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OPINIÃO: O rap também é delas

O rap nacional sempre foi muito conhecido por suas fortes letras, batidas intensas e uma “pegada” que consegue reunir pessoas de várias classes sociais, gostos e estilos. A expressão RAP – que vem lá das gringa – significa ritmo e poesia, e eu posso afirmar que os maiores poetas que conheci surgiram de batalhas improvisadas nas ruas, também conhecidas como freestyle, talentos como os de Douglas Din, MV Bill, Pedro Valentim, Emicida e outros milhares, trouxeram pra música a realidade de muitos brasileiros.

Mas o rap tem uma característica que vai além de trazer a essência da cultura urbana com rimas pensadas e bem elaboradas; é um universo predominantemente masculino.  A participação das mulheres no rap ainda é tímida, e apesar de ter acontecido um avanço notável da presença feminina nos estilos musicais, principalmente no sertanejo, ainda é cedo pra concluir que as mulheres já conseguiram ocupar o lugar que elas realmente desejam e acabar com o machismo dentro das empresas e instituições.

Até as rappers mais conhecidas nacionalmente como Karol Conká, Flora Matos, Preta Rara, Lurdez da Luz, esbarram com muita dificuldade para fazer com que suas músicas cheguem aos ouvidos das pessoas.

 'A construção da sociedade sempre foi muito baseada no homem como condutor das regras, da família, da empresa, e isso ficou enraizado até no campo da música. O que as meninas do DF, e outras tantas rappers espalhadas pelo Brasil, fazem, é colocar em evidência a junção do poder da mulher com o poder do rap. Essa mistura é capaz de mudar os conceitos mais antigos do papel das mulheres na sociedade, e se não conseguir mudar, bom, a resistência das mina vai ter que ser ainda maior. Mas uma coisa é certa: elas não vão parar.'
‘A construção da sociedade sempre foi muito baseada no homem como condutor das regras, da família, da empresa, e isso ficou enraizado até no campo da música. O que as meninas do DF, e outras tantas rappers espalhadas pelo Brasil, fazem, é colocar em evidência a junção do poder da mulher com o poder do rap. Essa mistura é capaz de mudar os conceitos mais antigos do papel das mulheres na sociedade, e se não conseguir mudar, bom, a resistência das mina vai ter que ser ainda maior. Mas uma coisa é certa: elas não vão parar.’

A pesquisadora Wivian Weller apontou em uma de suas pesquisas que uma das razões da invisibilidade feminina em culturas juvenis são as obrigações exigidas pela sociedade à mulher, principalmente no que diz ao “padrão” que tenta definir o que ela deve ou não fazer. E é justamente esses padrões – que fazem com que a mulher seja vista como uma possível mãe, uma dona de casa, uma esposa – que causa um efeito negativo quando elas decidem fazer o que desejam de suas vidas. Em 2008, a filósofa Judith Butler afirmou que existe uma não aceitação da presença de mulheres em movimentos como o hip hop por ser ele uma expressão que luta por igualdade de direitos e por uma sociedade menos desigual.

Para ocupar seu espaço no que elas curtem e fazem bem, um grupo de garotas no Distrito Federal (DF) criou em 2013 a “Batalha das Gurias” (BDG), na busca de mostrar a representatividade e a força das rimas femininas. Bárbara, Bruna, Camilla, Dih, Elisandra, Estéfane, Juliana, Karolyne, Kashu e Isis são as organizadoras do movimento que promove o duelo entre mulheres Mcs em diversas cidades do Distrito Federal. O coletivo nasceu depois que esse grupo de mulheres percebeu a necessidade de abrir um espaço que gerasse conforto para que as meninas disputassem com outras meninas, além de incentivar a participação delas nas batalhas. Nos eventos realizados pela BDG é comum ouvir sobre a luta contra o machismo e a desigualdade de gênero.

A construção da sociedade sempre foi muito baseada no homem como condutor das regras, da família, da empresa, e isso ficou enraizado até no campo da música. O que as meninas do DF, e outras tantas rappers espalhadas pelo Brasil, fazem, é colocar em evidência a junção do poder da mulher com o poder do rap. Essa mistura é capaz de mudar os conceitos mais antigos do papel das mulheres na sociedade, e se não conseguir mudar, bom, a resistência das mina vai ter que ser ainda maior. Mas uma coisa é certa: elas não vão parar.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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