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OPINIÃO | Intervenção Federal: Um sucesso para quem?

A visão de um colunista morador da Maré sobre a tentativa fracassada de acabar com a criminalidade focando apenas na segurança pública.

O General Braga Netto apresentou na última quinta-feira do ano (27) os resultados da atuação das forças armadas no Rio de Janeiro. A intervenção federal, que se iniciou em fevereiro de 2018, chegou ao seu fim e que, em suas palavras, a ‘missão foi cumprida’.

“Temos a convicção de que trilhamos um caminho difícil e incerto, mas cumprimos a missão de recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança pública e baixar os índices de criminalidade”, afirmou Braga na cerimônia que marcava o fim da intervenção.

Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades
Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

O general sustentou seus argumentos com  números para mostrar o sucesso da operação das forças militares. Um dado mencionado envolve o setor de turismo, a ocupação da rede hoteleira no feriado de 15 de novembro, que no ano passado tinha sido de 48%, neste ano subiu para 85%. Braga conta ainda que crimes como roubos de carga e ao comércio caíram 28% em comparação com 2017.

Contudo,  em meio as afirmações do interventor na frente das câmeras e ao público presente, fica um questionamento: a Intervenção Federal foi um sucesso para quem?

Um caso específico desse tipo de ocupação armada, aconteceu em abril de 2014, no Complexo da Maré, um conjunto de favelas com quase 130 mil moradores. Com um gasto aproximado de R$1,7 milhões diários, tomou resultados absurdos, ganhando consequências de crueldade e violação de direitos para os moradores desse território.

O discurso do coronel comprova ainda mais a ideia de que a segurança pública não sabe dialogar com a favela. Apontar os dados favoráveis para os turistas, agradando o público do exterior e uma classe burguesa, é fácil. Mas, se posicionar criticamente sobre o fracasso causado nas favelas cariocas, onde se teve sequelas drásticas, como por exemplo, o número de assassinatos, que continua assustador, de 3.686, subiu 3.919 no período de março a dezembro de 2017. Ainda há o número de pessoas mortas em operações policiais, ao contrário, subiu 38% (1.185, contra 859). Somando os dois balanços, o total de mortes violentas nesses nove meses totaliza 4.871, 2% a mais que no mesmo período do ano passado.

Para o Observatório da Intervenção, se houve muitas operações com o apoio do exército, mas pouquíssima inteligência. O número de tiroteios cresceu 56% nesses dez meses; as mortes decorrentes de ação policial aumentaram 36,3%. São essas sequelas que a intervenção federal trouxe e que, portanto, não resolveu os problemas estruturais da segurança pública do Rio. O que aconteceu não foi um investimento em segurança pública, mas sim uma prova de que o governo prioriza gastos em armamentos, numa tentativa fracassada de apaziguar a população carioca, mas deixa de lado questões como a educação e o ensino.

O governo vende uma ideia de segurança, mas os moradores favelados recebem de juros uma violação de seus direitos e, principalmente o genocídio da população negra pertencentes a esses espaços marginalizados. A intervenção federal não foi uma medida de segurança para a favela, mas sim mais um meio de monitoramento e execução.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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