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A Glória no Resfriado

Semana passada estive resfriado. Desde criança, a sensação de impotência trazida pela enfermidade me faz pensativo. Os médicos e os pais insistem em dizer que a gripe exige repouso, mas minha experiência prática sempre me mostrou que um resfriado bem cuidado dura uma semana, e um resfriado mal cuidado dura oito dias. Os remédios de nada valem: aliviam alguns sintomas, mas não curam o problema pela origem.

A fragilidade trazida pela doença me inquieta. A ideia de sentir-me tão frágil e limitado e ao mesmo tempo não poder fazer nada a respeito me é aterrorizante. A enfermidade traz, com ela, um período de reflexão: ela nos faz sentir mais humanos. As limitações que vem com um simples resfriado servem para nos recordar das nossas próprias limitações humanas. É quando estamos com as narinas obstruídas que percebemos a dádiva que é respirar livremente, e é quando estamos com menos energia que valorizamos a disposição para uma corrida pelas ruas da cidade.

O resfriado é um convite à simplicidade, ao desapego dos excessos.

A debilidade nos convida a retornar ao essencial, porque um corpo enfermo não suporta o supérfluo. A condição precária nos devolve ao que realmente importa. A doença é um ótimo momento para olharmos para dentro e alimentarmos a alma. É tempo de recuo tático, de revisão de rumo, de descobrir o que é que de fato nos faz levantar da cama todos os dias de manhã. É tempo de repensar o propósito da existência e avaliar se estamos agindo de acordo com ele.

O tempo é inexorável, e em uma semana o resfriado deve ir embora. Os sete –ou oito- dias passarão, seja lá o que for feito nesse intervalo. Resta, a cada um de nós, a escolha: passar a semana reclamando da vida ou tirar proveito da situação para descobrir o “lado bom” de estar resfriado, alimentando as necessidades e reflexões mais íntimas do nosso ser, encerrando o ciclo da doença com força interior e humanidade muito mais intensas. Eu fico com a segunda opção.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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