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Abandono público faz moradores da Terra Prometida enfrentarem os próprios problemas sociais

Ações de limpeza urbana, saneamento básico e outros serviços são realizados pela própria população na Penha
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Fora dos planos de desenvolvimento da Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro, os moradores da região Terra Prometida, localizada no alto do Complexo da Penha, convivem com problemas sérios de saneamento básico e de manutenção urbana.

Uma das residentes mais antigas do bairro, a dona Maria do Carmo, de 58 anos, remexe as suas memórias quando questionada sobre a última visita dos funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). “Acho que faz uns dois anos que não os vejo por aqui”, comenta. 

 Maria do Carmo, de 58 anos, é uma das moradoras mais ativas nas iniciativas pelo bairro.
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades.

Enquanto detalha um pouco da história local, dona Maria, que trabalha com confecção de roupas e de materiais de uso doméstico, relata que o abandono do poder público tornou a vizinhança autodidata. “Então, por aqui, nós mesmos resolvemos o problema, que vai de moradia a outras questões que envolvem nosso bem-estar e rotina. Em dias de chuva, por exemplo, fica impossível andar pelas ruas devido ao acúmulo de água que desce e também o risco de deslizamento a qualquer momento”, explica. 

Por ser um território vulnerável às condições climáticas extremas, há muitos relatos de deslizamentos de moradias ou de perdas de residências em decorrência da alta ventania que a Terra Prometida encara, já que o bairro é cercado por árvores e vegetações do sul ao norte. Como aponta o pedreiro Renan Braga, de 31 anos, que já presenciou casas “voando” pela comunidade durante vendavais. 

 Terra Prometida, no Complexo da Penha, enfrenta condições de abandono público.
Fo: Selma Souza/Voz das Comunidades.

“Em dias de tempestades, a gente sente muito medo, é claro! Já presenciei algumas residências voando por aqui. É muito triste! Muitas famílias já possuem pouco e, quando chove ou tem ventania, perdem o quase nada que tem”, fala. 

Além de auxiliar na construção de muitas residências e projetos pela localidade, Renan faz parte da ONG Centro de Educação Multicultural (CEM), que atende mais de 200 famílias da região em diversas áreas, entre elas, educação, segurança alimentar, cuidados com a saúde e do possível cadastro de benefícios e programas de assistência social. No comando de Marcelo Correia e Ana, a CEM desenvolve uma cozinha comunitária em uma sede de apoio às situações emergenciais, como as relacionadas ao clima. 

Para Marcelo, as ações de autossuficiência da região não deveriam ser um padrão, caso o poder público atendesse a demanda que existe por lá. Porém, como essa condição precária existe há diversas gerações, as iniciativas coletivas abraçam da forma que podem. Às vezes, os moradores tiram do pouco que possuem para investir na região, como a dona Maria que ajuda frequentemente na aparagem do matagal que forma no território.

“Logicamente, se a população tivesse o cuidado frequente da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e as instituições conectadas a ela, não haveria a necessidade dos moradores abrirem mão do cuidado com a vida pessoal para as tarefas e demandas que são de responsabilidade pública”, define. 

Na busca de compreender os possíveis planejamentos de melhorias na Terra Prometida, que recebe esse nome por ser um local conhecido pelo retiro espiritual de religiosos, a reportagem do Voz das Comunidades entrou em contato com a Secretaria Municipal de Habitação, que responde diretamente à Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Em seu posicionamento, a divisão confirmou que não possui nenhum plano para a Terra Prometida, ou seja, compartilhou, de forma oficial, o abandono público do local. 

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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