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Gabigol: um zelador pelo bem-estar das ruas do Vidigal

Em situação de rua há cinco anos, Gilson de Jesus Silva, de 50 anos, cuida da limpeza e da revitalização das calçadas da favela da zona Sul
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Dentro de todos os ritmos que embalam a rotina na comunidade do Vidigal, com certeza Gilson de Jesus Silva, de 50 anos, desenvolve o mais contagiante e agitado pela região. Entre latas de tintas e improvisações de “beatbox”, uma técnica que realiza som de batidas de músicas do gênero do rap através da boca, ele exerce uma função essencial para o bem-estar dos moradores que circulam pela favela da zona Sul do Rio de Janeiro: a revitalização das calçadas. 

Apelidado carinhosamente como Gabigol, por sua admiração pelo jogador e pela história do clube Flamengo, Gilson atua como um “zelador” do bairro, realizando o processo de limpeza e de pintura urbana todos os dias no Vidigal. Para ele, que convive com a situação de rua há 5 anos, cuidar desses ambientes é celebrar a vida e cultivar boas relações por onde passa. Cria do Jacarezinho, o cuidador dos espaços públicos encontrou carinho e amor desde a sua chegada. 

“Desde que cheguei no Vidigal, encontrei amigos que gostam de mim e confiam na minha pessoa. Aqui, todo mundo me conhece. O “Gabigol” das tintas e da limpeza urbana da favela. Eu não durmo na rua como todo mundo pensa, eu durmo na calçada senão sou atropelado pelos carros (risos), mas sou muito feliz aqui. Eu e a minha cachacinha (risos)”. 

Abraçado pela comunidade e por empreendimentos locais, Gilson comenta que todos os materiais utilizados para limpeza e revitalização urbana são doados por moradores e comerciantes da região, que entenderam o compromisso dele como uma missão de zelo pela população. “Tudo que eu tenho hoje ganhei dos moradores! A minha camisa e boné do Flamengo, que é uma seleção né (!?), as minhas vassouras e latas de tintas, a madeira que uso para me deitar e a coberta que me protege do frio”, destaca.

Aliás, a função que exerce hoje surgiu inesperadamente em sua vida. Gilson, que se abrigava em um buraco embaixo da Praça do Vidigal, sentou-se em um banco com tinta fresca que manchou as roupas que usava. Naquele momento, percebeu que poderia cuidar da revitalização da favela que acolheu. “Eu comecei a pintar com cal mesmo, sabe? Aí todo mundo percebeu que o trabalho que eu fazia era muito bom e começou a doar tintas, equipamentos de limpeza e de pintura, roupas e tudo mais”.

Com toda a sua dedicação pelo bem-estar da comunidade, Gabigol também realiza compras e pagamento de contas para moradores. Além disso, recebeu a permissão do ponto de Kombis para instalar sua cama e deixar seus objetos no local. Ali, ele descansa e também consegue acompanhar a grade de programas de televisão e jogos do seu time do coração, que passam na televisão instalada no ponto. “Ele é muito bem-vindo aqui. Um grande amigo”, destaca um dos motoristas de van que não quis se identificar. 

Como todo bom flamenguista, Gilson sonha com a oportunidade de acompanhar frequentemente todos os jogos do seu clube do coração. Amante da música, do carnaval e do hip-hop, o zelador do Vidigal enxerga o Flamengo como um casamento perfeito disso tudo. Pois, de acordo com ele, é um time que mistura todas as características dos moradores da comunidade. Um time do povo. “Uma vez Flamengo… sempre flamengo…”, canta enquanto ergue um dos seus pertences, um troféu de futebol.

Apaixonado pelo Flamengo e pela música, Gabigol pinta e limpa os espaços públicos da comunidade.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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