Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

A derrocada da História

terremoto ocorrido na região central da Itália foi assombroso. Mais de 200 mortos e centenas de feridos, muitos dos quais seguem internados nos hospitais locais. E uma constatação desanimadora: quanta história pode desmoronar em questão de segundos.

A região italiana do Lazio, como é conhecida a área atingida pelo brutal terremoto, é repleta de cidadezinhas históricas. Amatrice, uma das cidades mais devastadas, com apenas dois mil e poucos habitantes, havia sido fundada ainda na Idade Média, centenas de anos atrás. Assim como os outros municípios vizinhos, Amatrice vivia basicamente do turismo. A combinação de inúmeros prédios históricos com estonteantes belezas naturais fazia da cidade um grande atrativo para os visitantes. As belezas naturais, essas ninguém poderá tirar da cidade. Mas dos prédios históricos, só restou a famosa Torre Cívica da cidade, datada do século 13 (estamos no século 21, o que significa que de lá pra cá já se passaram cerca de 800 anos!). E ainda bem que ela continua de pé para testemunhar quanta história aquele lugar já viveu, atravessando os séculos.

É muito interessante imaginar quanta história uma cidade como Amatrice conserva em suas ruas. O Brasil foi descoberto em 1500, e séculos antes disso aquela cidade já existia, provavelmente já bem parecida com aquilo que era até semana passada. Suas casas simples e aconchegantes, as ruas tranquilas, o silêncio pacato quebrado apenas por um ou outro turista entusiasmado. Amatrice superou o tempo e conseguiu, em plena era da globalização, manter as raízes e se mostrar firme às tradições. A cidade nunca cresceu, e provavelmente crescer nunca esteve em seus planos. Aliás, por que crescer, já que é possível ser tão próxima da perfeição sendo tão simples e tão pequena?

E, em fração de segundos, Amatrice veio abaixo. Séculos e séculos de construções antigas, repletas de história em cada canto, ruíram, sem aviso. Eu não conheço Amatrice, nem nunca vou conhecer. Posso ir até lá algum dia, mas conhecer a Amatrice de verdade não será mais possível, porque essa ruiu junto com seus prédios históricos. Espero que as tradições e os costumes seculares sejam mantidos, e que, muito em breve, a população possa voltar a ter uma vida semelhante à que tinha antes do terremoto.

Quanto à história de Amatrice, é exagero dizer que ela foi abaixo junto com a cidade. Naturalmente, parte importante da memória histórica de um lugar está guardada em sua arquitetura, e essa parte da cidade realmente ficou no passado. O restante da história, felizmente, permanece vivo na memória secular dos moradores da cidade. E é essa parte que, espero, um dia eu possa conhecer, numa Amatrice reconstruída e novamente tranquila e feliz.

Jose_octavio_colunistafixo-2

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]