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O sonho da graduação tá só começando

Foto: Matheus Leite 
Texto: Flávia Veloso

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) teve seu resultado divulgado na última sexta-feira (18). Mais um ano em que jovens e adultos se submetem à tensa e cansativa prova pra tentar ingressar numa universidade pública ou privada através do maior vestibular do Brasil – segundo maior do mundo.

Com o menor número de inscrições confirmadas desde 2011, a prova trouxe novos dados. As médias de notas nas provas objetivas de linguagens, matemática e ciências humanas cresceram em relação ao ano passado, entretanto a média em ciências da natureza caiu. Nas redações, o número de notas máximas subiu, o de textos zerados (que ganham nota zero) caiu, mas a média de pontuação foi mais baixa que a de 2017.

Dados que trazem pra gente, ao longo dos anos, que a qualidade da educação brasileira não teve muitos pontos a seu favor. Um estudo de qualidade, que deveria acompanhar a evolução das culturas, das ideias e da voracidade do mercado de trabalho, não é realidade, principalmente pros alunos que dependem de escola pública. O acesso à universidade ainda é restrito, e temos que bater muito nessa tecla. Restrito a pessoas pobres, negras, transsexuais… E isso se reflete no mercado e nas relações de trabalho.

Mas as críticas e lutas não são em vão.

Desde o começo da introdução de cotas raciais em universidades (pouco mais de 15 anos), o acesso da população negra ao ensino superior cresceu bastante, comparando aos dados anteriores às cotas. O que NÃO TÁ BOM AINDA. Números mostram que, de 2005 a 2015, o percentual de jovens negros em idade universitária que cursavam uma faculdade havia mais que dobrado, mas somente pra 12,8%. Hoje, apenas 34% dos estudantes de universidade são pretos. Outra iniciativa que deve ser seguida é a da Universidade da Bahia, que foi a primeira do Brasil a implementar cotas pra transsexuais e travestis na graduação. Então, a luta não pode parar, precisamos quebrar as desigualdades no sistema educacional.

Tudo o que conquistamos pelo nosso esforço é mérito nosso e só nosso.

Se a sua vaga está garantida, com nome na lista e a matrícula a caminho, tenha em mente que você conseguiu vencer a difícil fase que é enfrentar o monstro dos estudos pesados, das noites de preocupação, do medo, do cansaço de prova, da injustiça de um ensino público que não é livre e não é gratuito. Parabéns, você merece isso.

Às vezes, mesmo imensos os nossos esforços, não chegamos lá.

Isso não significa que é o fim. Não desiste, e tenta até conseguir. Nosso conhecimento, nossa experiência e nossa luta não se resumem a uma pontuação de 0 a 1000, nós não somos definidos pelos cartões-resposta que marcamos, mas pelas provas diárias que enfrentamos, tudo o que percorremos para alcançar nossos objetivos. E quem tá dizendo isso é uma pessoa que enfrentou o ENEM três vezes, mas não passou em nenhuma, e que nunca desistiu do sonho do ensino superior. Essa é só mais uma prova, o sonho tá só começando.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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