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Coronavírus: A luta diária de duas moradoras do Alemão que sobreviveram à Covid-19

No Complexo do Alemão o número de pessoas recuperadas do vírus passa de 285, e não basta se curar, tem que sobreviver diariamente diante do descaso dos governantes, que não dão a assistência necessária, para que essas pessoas vivam com o mínimo de dignidade
Moradores de favela. Foto: Bruno Itan / Olhar Complexo
Moradores de favela. Foto: Bruno Itan / Olhar Complexo

Foto: Bruno Itan / Olhar Complexo

Desde o início da notificação do vírus no Brasil, o maior medo para a população que mora em territórios vulneráveis era de que forma conseguiriam se proteger, já que a maioria das casas nas favelas são aglomeradas em becos e vielas de difícil acesso, e com falta de estrutura como: água, luz, internet, telefone, entre outras coisas. A favela sempre foi esquecida, abandonada e nunca foi prioridade para os governantes. 

Chegamos ao mês de julho com a triste marca de 3.619 pessoas infectadas pelo covid-19 nas 25 favelas que o Voz das Comunidades acompanha através do Painel de Atualização de Coronavírus nas Favelas do Rio de Janeiro. O fato é que a pandemia de coronavírus não acabou, mesmo com a flexibilização e as várias instituições importantes que estão fazendo testes em busca da vacina, a cura ainda não foi encontrada. Por isso, fique em casa e se tiver que sair, tome o cuidado necessário.

Muitas pessoas não resistiram a batalha e vieram a óbito, só no Complexo do Alemão foram 37 vidas interrompidas pela negligência de um estado que nega o direito básico e fundamental a qualquer cidadão: o direito a saúde. Mas nem tudo é luto, e sim, muita luta e histórias inspiradoras para nós acreditarmos que o vírus pode sim perder a batalha. 

Elizabete Lidugero, 56 anos, que é moradora da Canitar, Complexo do Alemão teve covid-19. No início da pandemia ela não pode ficar em isolamento social por conta de trabalho. E segundo relatos da Elizabete, não imaginou que o vírus poderia ser tão cruel. “Eu dormir bem, mas ao despertar, meu corpo estava todo quebrado, senti febre, perdi meu paladar, uma dor de cabeça insuportável, corri para o Upa e fui diagnosticada com Covid-19, tive medo de morrer, foram 14 dias difíceis, tive todos os sintomas, mas não me internaram, não tinha um remédio exato para tratar o vírus eu só tomava dipirona para baixar a febre.”

Como não pode se isolar, seu marido que já passou por um transplante também pegou o vírus. “Eu fiquei muito angustiada com a situação dele. Tinha acabado de me recuperar e meu esposo cai doente, por conta dele ser transplantado ele precisou ficar uns dias no hospital, mas graças a Deus teve alta.”

Já a Núbia Silva, de 37 anos, moradora da Nova Brasília, outra localidade no Complexo do Alemão, perdeu sua renda no período de pandemia, Núbia trabalhava por produção e com o isolamento social, ficou em casa com mais 3 crianças e seu esposo. A moradora tentou pegar o auxílio mas até hoje não conseguiu.

Núbia seguiu à risca, todos os procedimentos: permaneceu em casa, usou a máscara, álcool em gel e evitou aglomerações, mas numa única ida ao mercado, foi o suficiente para pegar o covid-19, ela fez o exame que testou positivo para a doença: “Eu senti mal estar, logo, dor intensa na cabeça, febre, coriza, cansaço, ardência no nariz, falta do paladar e olfato, mas não tive perda de apetite, pelo contrário sentia muita fome.” diz.

Como seus filhos são ainda pequenos, ela não conseguir se manter isolada dentro de casa e toda a família tive sintomas do vírus, mas todos foram assintomáticos. Por apresentarem sintomas leves a moderados da doença, não precisaram ser hospitalizados. Já sem sintomas, a família permanece dentro de casa, mas ainda sim com muita dificuldade, segundo Núbia a vida financeira está parada, ela que antes da pandemia, estava fazendo obras na casa, trabalhava, ajudava no sustento das crianças, agora, sem renda, sem auxílio e sem trabalhar, não sabe como vai conseguir se manter.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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