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Após obras do PAC, casa de moradora do Capão alaga em dias de chuva

Graciela da Silva afirma que, após as obras do teleférico da Alvorada, que pertenciam ao PAC, alagamentos passaram a ser inevitáveis em sua residência no Alemão
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

“A parte do Capão sempre foi esquecida”. Essa frase resume todo o sentimento de abandono de Graciela da Silva Campelo, moradora de uma das regiões mais esquecidas pelo poder público no Complexo do Alemão. Além dos buracos, escadas malfeitas e postes sem iluminação, outra questão afeta muito a vida dos habitantes da localidade: a chuva. E, infelizmente, o problema foi agravado por conta de uma obra do PAC, que deveria servir de melhoria para toda a população do Alemão. 

As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) surgiram em 2007. E, além de outras medidas governamentais, a iniciativa foi criada para solucionar problemas de infraestrutura social, como habitação, saneamento básico e transporte de massa. No entanto, Graciela não conseguiu ver benefício na construção do teleférico, apesar de saber da importância do transporte. Quando o tempo fecha e a tempestade cai, do alto do Capão desce muita água, muito lixo e esgoto. Segundo ela, o transtorno começou quando a estação da Alvorada  foi construída. Porque, antes, existiam casas que protegiam do aguaceiro que descia do morro. No entanto, atualmente não há mais barreiras de proteção.  

“Eles fizeram essa obra lá de trás, não fizeram tão bem feita. Ao invés de colocar uma encanação deles dentro da caixa (de esgoto) pra cair tudo direito, não! Deixaram lá, fizeram a metade, não fizeram tudo corretamente. Quando chove, infelizmente, não só alaga a minha casa, como alaga as casas de cima também”, explica Graciela. 

Andreia Pereira, também residente do Capão e integrante do grupo Mulheres em Ação no Alemão, confirma as falas de Graciela sobre as obras. “Quando eles fizeram esse pilar (do teleférico), tiraram essas casas e deixaram o escoamento de água livre”, diz. Para Andreia, deveria existir um manilhamento maior, ou seja, uma estrutura que aguentasse a quantidade de água. “A manilha que tem aqui é mínima, pra uma caixinha de esgoto mínima, pra um escoamento de água grande”, completa. 

Os canos também não aguentam a pressão da água e, como consequência, as caixas de esgoto são danificadas. Muitas vezes, os próprios moradores têm que consertar os tubos e limpar a caixa de esgoto, para auxiliar no escoamento de água. Ela relata também que reforçou a parte de trás da casa, preocupada com um possível desabamento, que pode decorrer da força da chuva e do lixo que caem no seu quintal. “A gente que, de vez em quando, tem que subir. Quem sobe é meu esposo, pra poder tentar emendar os canos, pra poder cair dentro da caixa. Mas a água vem tão forte lá de cima que alaga lá e alaga aqui. E é aquele negócio, vem muito lixo lá de cima”.  

Os canos quebrados não aguentam a pressão da água 
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Outros problemas e suas consequências

Contudo, o problema não é causado só devido às obras do PAC. De acordo com Graciela, as pessoas não têm o costume de descartar o lixo nos locais corretos. “É lixo que o povo muitas das vezes joga. Têm algumas pessoas que são preguiçosas. Conforme vai descendo o lixo, a gente vai tirando, pra poder a água não descer pra cá”, relata.  Logo, o mau hábito de alguns habitantes da região prejudica diretamente outros moradores. 

 A quantidade de lixo traz risco à saúde dos moradores da casa
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Já Andréa reforça outra situação delicada, pois a falta de água é mais frequente após as obras do teleférico. Segundo a mulher, não faz sentido resolver um problema e gerar outro.  “Eles cortaram muita água. Então muitos moradores ficaram sem água. Aí tem gente que depende da borracha dos outros”, ressalta. 

A equipe do Voz das Comunidades entrou em contato com a Secretaria de Infraestrutura para entender se a obra do teleférico afetou o escoamento de água da região. Em relação à falta de água, a Cedae foi contatada. A companhia afirmou que mais informações a respeito deveriam ser obtidas com a Águas do Rio. No entanto, até o fechamento desta matéria, nenhuma explicação sobre as questões foi retornada.  

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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