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Ex-morador do Alemão, Bailarino que mora na Dinamarca, visita projeto social ViDançar

Luís Fernando visita suas raízes no projeto ViDançar e inspira nova geração de bailarinos
(Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades)

Olhar para frente sem deixar de olhar para trás é a mensagem que Luís Fernando, de 21 anos, traz na sua bagagem profissional de todos os palcos por onde passou. Do Complexo do Alemão para o mundo, o bailarino profissional que atualmente mora na Dinamarca, visitou o projeto que o revelou no ramo: O ViDançar.

Ellen Serra, 45 anos, é advogada, produtora cultural e diretora do projeto ViDançar, no Complexo do Alemão. O projeto nasceu em 2010 e até 2022, já atendeu cerca de 1600 famílias. Atualmente, 300 famílias são cadastradas no Rio de Janeiro e 150 participam do projeto no sertão da Bahia. Ellen retrata o ViDançar como um projeto que atua firmemente na vida de crianças e jovens do Complexo do Alemão, ao mesmo tempo que traz a recompensa das vitórias. A presença de Luís Fernando na visita ao projeto é a confirmação e a diretora relembra o início. 

“Uma relação de mãe e filho”, relata Ellen (dir) que apoiou e apoia Luís durante sua trajetória na dança.
Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

“O Luís Fernando apareceu em 2013. Menino pequenininho cheio de vontade e cheio de sonhos. Ele veio pra gente e nós o abraçamos e começamos a plantar a sementinha no coração dele para seguir esse sonho e pudesse fazer a profissionalização.” Orgulhosa, ela destaca a trajetória de Luís e de como ele leva o nome do Brasil para o mundo através da dança e o que a visita dele representa para o projeto. “É maravilhoso ele estar aqui porque as crianças conseguem enxergar que sim, é possível”.

Em 2021, Luís Fernando Rego, 21 anos, se mudou para Dinamarca, onde atualmente compõe a companhia Tivoli Ballet Skole. Antes disso, o bailarino tinha passado pela escola de teatro Bolshoi, em Joinville, Santa Catarina, e o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas tudo começou no ViDançar, onde começou a dar seus primeiros passos na trajetória profissional. Incentivado por Ellen, Luís não desistiu e seguiu firme e forte se destacando nos palcos por onde passou.

Um pouco antes de conceder a entrevista, Luís Fernando reúne as crianças do projeto no meio do salão. Rodeado por olhos curiosos e orgulhosos, o bailarino traz um discurso inspirado a quem o assiste, tanto presencialmente quanto virtualmente. O ViDançar é tão vasto, que alcança alunos e técnicos de diferentes partes do Brasil e do mundo. “Tudo é possível. Acreditem nos sonhos de vocês. Muitas pessoas vão dizer não pra você, mas tudo é possível quando você acredita. A sua hora vai chegar.”

Durante o discurso, Luís Fernando inspira a platéia. Ele relembra o passado, no caminho que quase tomou, toca na questão social, mas sem deixar os olhos curiosos se desprenderem a atenção. Coloca grande ênfase na questão da base familiar e do quanto isso foi importante na sua trajetória. “Eu vim de uma família de oito irmãos e eu sou o único bailarino. Me questionavam quando eu falava que eu queria ser bailarino. ‘Mas como assim? Isso não dá dinheiro!’”. Mas Luís insistiu. E se destacou. No discurso, ele segura a mão de Ellen, a diretora do ViDançar, que nunca o deixou desistir. Ele relembra de como ela o sustentou quando ele recebera um não durante sua trajetória. “Quando eu quis desistir, ela me pegou pela mão e disse que eu seria o melhor bailarino da escola”.

Hoje, voltando ao ViDançar, ele relata a gratidão que é estar presente na escola que tanto o acolheu. “É uma sensação de gratidão ver no sorriso dessas crianças que tudo que estou falando e toda energia que estou passando para elas, transformará. Enquanto elas vem com a energia de confiança, eu trago a energia de inspiração. É impossível não passar pelo Rio de Janeiro e não vir aqui na ViDançar. É preciso ter essa troca. É preciso ‘reenergizar’”.

A representatividade é algo que Luís Fernando leva consigo e isso atinge a todos ali na volta. Isso era notável pelas pessoas, principalmente as mães de alunas e alunos, com celulares nas mãos que faziam transmissões ao vivo pelas suas redes sociais enquanto Luís discursava. Sobre isso, ele relata que as pessoas estão sempre o acompanhando, de quais serão os seus passos e onde ele estará dançando. “Eu, por ser um bailarino preto, nascido e criado na favela, dançando na Dinamarca e frequentando lugares que pessoas negras jamais foram vistas, faz com que as pessoas se inspirem e elas sempre tentam fazer com que esse meu momento seja verdade na vida delas.” Sobre as críticas, Luís relata que são pontos que acabam com os sonhos das pessoas, mas que fazem parte. Entretanto, partindo dele, relata que tem cuidado com publicações nas redes sociais, uma vez que objetiva ser uma personalidade que inspira pessoas.

Ao voltar ao ViDançar, Luís Fernando revela sua ambição em ajudar o ViDançar. “Quero fazer com que o ViDançar se torne uma grande escola que realize sonhos de crianças que querem ser bailarinos profissionais, tanto fora do país como aqui no Brasil. É fazer do ViDançar, também, um caminho de formação de professores e de idiomas.” Por fim, a mensagem para novas gerações, ele finaliza, “Determinação, disciplina. E não deixar que ninguém fale que não é possível”.

O Projeto ViDançar está localizado na Av. Itaóca, 1975, na sala 201, no Complexo do Alemão. Interessados em acompanhar, participar e/ou ajudar o projeto, podem contatar através do Instagram @projetovidancar.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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