Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Dois anos de ocupação, dois anos sem baile

Depois de praticamente dois anos, nesse último sábado, 23/02 , rolou o primeiro baile oficialmente liberado no Complexo do Alemão desde a ocupação militar no final de 2010. A festa aconteceu na comunidade Nova Brasília, nas proximidades da UPP, na Praça do Terço. Uma noite bem lelek, como muito lek e nem na pista dançando sem parar. E de longe só se ouvia hits como: “é no Complexo do Alemão que ela vai até o chão”, “pois é foi mal mamãe passou açucar em mim!” e muito mais ao som de MC Sapão.

Logo depois da ocupação do exército em dezembro de 2010, o baile foi proibido alegando ser uma festa com potencial para rolar o tráfico de drogas e com letras que incitavam a violência. Mas tarde aResolução 013, posta em vigor na favela, só reforçou a dificuldade dos produtores culturais em realizar tal festa. E desde então os Mcs, o movimento do funk, os produtores culturais da favela e moradores têm reivindicado o direito de exercer a prática cultural no baile funk, tão naturalizado na comunidade.

Na última década o funk tem ganhado cada vez mais espaço na mídia brasileira, embora sua história tenha mais de trinta anos e esteja ligado ao gueto nos Estados Unidos. No Brasil a partir da década de 80, os bailes começaram a atrair cada vez mais pessoas e desde então o funk faz parte da cultura carioca e da favela com letras que falam do cotidiano do morro, da cultura e também da violência e desigualdade como forma de protesto.

O problema da criminalização do funk é que junto com ela vem a criminalização das pessoas, dos artistas, do território, dos produtores e principalmente a criminalização da cultura popular. A criminalização do baile funk carrega contigo uma série de estigmas, que contribui para a diferenciação de classes e o reforço da ideia que existem culturas e hábitos melhores que outros.

O Rio de Janeiro tem passado por uma nova fase, a entrada da Unidade de Polícia Pacificadora – UPP, nas favelas do Rio de Janeiro deu o primeiro passo para um possível avanço que ainda tem um longo caminho pela frente. E nesse caminho, o diálogo é fundamental na construção de uma cidade de direitos e justa. A proibição do baile funk dentro favela só fragiliza o processo de diálogo entre o estado e a favela e entre a polícia e o morador. Proibir manifestações culturais é violação de direitos e reforça distanciamentos e preconceitos, lutemos para que em cada favela do Rio de Janeiro se tenha o direito de viver e cantar “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela em que eu nasci..”.

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]