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Moradores do Jacarezinho e Manguinhos relatam cotidiano de violência na Zona Norte do Rio

O último final de semana ficou marcado pelo clima de violência em ambas as comunidades
Foto: Bruno Itan
Foto: Bruno Itan

No último final de semana, as comunidades do Manguinhos e Jacarezinho, ambas na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, sofreram com casos de violência pública por parte do braço armado do estado. Ao todo, cinco pessoas foram baleadas e um homem morreu. Após quatros dias de muito tiroteio nas localidades, moradores relataram ao Voz das Comunidades como tem sido o dia a dia na região.

“Foi feito todo esse projeto ‘Cidade Integrada’, que de integrada não tem nada. Na realidade, foi uma desintegração. A comunidade caiu no ostracismo de empobrecimento, o comércio caiu em dificuldade e a comunidade sofreu com diversas violações. Tudo não passou de um projeto eleitoreiro, que veio junto com um silenciamento dos moradores”, afirma Sandra, articuladora do grupo “Mães do Jacarezinho, do Luto para Luta”.

Falta investimento, sobra violência

Na sequência, a moradora destaca que, após a operação letal na comunidade do Jacarezinho, em maio do ano passado – onde 28 pessoas morreram durante uma operação policial, no que ficou conhecida como a mais letal da história – não foi feito mais nada pela comunidade.

“A comunidade só recebeu o braço armado do Estado. Não foi feito nada em benefício ao Jacarezinho. Como aconteceu nesta quinta-feira, onde eles (os policiais) passaram por cima de várias barracas de camelôs em frente a comunidade (…) É um projeto de morte, porque gritamos e parece ninguém nos escuta. No dia da consciência negra (último domingo), a sensação é que tínhamos voltado para a senzala.”

Assim como muitos outros moradores, Sandra teve o seu comércio fechado por conta da violência na região, situação que afeta diretamente a renda da sua casa. Com isso, além dos comerciantes impedidos de trabalhar, escolas e postos de saúde se encontraram fechados nos últimos dias, pelo mesmo motivo.

Realidade similar em Manguinhos

No Manguinhos, comunidade vizinha ao Jacarezinho, a situação também é muito delicada para a localidade. Paulo Henrique Vieira, vice-presidente da Associação de Moradores Parque João Goulart, relata o sentimento de tristeza com os últimos acontecimentos na região.

“Foi muito difícil. Policiais do BOPE iniciaram uma incursão na noite do último domingo. Tinham muitas pessoas nas ruas da comunidade. Um desespero e um esculacho com os moradores. É um sentimento de muita tristeza. Porque nossas crianças já não tem muita diversão e, no domingo, dia em que as famílias se unem, tem que ficar escondida de tiroteio”, lamenta.

Segundo o líder comunitário, a situação estabilizou na região nesta segunda-feira.

Projeto questionável

Procurado pelo Voz das Comunidades, a Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro se manifestou sobre a situação das duas comunidades.

“No nosso entendimento essa situação é mais uma prova viva do fracasso da política de segurança pública do Governo do Estado, em especial do projeto Cidade Integrada, a UPP requentada do Cláudio Castro. Não podemos continuar admitindo uma política de confronto, que põe em risco dezenas de milhares de pessoas faveladas, que fecha escolas, que impede as pessoas de irem trabalhar. Precisamos mudar a lógica da segurança pública para uma lógica de preservação das vidas negras e faveladas”, diz Derê Gomes, dirigente das Brigadas Populares, da Federação de Favelas do RJ.

Procurada, a PM informou que não houve operação na comunidade do Jacarezinho. As equipes da Polícia Militar estão em patrulhamento na região. Além disso, enfatizou que as ações ostensivas são baseadas em protocolos rígidos de atuação e preceitos técnicos. “Um dos objetivos da Polícia Militar é a preservação de vidas, sejam elas as da população em geral ou as dos policiais militares”, disseram.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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