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Mães de favela lutam para que seus filhos tenham acesso à educação

Liziane de Melo, moradora do Complexo do Alemão, conta como tem sido sua rotina com os quatro filhos, dois deles com espectro autista

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Desde março do ano passado, com a chegada do novo coronavírus, ficaram evidentes os diversos impactos sociais que se agravaram por conta da pandemia da Covid-19. Entre eles, um dos mais graves para o cotidiano dos moradores de favela foi o fechamento das unidades de ensino. Moradora do Complexo do Alemão e mãe de quatro filhos, sendo dois diagnosticados com autismo, Liziane de Melo sabe bem como é a luta diária pela formação dos filhos.  

Por conta das medidas restritivas, muitas escolas ainda estão fechadas, com restrições no número de alunos no ensino presencial e com a prática do ensino remoto. A realidade de muitos moradores da favela, porém, é no sentido contrário deste ensino à distância, por fatores como a ausência de uma boa qualidade de internet, falta de estrutura adequada para estudar em casa ou até mesmo um aparelho eletrônico, como celular, tablet ou notebook/computador, para assistir às aulas. Liziane de Melo, de 32 anos, é moradora do Morro das Palmeiras, no alto do Complexo do Alemão, e conta como tem sido este período para sua família.

Liziane tem a expectativa da volta das aulas presenciais: “Meu sonho é o dia que vai voltar. Tenho esperança que as crianças possam voltar a estudar e crescer de verdade novamente, porque estamos parado no tempo”.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Escolas fechadas

“A falta da escola pra mim é uma demanda crucial. Pois eu tenho quatro crianças em casa hiperativas, sem nada para fazer. É angustiante para elas. E eu estou depressiva, ansiosa, e eles também. Fora as questões para eles que vão se agravando por estarem dentro de casa. Eu não posso tratar da minha saúde. Tenho um nódulo no pescoço que não tenho tempo para tratar, porque onde vou deixá-los bem? A escola sempre foi meu porto seguro”, relata a moradora. 

O lazer acaba sendo restrito por conta das poucas opções de entretenimento e cultura na comunidade
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Dos três meninos, Pedro é o mais velho e tem autismo. A mãe explica como a ausência da escola tem agravado a saúde dele. “Esse distanciamento acaba prejudicando ele ainda mais. Ele vinha melhorando, mas o espaço da escola faz falta também. A interação com outras crianças era fundamental”. Além desta questão, na casa da família tem apenas um aparelho celular, que é utilizado pelos três estudantes e acaba não dando conta de todas as atividades.

A suspensão nas aulas presenciais impacta o desenvolvimento infantil 

Uma das etapas mais essenciais no desenvolvimento infantil é a convivência com outras crianças em espaços sociais (escolas, creches, parques), como aponta a pesquisa O valor do brincar livre, que destaca a importância da troca de conhecimentos e experiências para auxiliar no amadurecimento. Em março deste ano, pesquisa sobre o impacto da aprendizagem para crianças da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou que a suspensão das aulas presenciais e, consequentemente, do convívio coletivo aumentou os sinais de déficit no desenvolvimento da expressão oral e corporal de alunos. 

Cleice Neves, que trabalha como explicadora há 14 anos na região da Fazendinha, explica que as aulas presenciais fazem falta para as crianças e que sem esse convívio na escola o aprendizado fica dificultado: “Tem sido muito difícil, porque as crianças estão sendo prejudicadas. E fica ainda mais complicado pela falta de recursos para acompanhar as aulas. Então, torna o trabalho mais delicado, porque é necessário ter mais atenção e compreensão com aquele aluno. Muitos que vivem essa atual situação são ótimos alunos. Mas estão sem a base necessária da escola para se desenvolver”.

Liziane criou uma vaquinha para arrecadar uma ajuda financeira, com a meta de se mudar com a família para uma localidade mais baixa do Complexo do Alemão.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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