menos de sete anos, entraram e se apertaram pertinho de mim. E foi a Jeniffer que, rapidamente, ocupou meu colo, o único lugar disponível por ali. As crianças, alvoroçadas, estavam acompanhadas da mãe, avó, o, a, vizinhos, uma turma grande que trazia bolsas com comida e um grande isopor para as bebidas. Apertados, um segurando no outro, ouvindo pagode bem alto, seguimos para nossa aventura. Porque é, sim, uma empreitada chegar ao mar!

Durante a viagem conversamos bastante. Vinham todos lá das terras onde manda o Playboy, o conhecido traficante que é hoje o mais procurado pela polícia do Rio. Um lugar muito quente e com poucas opções de lazer. Lá em Costa Barros, o domingo fica sem sendo quando não dá pra dar um pulinho na praia.

As crianças falavam sem parar. A avó, dona Ines, a todo momento mandava que se segurassem bem. Jeniffer era a única aconchegada e segura no meu colo. Já estávamos na zona sul quando a mãe me disse como as crianças esperavam ansiosas pelo passeio. Em tempos de muitos confrontos na região do Morro da Pedreira e nas favelas da Quitanda e Lagartixa, nem dá pra brincar fora de casa. E faz muito calor, desabafou a mãe, enquanto enxugava a testa com a toalhinha azul.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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