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A arte do rabisco que virou negócio: “Landmann Tattoo” no Complexo da Maré

Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades
Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Paixão por desenho se transformou em empreendedorismo de sucesso

No segundo andar de uma das casas da Kelson’s, no Complexo da Maré, o silêncio da tranquilidade característica da favela é interrompido por um barulhinho de máquina de rabiscar. É o estúdio de tatuagem de Marlon Landmann, o “Landmann Tattoo”. Tudo começou por causa do amor pela arte. Marlon, hoje com 43 anos, desenhava desde pequeno e, mesmo criança, já arrumava uns trocados por causa dos seus traçados. “Meu padrinho me levava para o bar com ele e pedia para os amigos falarem alguém para desenhar. Eu saia felizão, porque eles me davam um dinheirinho”.

Por causa do talento que Marlon foi aprimorando com dezenas de cursos de desenho – os diplomas emoldurados podem ser vistos nas paredes do estúdio – ele sempre era convidado pelos amigos tatuadores para fazer os desenhos para tatuar nas pessoas. No entanto, Marlon, que é casado e pai de três filhos, só tatua profissionalmente há cinco anos. Antes trabalhava o dia todo na Light, empresa fornecedora de energia elétrica. Só quando chegava em casa ia para a cozinha, atender os clientes. Começou reinvestindo todo o dinheiro em equipamentos melhores, até que conseguiu construir o próprio estúdio na laje de casa.

Em determinado momento – há exatos três anos – viu que o tempo que ficava tatuando rendia mais financeiramente do que o expediente na empresa. Sem contar a sua paixão pela arte, que Marlon não cansa de declarar. “A arte falou mais alto”, diz o artista, com os olhos brilhando e a fala mansa. Com o apoio da esposa, que é professora, conseguiu um acordo no trabalho e, desde então, vive só de fazer arte na pele das pessoas. Rodrigo de Andrade, 23 anos, que estava sendo tatuado por Marlon quando a equipe de reportagem do Jornal Voz das Comunidades visitou o estúdio, foi levado até lá por outros dois amigos, já clientes de Marlon. “Eu já tinha vindo aqui com dois amigos. Vi o cuidado dele tatuando, as especializações penduradas na parede… E eu posso te falar? Ele é o melhor que conheci”.

Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades
Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

De segunda a sábado, a agenda de Marlon recebe procura de gente de dentro e de fora da comunidade. O morador da favela Kelson’s desde os 13 anos diz não gostar de marcar duas pessoas no mesmo dia porque preza pela qualidade do trabalho, e não o volume. O espaço que acomoda o estúdio, todo personalizado com miniaturas de personagens do filme “Star Wars”, foi inspecionado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Eu gosto de tudo certinho”, afirma Marlon.

Com outros quadros com assinatura de Marlon, além das referências ao filme, o som ambiente é de rock and roll, mas o empresário e tatuador tem um ritmo bem mais para bossa nova. “Minha mulher diz que eu sou lento até demais”, conta, dando risada. Mesmo assim, ele não para: está criando um desenho animado com os amigos; também está em busca de parceiros para a realização de um dia inteiro dedicado à arte para crianças na favela Kelson’s. “Deve ter um monte de gente aqui que faz arte, mas não os conhecemos. Quero reunir essas pessoas”.

Quer dar uma conferida nos trabalhos de Marlon? Eles estão disponíveis na sua página na rede social Facebook: “Landmanntatoo”. Para marcar um horário para rabiscar, o telefone é (21) 98196-2053.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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