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Painel do Voz das Comunidades completa 2 anos divulgando casos de Covid-19 das favelas do Rio

Na tentativa de tornar público as consequências do Coronavírus nas comunidades do Rio, Renato Moura idealizou o Painel; 40 favelas são acompanhadas, desde então, a partir dos dados disponibilizados pela Prefeitura
Foto: Jacqueline Cardiano / Voz das Comunidades
Foto: Jacqueline Cardiano / Voz das Comunidades

Quem se lembra das notícias iniciais sobre o Covid-19, poderia não imaginar as proporções que a doença tomaria ao redor do mundo. Os primeiros casos de contágio foram registrados na cidade de Whuan, na província de Hubei, na China, em 2019. Um mês depois, em janeiro de 2020, autoridades chinesas divulgaram a descoberta de um novo tipo de coronavírus. Até o surgimento da recém variante, os coronavírus raramente causavam efermidades que poderiam levar à morte. No entanto, a situação foi diferente com esta. Em consequência disso, a Organização Mundical da Saúde (OMS) declarou pandemia, após rápida difusão.

Como já era esperado, a Covid-19 atingiu números alarmantes no Brasil. O posicionamento do Presidente da República, Jair Bolsonaro, pouco ajudou a conter o caos da saúde pública, devido ao grande número de internados. Bolsonaro, em discurso, logo no início da pandemia, disse que o novo coronavírus se tratava apenas de uma “gripezinha”. Essa tese contribuiu para que muitas pessoas não levassem a sério o contágio, a quantidade de doentes e mortes causadas pela Covid-19. 

No município do Rio, a população mais pobre foi – e ainda é – a mais atingida pela pandemia. Em 2020, dados constavam sobre as notificações por bairros. Mas era preciso expor o que realmente estava acontecendo no interior das  favelas. Era importante verificar, além do que era dito no boca a boca, quantas pessoas tinham sido infectadas pela doença. E, acima de tudo, evidenciar que o coronavírus “não estava para brincadeira”. Pois, não se tratava de uma gripe qualquer.

Segundo dados disponibilizados pela Fiocruz, em julho de 2020, no Complexo do Alemão, Jacarezinho, Acari, Rocinha, Costa Barros, Vidigal e Barros Filho, a taxa de morte pela doença chegou a 19,5%. O número era o dobro comparado aos bairros que não possuem favelas, o que correspondia a 9,2%, na época da divulgação do boletim sobre a pandemia nas favelas.

Já observado anteriormente essa situação, meses antes, surgiu o Painel Covid-19 nas favelas, que tem por um dos objetivos não silenciar a presença do vírus nas comunidades.

Painel Covid-19 nas favelas
O Painel era atualizado diariamente, às 19h, com as informações e dados da Prefeitura do Rio de Janeiro e o Governo Estadual. Do dia 21 de março em diante, 40 favelas passaram a ser acompanhadas.
Foto: Divulgação

Remando contra a maré: A importância da divulgação das informações sobre a doença

Percebendo a lacuna de informações oficiais relacionadas ao contágio, o Voz das Comunidades, em 2020, lançou o Painel Covid-19 nas Favelas. No dia 10 de abril (2022), a iniciativa completou dois anos, com dados atualizados. Durante o alto pico da pandemia, atualizava-se diariamente, depois passou a ser 1 vez por semana no portal e no aplicativo.

Renato Moura, chefe de redação Voz das Comunidades, idealizador e organizador da iniciativa, ressalta a importância da divulgação das ocorrências. “O painel surgiu porque estava tendo um aumento de casos muito grande nas favelas e a gente não tinha dados. E aí, a gente falou: “a gente precisa fazer alguma coisa!””.

Renato ainda fala sobre as características dos territórios. Nas comunidades, o distanciamento, muitas vezes, não é possível devido à arquitetura. Casas pequenas, próximas umas às outras e descaso com o vírus, impulsionado por muitas fake news, facilitaram a proliferação da doença. “Na favela não existe distanciamento social. Entre máscara e comida, é claro que as pessoas vão comprar comida. Porque elas não têm condição de ficar comprando máscara, não tem condição de se proteger contra a Covid-19”. 

Como dos dados são disponibilizados 

O Painel obtém os dados através da Prefeitura do Rio. Logo, isso só é possível através dos CEPs cadastrados de pacientes. “A gente pegou todos os CEPs que existem em todas as ruas do Alemão, da Penha e das demais favelas. O Voz faz hoje todo esse mapeamento”, afirma Renato.

Através da plataforma, é possível verificar os números totais de atingidos pelo coronavírus, registro de mortes e de recuperados. Além disso, gráficos da contaminação também podem ser identificados no painel. 

Até o dia 8 de abril, o Painel computou 8.9293 casos confirmados de Covid-19 pelo painel, com 2.824 mortes e 36.246 recuperados. Os locais mais afetados pela doença foram o conjunto de favelas do Complexo da Maré, seguido da Rocinha e Complexo do Alemão. Todas as sextas-feiras, atualiza-se os recentes casos.

Entretanto, a Prefeitura do Rio está com os dados desatualizados em 27 favelas, desde o dia 04 de março. O problema acontece com frequência e dificulta o Voz das Comunidades de anunciar a situação da Covid-19 nessas regiões. 

Em relação às últimas semanas, é preciso ter cautela: os números de contaminados pelo coronavírus aumentou nas 13 favelas acompanhadas pelo Voz das Comunidades. Apesar de haver uma tendência de queda em todo o município do Rio, as comunidades verificadas seguem contabilizando novos doentes. Por isso, toda a população deve se proteger. Uma das formas mais mais eficazes é estar em dia com a vacinação.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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