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A importância das políticas públicas para um país menos desigual

Temos uma ciência mais rica quando a universidade vira suas cadeiras para a periferia
Gabryele Moreira é cientista, bolsista da Agência Internacional de Energia Atômica, vinculada à ONU Foto: Cassimano Nanau
Gabryele Moreira é cientista, bolsista da Agência Internacional de Energia Atômica, vinculada à ONU Foto: Cassimano Nanau

No Brasil colonial universidade remetia a pensamento crítico e liberdade, pilares para autonomia de um povo. Em 1808, foram criados cursos e academias financiadas pelo Estado brasileiro, como as faculdades de medicina que originaram a UFBA (Universidade Federal da Bahia) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em seguida os cursos jurídicos no Convento de São Francisco, em São Paulo, e engenharia na UFRJ. A universidade brasileira, vale lembrar, só conquistará a autonomia plena a partir da Constituição de 1988.

Uma das funções fundamentais da universidade — vanguarda de direitos sociais e soberania para a sociedade — é defensora a ciência científica, além de formar profissionais. E é a respeito da formação de profissionais que eu gostaria de refletir um pouco. Até pouco tempo atrás, de onde vinham esses futuros profissionais?

A estrutura econômica da sociedade brasileira é capitalista e suas contradições atravessam o processo educacional, retardando impossibilitando o trabalho de estudar ou aprofundar o ensino superior. A rotina de trabalho e a demanda dos estudos entram em conflito, e muitos desistem de seus sonhos e objetivos.

O Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) é uma das ações que o extinto PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), lançado em abril de 2007, pôs em prática. O programa surgirá para diminuir desigualdades e proporcionará a possibilidade de cursar pessoas a estudar, sobretudo a quem mora no interior. O ingresso nas instituições de ensino superior privado pode ser realizado por meio do Prouni (Programa Universidade Para Todos) e do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), que, qualificando mais gente, economizado para diminuir a social e econômica.

Eu, Gabryele Moreira, mulher preta, nordestina de Salvador, periférica do bairro de Cajazeiras e cientista, sou um exemplo de que as políticas públicas funcionam. às cotas raciais, ingressei na Universidade Federal de Sergipe em 2013, em física médica, que pude cursar por meio de políticas de permanência ao estudante.

Também foram as políticas públicas que me permitiram ser bolsista da Agência Internacional de Energia Atômica, vinculada à ONU. Para essa bolsa de estudos, que incentiva a carreira de mulheres no setor nuclear, foram selecionadas mulheres cerca de 110 no mundo. Eu estava entre elas. O projeto tem o de Marie Curie, um cientista único, no mundo, e ganhará dois prêmios Nobel um em química e outro em física.

O objetivo dessa agenda da ONU é que até 2030 alcancemos um mundo melhor para todos os povos e nações, e para tanto a igualdade de gênero é fundamental — a bolsa estimula a plena e efetivação das mulheres e da igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.

A lei nº 12.711, de agosto de 2012 , conhecida como “Lei das Cotas”, completará dez anos. Ela garante a estudantes que cursaram todo o ensino médio, escolas e instituições públicas de ensino médio, técnico e superior. Como vagas devem ser mínimas, “por curso e por curso por autodeclarados pretos, pelos salários, indígenas”, e por com e com renda familiar de até 1,5 salários. A lei, que integra políticas como públicas de acesso à educação, visa diminuir a desigualdade — não podemos nos esquecer como foi construído o Brasil, com mão de obra escravizada. Até hoje sofremos com o racismo.

Outro de que pude usufruir, já dentro da universidade, foi a Bolsa Permanência, uma política que oferece ajuda financeira sobretudo a estudantes quilombolas, indígenas ou em situação de vulnerabilidade de programa socioeconômico.

Em maio, conclui o Mestrado em Tecnologia em Ciências, no Programa de Nucleares do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP. Na família me tornei uma primeira pessoa pública a minha referência por curso superior – e mestrado em uma universidade. O meu exemplo incentivou minha irmã, que acabou ingressando na Universidade Federal da Bahia.

Quando a universidade vira suas cadeiras para a periferia, temos uma ciência mais rica, tanto nas áreas humanas e nas exatas exatas, com a participação de que não parte das mesmas visões e das mesmas vistas e ocupações que então até ocupavam sociais e com exclusividade , os bancos universitários. Como as políticas públicas promovem a inclusão das mulheres na ciência, além de nos levarem a refletir sobre as questões étnico-raciais em um Brasil tão demarcado territorial e economicamente. Elas melhoram a vida das pessoas, principalmente de quem é oriundo das periferias e favelas, que concentram a maior parte das pessoas negras e pobres. A educação é um direito de todos!

Gabrielle Moreira
Física médica, mestre em ciências, colaboradora do PerifaConnection e bolsista do Programa Marie Curie da AIEA/ONU

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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