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Combate às drogas tem custo bilionário e causa destruição sem mudança real

Estudo aponta que foram gastos R$ 5,2 bilhões em repressão nos estados de SP e RJ
Enquanto havia as reconstituições, o BOPE dava apoio com um caveirão. - Foto: Renato Moura
Enquanto havia as reconstituições, o BOPE dava apoio com um caveirão. - Foto: Renato Moura

Por: Raull Santiago / Empreendedor social, midiativista integrante do Coletivo Papo Reto e do PerifaConnection Foto: Renato Moura

Sou um homem de 32 anos e moro desde que nasci no Complexo do Alemão. Jornalista, ativista, empreendedor, pesquisador da área de segurança pública e pai de quatro crianças que estão crescendo dentro da favela.

Ao longo dessas três décadas de sobrevivência e reexistência, mergulhei fundo na história e nas experiências de um país tão brutalmente desigual e que silencia e perpetua importantes problemas sociais, como o racismo.

Agora, em meio à pandemia, vemos a explosão caótica do acúmulo de “nãos” em relação à garantia dos direitos mais básicos para uma grande parcela do povo brasileito. Fome, dificuldade de acesso à água potável, desinformação em massa, desemprego e educação defasada são algumas questões que demonstram o quanto estamos atrasados e retrocedendo. Dentre tantas pautas importantes, escolhi falar sobre segurança pública nesta coluna.

O recente relatório “Um Tiro no Pé” , que integra a sequência de pesquisas “Drogas: Quanto Custa Proibir?”, do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), aponta um custo bilionário para aquilo que ouso dizer ser a maior e mais recente queimação de dinheiro público: a falida e violenta “guerra às drogas”.

O valor de R$ 5,2 bilhões foge da realidade da maioria dos brasileiros que sofre com o aumento cada vez maior da desigualdade por conta da pandemia. Apesar da urgência de investimentos no combate à disseminação do vírus e à fome, essa quantia é a soma dos gastos com a repressão ao tráfico e ao consumo de drogas no período de um ano, e isso apenas nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Atuando em movimentos sociais em prol de populações que vivem em favelas e sendo morador de favela, enxergo esse valor com dor e revolta. Conheço o resultado caótico da política de drogas no nosso país. Vi e vivi violências direcionadas e muito terror, consequentes dessa atrasada e caríssima política de repressão.

No mesmo período em que se aplica a análise do relatório, várias crianças perderam a vida, pessoas inocentes foram assassinadas e feridas, houve muita destruição e nenhuma mudança real. Operando para o genocídio da população negra e sem mudanças positivas, o gasto biolionário com estruturas públicas do campo da segurança pública e justiça criminal é inaceitável e um prejuízo inaceitável para a população.

Precisamos deixar para trás esse modus operandi atrasado, desigual e racista. Que tal começar refletindo sobre os gastos ineficazes de uma política de segurança que não deixa sequer a sensação real de segurança na população? Leiam este relatório e vejam por conta própria.

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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