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Erick Brendon, o menino que saiu das ruas do Complexo para jogar no Botafogo de Futebol e Regatas

Erick Brendon exibe todos reconhecimentos da carreira - Foto: Bento Fabio
Erick Brendon exibe todos reconhecimentos da carreira - Foto: Bento Fabio

A estrela que brilha no Alemão

Ser jogador de futebol é o sonho de muitos meninos do Complexo do Alemão. As ruas se transformam em campos, os chinelos em traves e os desejos em realidade. Pelo menos foi assim no caso de Erick Brendon que aos 20 anos já integrou duas equipes profissionais no Rio. Sem imaginar que outro rumo poderia ter do sua vida além dos campos, o jogador conta ao Voz da Comunidade a sua trajetória no futebol.

Foto: Bento Fabio
Foto: Bento Fabio

Fominha de bola desde sempre, Erick é o segundo filho de uma família que sonha junto. “Meu pai, Edson, sempre foi um apaixonado pelo esporte, fez alguns testes quando novo, mas não deu certo. Então ele buscou transferir o sonho para meu irmão mais velho; também não teve muito sucesso. Quando eu nasci, ele decidiu que me deixaria livre pra escolher um caminho, mas soube muito cedo que seria a bola a quem eu também amaria”, conta, sorrindo.

Já nos primeiros lances em jogos de rua, era perceptível a intimidade que Erick tinha com a bola. Isso despertou a atenção de todos, levando Edson a matricular seu filho em aulas na Vila Olímpica da Mangueira. Não demorou muito para que, aos oito anos, chegasse ao Flamengo. Bastaram alguns testes para que o menino tivesse o pontapé inicial para realizar seu sonho. “Eu era o mais novo do Flamengo. Ainda estavam montando um me com garotos da minha idade e eu ficava jogando bola com os mais velhos, treinava uma vez por semana em Vargem Grande”.

Sua mãe, Marciana, era quem o acompanhava aos treinos, cuja frequência foi aumentando até se tornarem diários. “Eu estudava de manhã e treinava à tarde. Minha mãe me buscava no colégio, levava minha marmita e e u c o m i a n o ônibus mesmo.

Foi uma fase muito di cil para nós, mas meus pais sempre estiveram ao meu lado, me apoiando demais”. Tanto que até empréstimos o pai de Erick precisou fazer para manter o filho treinando no campo de Vargem Grande e no salão da Gávea. “Meus pais são guerreiros demais. Nunca faltaram aos meus jogos, independentemente da distância; fizeram sempre tudo por mim e eu sou muito grato. Eu via os pais dos meninos que tinham condições financeiras superiores à nossa chegando de carro, e meus pais sempre de ônibus, pegando quantas conduções fossem necessárias. Eu coloquei em meu coração que compraria um carro para que eles pudessem me assistir”. Desejou e conseguiu. Hoje, Edson e Marciana podem assistir aos jogos do filho com maior comodidade.

O primeiro contrato profissional de Erick veio no Botafogo, clube que o acolheu por sete anos. Nesse meio tempo, o jogador foi emprestado ao América. Com a camisa vermelha, competiu profissionalmente pela primeira vez. Foram 15 jogos seguidos como titular pela disputa do campeonato carioca. “Eu tremia e sentia muita vontade de chorar no meu primeiro jogo. O estádio era bem distante, mas mesmo assim olhei para a arquibancada e vi meus pais. Foi uma emoção sem igual. Eu só não chorei para não fazer feio na frente do me”, relembra.

Foto: Bento Fabio
Foto: Bento Fabio

Hoje Erick se dedica ao treino individual, estuda propostas de novos contratos e auxilia em projetos na comunidade. Recentemente doou mais uma vez chuteiras aos jogadores da final da Liga Apeziana, campeonato que acontece pelo terceiro ano consecutivo no Complexo do Alemão, promovido por crianças e moradores. “Faltam muitos projetos sociais no morro, esse tipo de trabalho mostra o caminho à criançada. O esporte promove mudanças e é sonho de muitos deles. Quando eu chego no campo, eles me tratam com muito carinho e admiração. Vejo que sou um exemplo para esses pequenos e tomo muito cuidado com minhas atitudes, porque sei que eles se espelham em mim. Tudo o que tenho, é obra de Deus e eu agradeço retribuindo parte do que recebo dele”, declara.

Os sonhos do jogador para o futuro incluem integrar uma equipe como a seleção brasileira e entrar para o futebol internacional com o Barcelona. Para um atleta que se dedica e acredita em seu potencial, tudo é possível. Regrado, Erick é pontual aos compromissos de sua profissão e, mais do que sonhador, mostra-se capaz de alcançar o que almeja. “Estou sempre em busca de me superar e corrigir as falhas. Eu tenho um dom e, com ele, busco honrar a quem me honra. Nada para minha glória e sim para a Glória de Deus!” finaliza mais um menino do Complexo do Alemão que almejou, trabalhou e vem construindo seu futuro.

Foto: Bento Fabio
Foto: Bento Fabio

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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