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O racionais MC’S além do Rap

Pílulas de “Vida Loka” e “Um homem na estrada” no tratamento em saúde mental

“Fui no show dos Racionais no Parque União e o Mano Brown ficou olhando pra mim.” Essa é uma das formas com que Giovani Soares de Oliveira, paciente com diagnóstico de esquizofrenia associado ao uso abusivo de álcool e outras drogas, do CAPS Mirian Makeba, conta sobre seu contato com a música do Racionais MC’s, que hoje é uma ferramenta importante no seu tratamento.

Segundo o enfermeiro Rafael Morganti, que acompanha o caso de Giovani, o rap ajuda no tratamento porque, através da música, é possível expressar o que se sente, onde, e o que se vive. “A partir do momento em que o sujeito identifica na música que é assim que acontece na vida e ao redor dele, e fala, nós da equipe podemos trabalhar em cima disso”.

Ainda segundo o enfermeiro, “o falar permite identificar problemas e diagnósticos, e o Giovani conseguiu falar a partir da banda Racionais MC’s. Ele conseguiu falar e pensar coisas que nunca havia pensado, das quais ele nunca tinha se dado conta”.

Giovani conseguiu, através das letras de Mano Brown, falar dele, do sofrimento, do que pensava sobre o mundo e da violência que o cerca. Esse quadro auxilia o tratamento porque, a partir da fala, o paciente consegue se olhar: enxergar o que está expressando e vivendo.

Giovani, que chegou no CAPS há cerca de dois anos, já foi encontrado pela equipe no meio do lixo e acabou internado por ter sido agredido por problemas ligados a drogas na comunidade Parque União, na Maré, onde é nascido e criado.

A música do Racionais entrou no tratamento que já inclui a parte medicamentosa, consulta, tratamentos em grupo e saídas para passeios como o Museu do Amanhã, o Boulevard Olímpico, praia e cachoeira. Quando o enfermeiro perguntou o que Giovani gostava de fazer e de ouvir, a resposta foi certeira: “O Giovani disse que gostava de Racionais. Eu gosto de rap e coloquei a música para ele ouvir no meu celular, e então ele começou a cantar junto”.

A partir daí esses momentos foram se repetindo. Na festa de fim de ano de 2016 do CAPS, Giovani se apresentou cantando uma música do Racionais MC’s com o enfermeiro no beats para todos os presentes.

As músicas preferidas de Giovani são “Vida Loka” e “Um homem na estrada”, além de  “Eu sou 157”. Giovani não poupa palavras para expressar seu gosto pela música: “fico mais calmo, gosto de escutar”. E diz mais: “Esse rap aí é muito maneiro de se ouvir.”

Quando a repórter perguntou se ele tinha vontade de conhecer Mano Brown, Giovani deu o papo: “Já conheço o Mano Brown mas não falo com ele não. Se o conhecesse não diria nada porque não tenho nada para conversar com ele, só gosto de ouvir as músicas dele”.

Antes do fim da entrevista, Giovani pediu para mostrar, todo orgulhoso, o vídeo da gravação dele na festa cantando a música do Racionais MC’S, que estava no celular do enfermeiro.

Nada de anormal para um favelado que deve ser tratado como é, um cidadão e simplesmente mais um ouvinte de racionais. Afinal, como dizem, de santo e de louco todo mundo tem um pouco.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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