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Descaso: Falta de insumos básicos prejudica funcionamento da Clínica Zilda Arns, no Alemão

Moradores reclamam da falta de produtos de higiene e álcool em gel e profissionais da limpeza estão com o salário atrasado há dois meses e sem previsão de pagamento
Clinica da Família - Zilda Arns no Complexo do Alemão Créditos: Selma

A equipe do Voz das Comunidades esteve nessa terça feira (25) na clínica Zilda Arns para apurar denúncias de moradores pela falta de material de limpeza e álcool em gel no local e conversar com funcionários sobre o atraso dos pagamentos.

Quem chega na clínica da família Zilda Arns no Complexo do Alemão se depara com uma situação bem desagradável. Pacientes não têm álcool em gel, papel higiênico, papel toalha, sabonete e nem água. A situação é tão grave que uma moradora reclamou nas redes sociais.

Bebedouro interditado. Créditos: Voz das Comunidades

“Atenção população do Complexo do Alemão. Vamos reclamar para ver se nossos governantes tomam vergonha na cara. Ontem, eu fui a Clínica da Família Zilda Arns. Fui muito bem atendida, só que passei um tempo lá aguardando para ser atendida e vi que não tinha álcool em gel para passar nas mãos. Fui ao banheiro e não tinha sabão. Fui em todos os suportes de álcool, e nada. Só fazemos a higienização das mãos quando levamos nossos álcool. Se não levarmos, não fazemos. E o prefeito não vê isso”. Veja abaixo a postagem completa da moradora em sua rede social.

Moradora reclama da falta de material na clínica da família.

A equipe do Voz das Comunidades esteve no local e constatou a falta de material de higiene. Ao entrar na clínica, uma agente de saúde passa álcool em gel nas mãos dos pacientes, mas só na entrada constatamos isso. Todos os suportes de álcool espalhados pelo hospital estão vazios. Os banheiros estão sem sabonetes, papel higiênico e papel toalha, e os bebedouros estão interditados.

A moradora da Fazendinha Ana Paula foi fazer um exame na clínica da família e teve que comprar água para beber, pois não tinha na clínica. “Os bebedouros estão interditados, não consegui beber água. Fui falar com a agente e ela disse que não tinha”.

Já o Adriano, morador da área 5, falou sobre a falta de álcool em gel: “Difícil você chegar na clínica e não ter um álcool em gel para passar na mão. É uma maneira de se prevenir do coronavírus. Como faz? Os banheiros estão interditados e o único que está funcionando está maior fila ”.

Adriano queria entender como uma Clinica da Família não tinha álcool em gel em plena pandemia. Foto: Selma Souza

Um funcionário da limpeza, que não quis se identificar, confirmou que está com o pagamento atrasado e que a antiga empresa não regularizou a situação. “Estamos há dois meses sem salário. Só nos deram R$ 100,00. Nossos ticktes estão atrasados. Essa semana entrou uma empresa nova, mas ela não vai assumir as dívidas da outra. Estamos esperando, vindo trabalhar todos os dias. E realmente está sem material, mas a empresa que assumiu disse que vai mandar os produtos, mas até agora nada”.

Em relação à antiga empresa, o funcionário está falando sobre a CNS Nacional de Serviços. Entramos em contato com a empresa que, em nota, disse: “No caso da Clínica da Família Zilda Arns, trata-se de um serviço incluso num contrato com a Empresa Pública de Saúde do Rio de Janeiro – RIO SAÚDE, que por sua vez administra diversas unidades da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro – SMS-RJ. O contrato com a CF Zilda Arns, pertencente à CAP 3.1, da SMS-RJ, iniciou em 21 de fevereiro de 2020 e terminou em 18 de agosto de 2020. É importante observar que neste período acusamos o recebimento de apenas 40% do valor faturado, ou seja, estamos sem receber as Notas Fiscais dos meses de maio, junho, julho e agosto (18 dias), perfazendo assim um total de 60% dos serviços sem o devido recebimento. Por diversas vezes buscamos entendimentos com a direção da RIO SAÚDE visando o pagamento dos respectivos créditos e alertando ainda, que sem os referidos pagamentos poderíamos ter problemas na execução dos serviços, já que havia se esgotado todas as formas de captação de recursos em instituições financeiras. Por outro lado, a RIO SAÚDE alega que, por não receber os repasses da SMS-RJ, fica impossibilitada de pagar seus prestadores de serviços, no caso específico à CNS. Lamentavelmente não foi dada a atenção devida aos nossos pleitos e hoje, 10 dias após o encerramento dos contratos continuamos sem receber os mesmos 60% dos valores faturados.
Esperamos que à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro – PCRJ, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro – SMS-RJ, e a Empresa Pública de Saúde do Rio de Janeiro – RIO SAÚDE, envidem os esforços necessários para a solução imediata dos problemas em questão”.

Já a nova empresa é a TCS Serviços, que até o fechamento dessa matéria não respondeu a nossa equipe.

Enquanto os problemas na Clínica da Família não são resolvidos, Dona Maria, moradora do Loteamento, lamenta a situação: “Eu estou com vontade de ir no banheiro, mas não tenho coragem de ir num local sujo, sem água e sem produtos de higiene. Isso é uma vergonha! Mas a culpa não é dos funcionários, eles estão ali, a culpa é de quem não dá o material para eles trabalharem. Como faz? Sem produto não tem como limpar”.

Para Dona Maria é uma vergonha toda essa situação que os pacientes e funcionários estão passando. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

A Secretaria Municipal de Saúde respondeu a nossa equipe: “Não é verdade que falte álcool em gel na Clínica da Família Zilda Arns. A unidade dispõe de estoque do insumo, disponível para profissionais e usuários. A diferença é que desta vez o fornecedor mandou frascos e não recipientes para uso nos dispenseres. Atendendo normativas sanitárias, para diminuir o risco de contaminação durante a pandemia, a unidade mantém um único bebedouro em funcionamento, com higienização reforçada. Sobre materiais de higiene e limpeza, a empresa prestadora de serviço assumiu o contrato na última segunda-feira, dia 24, e está fazendo o abastecimento das unidades. A previsão de regularização dos estoques é nesta quinta-feira  (27), para todas as unidades atendidas na região. A Rio Saúde está cobrando da antiga prestadora de serviço, a CNS, para que quite os débitos trabalhistas pendentes dos ex-funcionários. O conserto do vazamento já está sendo providenciado.”

Veja como estão os banheiros

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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