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Cria do Alemão, lutadora de MMA enfrenta obstáculos para voltar aos octógonos

Pamela Pitbull conta como iniciou no esporte e relata alguns dos desafios de ser mulher em um esporte considerado “de homem”, além da correria para custear seu sonho
Foto: Vilma Ribeiro/Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro/Voz das Comunidades

23 anos, 7 lutas e 3 vitórias. Este é o histórico de Pamela Rosa Ferreira dos Santos, vulgo Pamela Pitbull, na luta profissional, que ainda está longe do fim. Atualmente, ela batalha em dois empregos, em um restaurante no Centro do Rio e em um buffet na Tijuca, Zona Norte, para conseguir voltar aos octógonos. 

Foto: Divulgação

Atleta da academia Tata Fight Team (TFT), Pamela Pitbull tem como mestres o Tatá Duarte, no Jiu-Jitsu, e o Philip Lima, no Muay Thai. A lutadora conta como iniciou no esporte e relata alguns dos desafios de ser mulher em um esporte considerado “de homem”. Além da correria para custear o seu grande sonho, que é chegar ao UFC (Ultimate Fighting Championship), há muitos custos, como: realização de exames, alimentação, passagem e até passaporte, que Pamela ainda não tem. 

Por volta de seus 12 anos de idade, a Pitbull era moradora da Fazendinha, no Complexo do Alemão, e sonhava em ser jogadora de vôlei. Isso porque, na escola, ela fazia parte de um projeto do técnico Bernardinho que existia na época. “Eu já gostava muito de esporte. Sempre participava nas atividades de educação física. Comecei jogando vôlei. E eu amava! Ganhei até medalha!”, conta. 

Ainda aos 12, ela teve seu primeiro contato com a luta: o Kickboxing. Como era pago, Pamela desabafa que não conseguiu ficar por muito tempo e que chegou a tentar uma bolsa, que não rolou. “Daí, teve uma amiga que me chamou para fazer luta pela Associação de Moradores da Fazendinha, na equipe KL Fight Team. Eu fui, achando que seria Muay Thai. Mas era submission, que é um jiu-jitsu sem kimono”, relembra. 

Ela confessa que tinha preconceito com “esse negócio de agarração no chão”. Mas, o professor gostou dela e, depois, se apaixonou pela técnica. “Foi nesse período que surgiu meu apelido. Meu antigo mestre, Leandro Buiu, falava: ‘essa menina parece um pitbull, eu falo para ela ir e ela vai [lutar]’”, explicou, brincando que, na época, não gostava de ser associada a um cachorro. Hoje em dia, a Pitbull tem um pitbull tatuado no braço.

Mesmo com esse vulgo, ela conta que era uma aluna que tinha muita dificuldade. Ainda assim, manteve-se firme e acompanhou seu então mestre até a academia que ele mesmo abriu. Mas, sem abandonar o projeto da Fazendinha. Nisso, ela já estava com 17 anos. Foi então que ela ganhou sua primeira luta de submission, na academia New Corpore, em Irajá, Zona Norte do Rio. 

Aos 18, arriscou sua primeira competição no MMA amador. “O mestre não estava achando uma luta de submission. Eu, que não tinha nada a perder, fui. No improviso, fazendo o básico, ganhei”. A partir daí, ela se inseriu no MMA e, na sua quarta luta amadora, relembra que ganhou por nocaute, no primeiro round. 

Chegando à quinta luta, Pamela teve problemas na lombar e mal conseguia se movimentar, o que abalou seu psicológico, já que não conseguia mais treinar, nem trabalhar. “Cancelamos essa luta, que era de cinturão. Quando eu voltei para o treino, apareceu uma oportunidade de luta profissional contra a Polyana Viana, do UFC, e que faz parte da equipe da academia TFT”, relembrou da competição que, apesar de ter sido derrotada, levou ela também à equipe da TFT, quando ela tinha 19 anos. 

Desde a sua última luta, em agosto do ano passado, em que saiu vitoriosa e estava muito bem preparada, fisicamente e psicologicamente, ela está enfrentando dificuldades para voltar à ativa. Mas, Pamela Pitbull não pensa em desistir de seu sonho. “Meu maior objetivo dentro do esporte é mostrar para as pessoas, que diziam que eu não era boa o suficiente, que eu sou boa, que eu tenho talento, sou mulher e posso chegar lá! Quero chegar no UFC de cabeça erguida e falar que eu venci”, ressalta a lutadora. 

Para Pamela Pitbull, o esporte foi algo mágico e transformador em sua vida. “Me salvou de muita coisa. Da realidade de onde eu estava morando, porque a gente vê muita coisa. Abriu minha mente e também melhorou minha saúde”, diz. Pamela comenta também que, antes do esporte, ela se escondia muito e que foi após entrar nesse universo que ela conseguiu fazer amizades e melhorar sua autoestima. “Gostaram da pessoa que eu era e eu mesma comecei a gostar de mim. Comecei a ver que eu sabia fazer as coisas e ter uma visão de que eu poderia mudar a minha realidade. Pensava: ‘Posso fazer uma carreira grande! Posso crescer muito mais e ser uma atleta de verdade!’”. 

Sem patrocínio e enfrentando o machismo desde que começou a lutar, ela cutuca. “Muitos patrocinadores não querem ajudar quem está começando, principalmente mulher, porque acham que não vai dar retorno. Só patrocinam atletas que já estão estabilizados. Deveriam olhar a geração nova porque, chegando lá na frente, vão querer o atleta que pediu ajuda lá atrás”. E, finaliza: “Infelizmente, você tem que ser o seu próprio patrocinador”. 

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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