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Uma bala que não era perdida – Crônicas de Sérgio – 02

Uma jovem na escola, fazendo aquilo que todos esperamos de nossos filhos: que estudem.
Uma jovem que ao invés de estar na rua se prostituindo, sendo aviãozinho do tráfico, escolheu estudar.
Uma jovem estudante e apaixonada por esporte. Amante do basquete. Esse esporte mágico onde não tem bola perdida. Uma jovem craque no esporte.

Uma família. Mãe, pai e….. e um filho. Ainda não chegou, mas já anunciou sua vinda. Está alí, guardadinho na barriga de sua mãe sendo formado e amado.
Imagino o quanto se planejaram pra terem esse filho. Namoraram, ficaram noivos. Não tinham grana pra casar mas com muita luta casaram. Ralaram muito e chegou o grande momento: ter um herdeiro, um filho.
O pai feito louco começou a trabalhar em três lugares diferente pra conseguir montar o quarto pra seu pequeno. A mãe arrumando todas as roupinhas e mimos pra quando ele chegar estar tudo perfeito.
Lá está ele, amado e bem guardado na barriga da mãe.

Uma criança. Quase adolescente. Em sua cabeça tem mais sonhos do que as estrelas no céu. Já pensou em ser médica, professora e assistente social. Não importa o que será, o que importa é que será alguém que vai orgulhar muito seus pais que batalham das 5h da manhã até as 10h da noite pra garantir o básico pra ela.
Ela reconhece e luta pra orgulhar seus pais.

Três historias. Três pessoas em lugares diferentes, em momentos diferentes.
Mas algo em comum tem nessas três histórias.
Não são os sonhos. Infelizmente não…
Essas três pessoas foram vitimas de uma bala perdida…

Como uma bala que atinge uma adolescente dentro da escola, que fere um bebe na barriga de sua mãe e mata uma criança dentro de casa pode ser considerada “bala perdida”….

Nunca vi isso, uma pessoa ser vitima antes mesmo de nascer, de sair da barriga de sua mãe…

Não, não era bala perdida…..

Aquelas três balas tinham endereço certo….

Perdido….. perdido estava o policial quando travou tiroteio na frente de um colégio em pleno horário de aula….

Perdido…. perdido esta o estado brasileiro com uma politica de segurança pública falida, sem preparo, dependente de uma elite chamada “Força Nacional” que custa infinitamente mais do que remuneração de nossos policias.

Perdido…. perdido esta nosso povo quando ve na TV policiais administrando “boca de fumo” fardados com uniforme da Policia Militar do Rio de Janeiro…..

Perdido….. perdido ficou aquele pai quando viu sua filha com uma bala na cabeça e e ele com uma lágrima no olhar.

Não. Não existe bala perdida.
Quem disparou aquela arma esta certo do que estava fazendo….
Foi um bandido que disparou….. Foi o estado que autorizou….
Autorizou sim… pois autoriza toda as vezes que faz discurso demagógico fingindo sentir dor de seu povo quando transforma vidas em meras estáticas.

Minha nega esta gravida …… Eu trabalho todos os dias lutando para conseguir sobreviver. Agora terei que orar a Deus todos os dias pedindo que meu filho possa chegar a nascer antes que uma bala perdida o encontre…
Porque por mais que ele venha a nascer, parece que sempre tem uma bala perdida disposta a nos encontrar.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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