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Comerciantes de favela criam ideias para os seus empreendimentos crescerem após crise

Pequenas empresas e criativos negócios dentro das comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Para ser empreendedor na comunidade não existe caminho fácil, não existe atalho e não adianta ter cursos ou faculdades específicas. O que faz a diferença nestes território é a criatividade e a garra para vencer.

Empreender por aqui nunca foi fácil, mas depois de quase três anos de pandemia (2020-2022), as coisas se tornaram ainda mais difíceis. Ficou difícil porque as reservas para investimentos dos moradores já haviam sido usadas para os dias que ficaram sem trabalho, uma vez que o tempo ocioso que era usado para tocar esse negócio se tornou precioso para se trabalhar ainda mais para se sustentar.

Diante de um cenário tão adverso ainda tiveram pessoas que se reinventaram e investiram em formas inovadoras de conduzir e criar seus negócios. E dois desses pequenos grandes empreendedores serão apresentados para vocês aqui.

O primeiro de quem vamos falar é Luciano Teixeira de Oliveira, também conhecido como Pia. Esse jovem salva-vidas civil, de 41 anos, já fez de quase tudo nessa vida. Foi militar do exército, trabalhou em loja, vendeu vários tipos de mercadorias… Ele mora na localidade do 314 (parte baixa do morro do Vidigal) e aproveitou parte da varanda da sua casa para criar seu estabelecimento.

Luciano Pia inovou automatizando seu bar e obteve ótimos resultados Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

Luciano percebeu que depois da pandemia com todos os concorrentes lutando para se reerguer, depois dos prejuízos acumulados, ele teria que inovar para conseguir manter sua clientela e conquistar outros. Como ele precisa ficar boa parte do seu dia ausente porque concilia sua atividade empreendedora com o seu trabalho formal, num tradicional clube da Zona Sul, ele resolveu automatizar seu bar e fazer um atendimento à distância.

“Como eu já não podia ficar 100% do tempo no bar porque o meu trabalho voltou a ser presencial, resolvi colocar uma câmera posicionada estrategicamente (direcionada para os freezers), espalhar pelo bar o QR-Code que direciona os pagamentos diretamente para a minha conta, através do Pix, mantenho o bar sempre aberto. Tenho um aplicativo no celular que me permite acompanhar em tempo real a câmera do bar e assim consigo manter ele em funcionamento mesmo de longe”, explicou Pia.

Quando questionado sobre ter medo de ser enganado pelos seus clientes, Luciano foi enfático. “A minha relação com os meus clientes é baseada na confiança e eu nunca tive grandes problemas com isso. Eu criei um sistema que é bom para todos, mas se alguém tentar me enganar, vai ser uma vez e essa pessoa sairá perdendo”, completou. 

Os frequentadores do bar são muito fiéis e muitos costumam ir ali por não encontrarem em outros estabelecimentos esse atendimento diferenciado. Esse é o caso de Elizangela Santos, de 27 anos, uma gerente de restaurante que frequenta o bar desde o início.

“Eu sou uma pessoa que sempre gostou de fazer amizades e me juntar com elas em sociais, churrascos, confraternizações e coisas assim. No bar do Pia tem tudo isso e também é um bar bem família que está sempre à disposição para servir a todos a qualquer momento e em qualquer horário. Isso para mim também é o que mais me atrai porque tem dias que eu chego muito tarde e lá é o único lugar que ainda está aberto”, explicou.

A receita de sucesso do bar “Embalo do 14”, também conhecido como bar do Pia, é bem simples e consiste principalmente na relação de segurança existente entre o dono e os frequentadores. O aparato é bem simples e econômico. A estrutura conta com uma câmera de alta resolução com captação de áudio, placas informativas distribuídas pelo bar, adesivos com o QR-Code também espalhados pelo ambiente e alguns freezers com cervejas e refrigerantes para os clientes se servirem à vontade.

Outra empreendedora que inovou e conseguiu se sobressair no pós-pandemia foi Silvia de Araújo Machado, de 53 anos, do Complexo do Alemão, com os seus barris de drink e chopp. Ela, que já comercializou outros tipos de mercadoria (doces, salgados, bolos), já trabalhou com o ramo pet também, viu numa ideia que conheceu através de um vídeo da internet um novo conceito de negócio. Ela se apaixonou imediatamente e com muita garra colocou a ideia em prática.

“Eu vendia bolos, doces e salgados já fazia bastante tempo.Já fiz também hospedagem de cães e hoje trabalho com o chopp e os drinks. A ideia de entrar nesse negócio surgiu quando vi na internet a propaganda do “Carro dos Drinks” e me apaixonei. Eu sugeri para minha filha e no outro dia já estávamos comprando os equipamentos”, explicou Silvia.

No momento o novo empreendimento se encontra em fase de testes e tem conseguido bons resultados junto à clientela. Silvia concilia essa atividade com a hospedagem de cães, que funciona em sua casa, sempre contando com a parceria de sua filha Jade Araújo. O objetivo delas é que esse negócio cresça e traga a tão sonhada estabilidade para a família.

O “+1”, conta com uma estrutura completa para servir drinks e chopp de forma itinerante (de fácil deslocamento) e no momento atende na entrada da comunidade da Grota, no Complexo do Alemão, todos os sábados, durante todo o dia; e aos domingos na quadra do “Bloco Cacique de Ramos”.

O +1 Drink faz o maior sucesso no Complexo do Alemão e no Cacique de Ramos
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

As empreendedoras estão buscando um ponto fixo para montarem suas estruturas e receberem seus clientes. No momento estão fazendo experiências em diversos locais para ver em qual conseguem mais retorno.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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