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OPINIÃO – O reconhecimento da cultura afro-brasileira na luta contra a desigualdade social e o preconceito

ARTIGO DE OPINIÃO: A cultura é o ato de transmitir hábitos, valores, vivências sociais e costumes através da fala, da escrita, de vestígios materiais, etc. de um grupo. Um processo civilizador. No Brasil, é difícil ver a forma como as pessoas tratam as outras ao ponto de desvalorizar as diferenças que fazem dele um país tão diversificado e que eleva o etnocentrismo, principalmente se tratando da cultura afro-brasileira. Do que adianta ter datas comemorativas a respeito se não se interessam pela própria História, não estendem o respeito que essas datas buscam para os seus atos no dia-a-dia, tão pouco importa suas influências na culinária, na religião, nas festividades, na música, etc. e as consequências nos dias atuais? O que mudaria se interessassem?

O racismo e o preconceito estão institucionalizados na sociedade que vivemos através da falta de conhecimento sobre a própria cultura, da falta de valorização sobre a importância dela e/ou da falta de empatia sobre os seres humanos que passaram (e ainda passam) por aqui nas mãos de pessoas egoístas que visavam (até hoje também) apenas na forma como a economia deveria funcionar as custas da exploração e do sofrimento de outras pessoas para gerar seus lucros. Por exemplo, o Cais do Valongo, localizado próximo a Zona Portuária do Rio de Janeiro, foi declarado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em 2017. Foi valorizado pela importância que este lugar representa pelo passado doloroso e desumano e serve como fonte de aprendizado de forma que não se repita. Ele foi construído em 1811 para atender uma antiga determinação do vice-rei, feita em 1779. Lá existia o mercado de escravos e o desembarque dos mesmos. Foi porta de entrada de mais de 500 mil escravos. Foi descoberto através de escavações feitas durante as obras de revitalização do Porto Maravilha em 2011. Também tem o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, o maior cemitério de escravos das Américas no subsolo de um casarão, localizado na Gâmboa (ou na região conhecida como “Pequena África”) e que está com o risco de fechar as portas em Setembro por falta de apoio financeiro. Entre 1772 e 1830, eram enterrados os escravos que, debilitados pelas péssimas condições das longas viagens nos navios negreiros, morriam nos primeiros dias após a chegada ou já chegavam mortos ao Brasil. Estima-se que entre 30 e 50 mil negros escravizados tenham sido enterrados no local, segundo Merced Guimarães, criadora e diretora do IPN.

Com tantas faltas e a questão da omissão de acesso através das bibliotecas, cinemas, teatros, museus e a própria Internet devido a várias outras questões políticas que afetam a nossa nação atualmente, temos como herança a elevação da desigualdade social, a falta de oportunidades (tanto em escolas e faculdades como na questão de empregabilidade), exclusão socioeconômica e política por causa da cor de pele ou condição social, a intolerância e a meritocracia que acabam afetando a democratização do nosso povo. Quando o direito e/ou o dever de alguém conhecer uma das culturas do seu país é negado de diversas formas, remove a conscientização do valor cultural de um determinado grupo para o desenvolvimento da consciência crítica de cada indíviduo afim de reconhecer a devida responsabilidade no espaço onde vive (ou seja, a própria identidade e/ou culpabilidade).

Apesar da população querer uma ação do Estado e do Governo em relação a ausência de acesso a cultura, as pessoas também devem ir atrás dela e lutar para que todos tenham o acesso cultural tão rejeitado, seja pelo fechamento de uma biblioteca pública ou qualquer outro impedimento de reflexão e compreensão. Participe de guias turísticos no seu Estado, fale sobre onde mora, leia um livro, vá a debates ou exposições, converse com pessoas diferentes, procure saber mais a fundo sobre algo que não saiba, vá além das paredes de uma sala de aula ou de um espaço fechado… Bem, sejam instrumentos transformadores da forma como quiserem e influenciem, pratiquem a cidadania e criem elos de respeito. Conhecer a sua História e a dos outros é escrever o seu futuro no presente.

Recomendação para o RJ =>

*Revelando o Brasil. Faz guias turísticos gratuitos por vários pontos importantes e históricos do Rio de Janeiro.
Facebook: https://www.facebook.com/RevelandooBrasil/

* IPN – Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. Faça uma visita por lá!
Facebook: https://www.facebook.com/ipn.museumemorial/

Esta coluna é de responsabilidade de seus autores e nenhuma opinião se refere à deste jornal.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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