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Não aceito…

Foto: Betinho Casas Novas

Até o momento são 20 feridos e 13 moradores mortos no Alemão. Quase todos os dias é comum ouvir os tiros. Alguns se assustam e outros dizem já estarem acostumados. Porque lidamos de forma diferente com essa situação?

Foto: Bento Fabio

Ontem eu estava na Canitar, uma das comunidades do Complexo do Alemão, quando os tiros começaram e todos correram para achar um lugar seguro. Onde eu estava éramos sete pessoas, desses, cinco eram moradores. Alguns quase choravam e outros pareciam apenas aguardar o barulho parar. Todos reagiram de uma forma diferente. Já ouvi relatos de moradores terem problemas de saúde por conta do estresse que a situação pode causar, já ouvi pessoas falarem que isso é assim mesmo e que ficar nervoso não adianta.

“Eu sempre morei aqui, mas não consigo me acostumar com essa situação”.
Fala de uma moradora.

Existe um mecanismo no cérebro que ajuda a nos manter vivos. Quando estamos diante de uma situação ameaçadora nosso cérebro manda mensagens para o nosso corpo que irá emitir diversas respostas para podermos lidar com a situação. Nossa pupila dilata para podermos ficar mais atentos as informações do ambiente, o coração dispara para bombear mais oxigênio e sermos rápidos, os ombros se elevam para proteger o pescoço, parte fundamental do corpo. Mas tudo isso só irá acontecer se o nosso cérebro identificar que estamos diante de um perigo.

Imagine uma pessoa que tem muito medo de barata! Quando esta pessoa fica perto desse animal ela começa a ter todas as reações que falei em cima. Mas, tem uma outra pessoa que simplesmente pega o chinelo e mata a barata sem problema algum e nenhuma reação.

A forma que lidamos com as situações são subjetivas, não existe uma regra, não podemos achar que todos irão agir da mesma forma quando estão diante de uma barata ou no meio do tiroteio. Somos pessoas diferentes, temos medos diferentes, pensamos diferentes e cada um lida de uma forma mesmo estando diante da mesma situação.


Foto: Betinho Casas Novas

A nossa mente é tão criativa para nos manter vivos, que as vezes ela pode causar reações bem diferentes daquelas que citei. Um exemplo seriam os casos de desmaio diante de uma situação: nossa mente “desliga”, pois pode ser forte demais você lidar com aquilo.

Eu não consigo aceitar o “discurso” da naturalização dos tiros no alemão…

“A gente mora aqui… a gente tá acostumado…”

Se parássemos de estranhar essas situações não precisaríamos mais lutar para mudar essa realidade. Não acredito que a morte de 10 moradores seja normal! Cada som de bala saindo de uma arma pode ser a dor no coração de uma mãe!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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