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OPINIÃO | “Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, o jovem no Brasil nunca é levado a sério!.”

Através da  letra cantada pela banda Charlie Brown Jr  e Negra Li, é possível fazer uma análise crítica de como o sistema vem tratando os nossos sonhos e objetivos em busca de uma melhor condição social e vida.

Podemos usar a favela como exemplo. Quem vive o dia-a-dia das áreas mais afetadas pelos descasos governamentais, sabe que até uns anos atrás era raro vermos pessoas que estivessem em situação de vulnerabilidade social falando em ingressar nas universidades.

Antes das políticas afirmativas de cota, a realização desse desejo era distante, e isso não só se dava pela ausência dos projetos governamentais, a fim de facilitar a entrada das minorias dentro desses espaços, mas também por uma série de interferências, como por exemplo, as pendências financeiras que nos obrigavam a trabalhar mais cedo para suprir as nossas necessidades básicas, a exclusão e a falta de representatividade influenciada pelas propagandas que reforçavam o tradicionalismo do homem meritocrata.

Só para termos uma noção: Os dados divulgados pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), mostrava que  em 2010 no Sudeste do país somente 1,2% dos moradores de favelas tinham curso superior completo comparado aos moradores que viviam fora desses locais.

No Brasil a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi a primeira instituição de ensino a adotar o sistema de cotas raciais, em 2003, por meio de uma lei estadual aprovada em 2001, mas ainda assim demoramos para ter um avanço no percentual de moradores de favelas ocupando as instituições de ensino.

Em 2012, quando a questão das cotas para estudantes negros chegou ao Supremo Tribunal Federal, foi votada como constitucional por unanimidade. A consolidação das cotas aconteceu principalmente com a lei nº 12.711, de agosto de 2012, conhecida também como Lei de Cotas.

Já em 2015, após três anos da aprovação, 12,8% dos favelados, em sua maior parcela negros, ocupavam os bancos das universidades e muitos foram os primeiros membros de suas famílias a terem um diploma. Nesse sentido, embora ainda seja um grande desafio para o favelado ocupar esses espaços, temos algumas medidas que têm facilitado a entrada desse público nos espaços acadêmicos.
O desejo de ocupar a universidade tem se dado também pela necessidade de servir como modelo para a própria favela e seguir quebrando os estereótipos sobre os favelados perpetuados na história.

Um exemplo disso é de Paula Assis, de 19 anos, moradora da Maré que sempre teve a vontade de cursar uma área da saúde e que neste ano está prestando prova para medicina.

“Como sou moradora da Maré, negra e pobre, por mais que seja difícil, me esforço ao máximo para garantir um lugar que é meu e também para que todos que vivem aqui possam se espelhar na gente e vê que podem entrar pessoas faveladas na faculdade. Mesmo existindo dificuldades.”

A favela também têm se ajudado através os cursinhos comunitários pré vestibulares que leva em consideração os aspectos socioeconômicos e as dificuldades dos moradores em conciliar as suas atividades para atrair estudantes que almejam o ensino superior. Um dos exemplos disso são os cursinho que atuam na favela da Maré, são eles: Redes de Desenvolvimento da Maré, CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), que atua no território desde 1997; e o mais recente deles a UniFavela, que faz suas atividades na laje de uma casa Alunos do curso pré vestibular UniFavela. Paula Assis de blusa rosa. 

Foto: página do facebook. 
Foto: página do facebook.

De um tempo pra cá estamos passando por uma série de avaliações que têm o objetivo reduzir as políticas públicas/afirmativas, o que limita as possibilidades de envolvimento dos mais pobres nos espaços que são nossos por direito. Mesmo com os mecanismos que têm facilitado o nosso ingresso sendo ameaçados, a favela tem dado as mãos e aos poucos está realçando a sua própria voz, caminhando em prol de um futuro promissor e também tapando as lacunas deixadas durante todos esses anos devido às desigualdades sociais.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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