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ARTIGO | A agressão moral do racismo

Como a questão ainda é tão presente mesmo após mais de um século

13 de maio de 1888. São quase 130 anos desde a assinatura da Lei Áurea, que dava um fim à escravidão no Brasil após 388 anos de sofrimento, dor e massacres. São quase 130 anos mas, infelizmente, ainda vemos inúmeros reflexos desta terrível época. A foto recente de uma festa de 15 anos que tinha como tema a escravidão, onde a debutante de pele clara aparece sentada à mesa com escravos à sua volta e a responsável pelo registro colocando “isso que é um 15zola top”, mostra o quanto ainda há resquícios do pensamento escravocrata em nosso país.

Não bastaram as 35 mil viagens de navios negreiros realizadas entre 1501 – ano do registro da primeira leva de escravos – e 1867, quando o tráfico de escravos foi abolido. Não bastaram as 13 milhões de pessoas trazidas da África para as Américas na condição de escravos. Não bastaram os milhões de índios nativos sendo massacrados e quase extintos. Não bastou tentar acabar com a história, com a crença, com as raízes, com a existência de todos eles. Não bastou o Brasil ser o país com três quartos dos traficantes de escravos no período de 1790 a 1830. Não bastou ainda ter, em 2016, cerca de 161 mil pessoas no Brasil e 46 milhões em todo o mundo ainda vivendo em condições de escravos ilegalmente.

Nada disso parece ter bastado, pois mesmo com tantas atrocidades continuam fazendo piadas, zombando, subjugando, menosprezando e, pior: comemorando o negro e pobre nessa condição. Sim, comemorando. Afinal, com tantas pessoas que são envolvidas numa festa de 15 anos, ninguém foi capaz de vetar uma irresponsabilidade e mau caratismo desse tamanho. Usar a dor que milhões de pessoas ainda hoje sofrem. Celebrar com um assunto que quase exterminou todo um povo, que por pouco não dizimou tudo aquilo que acreditavam e viviam. Não foi só o couro que sangrou. As chibatadas não foram apenas no corpo, mas também na alma, na cultura e em tudo aquilo que estava ligado ao ser dos escravos.

No período que estamos vivenciando, em que as pessoas vêm morrendo por serem negras, por lutarem pelos seus iguais, por quererem as mesmas condições sociais e não mais serem desvalorizadas apenas pelo tom da pele ou renda; nós vemos também pessoas espalhando o ódio, a segregação e negando até os direitos básicos a quem é negro e pobre.

É inadmissível que ainda em 2018 tenhamos pautas como essa, em que o racismo é escancarado e banalizado, atingindo, menosprezando e machucando milhões de pessoas.
Racismo que sabota. Racismo que magoa. Racismo que limita. Racismo que mata. Mata pessoas, mata ideais, mata culturas.

Foram centenas de anos e parece que algumas pessoas não aprenderam. Mas a melhor arma contra o racismo é não deixar que ele impeça de vencer. Vencer as barreiras, vencer mesmo com o sistema social sendo contra, vencer mesmo que digam que você nasceu para perder. Vencer como Carolina Maria de Jesus, Cartola, Dona Ivone Lara, Taís Araújo, Rene Silva, Pelé, Conceição Evaristo, Lázaro Ramos, Martin Luther King, Marielle Franco, irmãos Rebouças, Nelson Mandela, Barack Obama, Zumbi dos Palmares e tantas outras pessoas negras que venceram. O medo dos racistas é que esses nomes se multipliquem. Então que eles tremem.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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