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Surgimos há 10 anos para mostrar o que a grande mídia não mostrava…

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O objetivo principal do Jornal Voz da Comunidade, é dar visibilidade aos invisíveis. Acreditamos no potencial da nossa gente e por aqui também existem muitos talentos, esperando apenas uma oportunidade digna de prosperar.

Chega de ver vidas se perdendo! Queremos ver a inteligência, a raça, a beleza, o jeito hospitaleiro e essa alegria de ser desse povo guerreiro estampados nos jornais.

Entendemos que nosso papel social é contribuir com a construção de um futuro melhor e menos desigual. Onde quem vive nos becos e vielas, tenha vez e voz ALTA, tipo som de um alto falante.

O que nos faz feliz é mostrar pra geral o que tem de melhor nos morros da comunidade. Dinheiro pra gente é consequência de trabalho feito com esforço, competência e honestidade. Não é, e nunca será o que faz o nosso olho brilhar!

A visibilidade que temos hoje, veio do empenho e da sagacidade de mostrar pro mundo um olhar genuíno e diferente sobre a nossa comunidade. Se pudéssemos e a realidade fosse outra, a violência nunca seria nossa pauta.

Renato, eu e a Gabi posando pra foto.
Renato, eu e a Gabi posando pra foto.

Não queremos e nem temos a intenção de usar a dor ou a imagem das pessoas pra ganhar atenção da população. Infelizmente, a insegurança, a tensão e a violência fazem parte do nosso cotidiano e como um veículo de comunicação livre, mostramos os fatos e denunciamos os absurdos que acontecem diante dos nossos olhos, na esquina das nossas casas.

Mas, sempre com responsabilidade, pois temos consciência da influência e credibilidade que conquistamos nesses 10 anos de existência. Talvez pra muitos, isso seja apenas o dever de um jornal, só que pra gente, para os leitores e seguidores, o nosso trabalho é importante, legítimo e imparcial.

Eu com o primeiro computador do jornal acompanhado da Marcela, Tais, Walisson, meu primo Jackson e o Renato
Eu com o primeiro computador do jornal acompanhado da Marcela, Tais, Walisson, meu primo Jackson e o Renato

Em cada publicação impressa ou virtual, tenham a certeza de que pensamos a todo momento nas pessoas que nos apóiam, que param pra ler nossas matérias, que participam das campanhas nas redes sociais, que enviam mensagens afetuosas e que se fazem presentes como voluntárias nas ações sociais, por confiarem e acreditarem nas nossas iniciavas.

Vou aproveitar pra esclarecer um “disse me disse”. Pra quem não sabe, já recebemos centenas de mensagens questionando o fato do jornal ter começado no Morro do Adeus e agora estar presente em boa parte do Complexo do Alemão.

Sou “cria” do Morro do Adeus e não escondo de ninguém.

Antigamente existia uma grande rivalidade de facções entre a maioria das comunidades do Complexo do Alemão e o Adeus. Se você tem mais de vinte anos, deve lembrar dos diversos momentos de conflitos que já vivemos, por conta da disputa do território, onde quem era do adeus não podia sequer atravessar a Estrada do Itararé, porque corria o risco de ser taxado como do lado do “alemão”, só por morar numa comunidade dominada pela facção rival do tráfico. E por incrível que pareça, ainda hoje, existem pessoas que me criticam e se negam a reconhecer que o Adeus faz parte também do Complexo do Alemão, pelo seu histórico de violência na região.

Tiago chegou há cinco anos para contribuir e ficou até hoje atuando nas produções de eventos e ações sociais

Pois bem, durante os cinco primeiros anos do jornal, sua atuação consistia em falar somente do Adeus, mas logo após a “pacificação”, pudemos expandir a nossa VOZ para as outras doze comunidades que formam o conjunto de favelas do Alemão.

O que pra mim foi um sonho realizado, pois meu desejo era ampliar o nosso alcance e aumentar a rede que defende a vida nas comunidades, pra fortalecer a união entre jovens que lutam contra as desigualdades sociais aqui dentro e em diversos lugares da nossa cidade.

Desde os primeiros anos de vida do Voz, fui muito bem recebido pelas pessoas e de cara já tive comerciantes interessados em anunciar. Muitos vieram falar comigo que já sabiam da existência do jornal, mas que não conseguiam ter acesso. Alguns duvidaram da minha capacidade, principalmente por ser tão jovem (uma criança ainda). Ficava pensando em estratégias pra atingir a comunidade e aos poucos ir mostrando o que tinha de bom e ruim, pra identificar o que precisava ser resolvido.

Betinho foi um dos primeiros voluntários, quando ainda nha 13 anos de idade
Betinho foi um dos primeiros voluntários, quando ainda nha 13 anos de idade

Me lembro que o “Tuninho” da loja de celulares que tem na grota, foi um dos primeiros a me dar apoio na região. Os irmãos “Manel” e Novaes também não negaram esforços e foram os primeiros anunciantes. Eles achavam ótimo ver uma criança fazendo algo de bom pela comunidade e seguindo um caminho legal na vida. Só que nessa época, eu levava mais na brincadeira. Pra mim, não era uma coisa séria. Eu comecei com 11 anos, não tinha como ter tanta maturidade ainda.

Algumas pessoas se lembram de como eu caminhava timidamente pedindo apoio pra manter o jornal todos os meses.

Eu só tinha muita vontade de fazer e não queria saber como isso aconteceria. Só sabia que iria acontecer de qualquer jeito. Tinha fé sabe? Meu primeiro computador foi comprado quando eu tinha mais ou menos treze anos. Me lembro que foi em 24X no cartão da minha prima Elane. Ninguém tinha condições de comprar e pagar, mas meu avô Luiz ajudava com os custos da internet e algumas mensalidades do computador. Eu virava noites (assim como ainda viro hoje, só que com mais pessoas da equipe) pra conseguir fechar o jornal, que seria distribuído no dia seguinte, sempre com o apoio dos meus primos e amigos.

Muita gente faz parte dessa história, se começar a falar vou acabar esquecendo alguém. Saibam que não me importo em receber críticas, elas me fazem refletir e avaliar decisões pra tomar novos rumos. Acabo ouvindo o coração, meu grande conselheiro que me diz sempre pra fazer a coisa certa.

Gabriela gerencia projetos da organização
Gabriela gerencia projetos da organização

Apesar de uma minoria torcer contra o trabalho (vai entender né?!), tem milhares torcendo a favor. Já temos uma lista de boas histórias pra contar pros nossos netos!

Dá uma alegria quando abrimos o e-mail e constatamos que recebemos centenas de formulários, de pessoas querendo ser voluntárias em nossas ações durante o ano inteiro.

Uma coisa não nego:
Fazer o bem pela minha comunidade e motivar outras pessoas a olharem sob um ponto de vista mais justo e generoso pro complexo do alemão, ME FAZ MUITO FELIZ !!!

E disso tenho certeza: Eu não faria NADA sozinho! O VOZ sou eu, são os voluntários, somos todos nós!!!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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