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Quebrando barreiras através do esporte, projeto social “saca” valores do tênis no Alemão

Professores do Favela Tênis & Cultura transformam perspectivas sociais de 55 jovens da comunidade

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Com o intenso barulho de bolinhas de tênis sendo frequentemente arremessadas por raquetes, a agitação de todas terças, quintas e sábados na Vila Olímpica do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, recebe a presença da inquietação de 55 jovens que participam do Favela Tênis & Cultura. Entre treinamentos e conversas com os professores, as crianças despertam para valores e metas que vão além da disputa dos sets de partidas: a percepção de que é possível quebrar barreiras sociais.

Na tutela de três amigos de longa data, Ruan Melo, de 26 anos, Leandro Pancote, de 29 anos, e Alexandro Junior, de 27 anos, o projeto incentiva a transformação social através do esporte, aumentando os olhares para as atividades culturais e introduzindo perspectivas profissionais aos alunos, como indicar para cursos ou programas de Jovem Aprendiz. De acordo com Ruan, o Favela Tênis & Cultura é feito para quebrar barreiras. 

“Nossa meta é quebrar barreiras mesmo. O tênis é considerado um esporte elitizado desde sempre. Pelo alto custo dos equipamentos, com a existência de quadras só em zonas mais nobres e a maioria dos atletas pertencendo às classes sociais com aquisição financeira elevada”, explica Ruan, professor do Favela Tênis e estudante de Educação Física. 

Quando mais jovem, Ruan conta que jogava partidas de tênis em videogame e se inspirava nas partidas do atleta Gustavo Kuerten, mais conhecido como Guga, ex-número 1 no ranking mundial de jogadores. Em uma aula na faculdade de Educação Física, a paixão pelo esporte fluiu naturalmente e, junto com ela, a consciência de que o esporte está muito distante das favelas cariocas. 

 Além de treinamentos de tênis, crianças recebem orientação sobre perspectivas sociais, como estudos e trabalhos. 
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“A maioria das crianças nunca se imaginou jogando tênis, entende? Para te falar a verdade, nem eu e meus amigos, que dão aulas comigo hoje, pensávamos que era possível. É raro você ver uma quadra feita especialmente para tênis em qualquer favela do Rio de Janeiro. Você vê futebol, vôlei e, às vezes, basquete. Um certo dia, eu postei uma foto minha jogando tênis e o Leandro comentou dizendo que também queria jogar. Ali surgiu a ideia de criarmos o projeto social Favela Tênis & Cultura, que já tem cerca de um ano e meio. Mas, com esse formato de inscrição das crianças na Vila Olímpica do Rio de Janeiro tem quatro meses”, destaca Ruan. 

Nesse trajeto de colocar em prática a iniciativa social, Leandro comenta que contou com a ajuda de amigos e conhecidos que apoiaram a ação, como o padrinho do projeto, Arthur, que dá aulas de Educação Física e de tênis. Ele relembra um episódio que fez ser possível o início das aulas do Favela Tênis & Cultura. 

“Um dia estávamos jogando tênis em uma quadra na Zona Sul do Rio de Janeiro e encontramos um saco preto isolado no canto da quadra, próximo ao lixo. Por curiosidade, eu encostei nele e dava para sentir a presença de uma estrutura física parecida com madeiras dentro da sacola. Então, abri… e me surpreendi com o material que estava lá: uma dezena de equipamentos de tênis, entre eles, raquetes. Claro, o material não estava em condições plenas. Estava um pouco desgastado pelo tempo de uso, mas o que o pessoal da zona nobre considera lixo ou descartável, a gente considerou um baita material para dar início às aulas”, detalha Leandro.

Além das aulas nas terças e quintas-feiras, das 19h às 22h, as atividades do Favela Tênis & Cultura também são realizadas aos sábados na Vila Olímpica do Complexo do Alemão. Repletos de objetivos para o projeto social, os professores têm interesse em expandir os treinamentos e as possibilidades da iniciativa para outras comunidades e, em breve, inscrever os alunos em torneios.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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