Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Mesmo em meio à pandemia, SEOP emite notificação de desocupação para comerciantes do Engenho da Rainha

Questionada, a Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio de Janeiro ainda não respondeu sobre o caso

Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

“Meu Deus. Eles querem tirar o nosso pão de cada dia”, desabafa Cinara Nunes, de 28 anos, enquanto descreve a situação vivenciada por ela e outros comerciantes locais na Estrada Adhemar Bebiano, no Engenho da Rainha, que receberam a notificação da Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio de Janeiro solicitando a remoção dos empreendimentos na área.

Localizado na Zona Norte, o lugar possui um ponto de estabelecimentos comerciais administrado por moradores da região. De acordo com os relatos dos trabalhadores, as lojas tornaram-se a única fonte de renda durante a pandemia do coronavírus. Cinara comenta que trabalha com vendas de eletrônicos no quiosque das Mariaa’s Cell e, atualmente, o negócio sustenta uma família de quatro pessoas.

“Estamos ali há anos e, em tempo de pandemia, chega a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro querendo tirar as famílias dali? Assim, do nada! Sem mais e nem menos, quer tirar o sustento de muita gente. Nesse momento de Covid-19, o meu esposo perdeu o emprego. Eu já estou desempregada. Temos duas filhas em casa, uma de 9 meses e uma de 9 anos, que pede Danone e biscoito. Como faz se a prefeitura fechar ali?”, expõe.

Cinara Nunes, da Mariaa's Cell
Cinara Nunes é uma das comerciantes locais que receberam a notificação de remoção dos empreendimentos no local.
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação.

Cinara ainda complementa que os moradores da região incentivam o comércio no local, pois a presença aumentou a iluminação em uma rua que antes era pouco movimentada.

“Um monte de problema em tudo que é área e eles vem criminalizar o trabalhador que já tem 1000 problemas? Isso é uma covardia. Por que não dão condições e caminho para legalização? Uma licença ou uma taxa mínima anual. A presença desse comércio na área veio diminuindo o assalto e alimentando a iluminação na área”, comenta.

Em forma de desabafo, o barbeiro Felipe de Matos publicou sobre o cotidiano presenciado na região. Atuando na área há mais de sete anos, o dono da barbearia Tapa no Telhado lamentou a forma que a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro conduziu a ação. De forma inusitada, os trabalhadores receberam a notificação de funcionários públicos.

A Barbearia Tapa no Telhado, de Felipe de Matos, também recebeu a notificação de remoção do empreendimento. Foto: Reprodução/Instagram.

“É, galera, em plena pandemia onde as coisas não se encontram fáceis pra ninguém, hoje tivemos uma surpresa. Choque de ordem! Notificando e arrancando algumas coisas ou dando o prazo de 7 dias para esvaziar o local.
Já estou por aqui há 7 anos e a única coisa que consegui colocar foi um relógio. Quem me conhece sabe como eu lutei para ter essa barbearia, cortava em uma tenda. Já fui várias vezes tentar legalizar, mas sempre sem sucesso, alegando que o meu local é uma calçada e que não é possível a legalização. Calçada essa que não impede ou interfere a passagem de nenhum pedestre”, compartilha.

O dono da barbearia ainda ressalta sobre as dificuldades de atuar de forma independente e no meio da pandemia do coronavírus na publicação.

“Eu sei o risco que nós corremos, mas ninguém faz nada por nós, só querem nos atrasar. Daqui sai o meu sustento e de várias famílias. Enquanto estamos correndo atrás de um emprego digno, sem atrapalhar ou prejudicar ninguém, o estado e o município não olham para nós. Somos autônomos, somos trabalhadores como qualquer outro. Só queremos deitar e acordar tranquilo de que teremos um local para trabalhar sem a prefeitura ter derrubado ou sem precisarmos sair correndo como se fôssemos bandidos. É triste, é revoltante! Sou a favor da legalização e luto há anos para conquistá-la, mas alguém precisa olhar para a gente, alguém precisa nos ajudar. Não podemos perder algo que lutamos tanto para conquistar assim! O que vai ser de nós e de várias famílias brasileiras?”, complementa.

Em nota, a Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio de Janeiro esclareceu a situação dos empreendimentos comerciais na Estrada Adhemar Bebiano.

“Existem 12 processos abertos há mais de 15 anos, todos com denúncias sobre irregularidades encontradas nas vias públicas. Sendo assim, é função da Coordenadoria de Controle Urbano (CCU), juntamente com a SEOP, o atendimento aos referidos processos. Todas as notificações feitas no ato da ação foram por atividade econômica sem autorização em área pública. O prazo dado foi de 7 dias por ser razoável para retirada das estruturas fixas no local”, expõem em nota a Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio de Janeiro.

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]