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Jovens da periferia da Bahia criam “TeleCorona” para atender população negra

O grupo AfroSaúde lançou na última semana uma rede de apoio à população periférica no combate ao Coronavírus. O projeto “TeleCorona da Periferia” oferece orientação em saúde com profissionais em diversas atuações e pretende reduzir superlotação dos serviços de saúde, além de conscientizar a população negra periférica.

A página para auxiliar pessoas de maior vulnerabilidade social no combate contra a Covid-19 nas periferias foi criada em Salvador, na Bahia. O intuito surgiu devido a percepção da baixa representatividade de profissionais negros na área da saúde.

Com uma equipe de saúde integradas por médicos, psicólogos, farmacêuticos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais, profissionais negros que já atuam na área, e convivem diretamente com o racismo estrutural, e aptos a lidar com as situações de saúde da comunidade periférica diante do atual cenário de pandemia, a rede de apoio vai possibilitar orientação multiprofissional em saúde, bem como garantir o acesso à informação de forma clara e acessível a essa população.

Para viabilizar este projeto, a AfroSaúde foi acelerada pela Vale do Dendê no ciclo 2019, e promoveu uma campanha de financiamento coletivo através da plataforma Benfeitoria. Os 36 mil reais arrecadados foram destinados para arcar as ligações de todos aqueles que necessitam dos serviços prestados. Em uma semana de lançamento o projeto recebeu 60 ligações, de diversas pessoas apresentando os sintomas de coronavírus, de leves a muito graves, dúvidas de como tomar ou quais os medicamentos corretos, e até em questão de fazer ou não o isolamentos social.

“O intuito da empresa é facilitar o acesso às informações (…), tivemos esta ideia quando vimos o complexo do Nordeste Amaralina (que é uma grande periferia da região), cercada por bairros de classe média alta, que estavam tendo muitos casos de coronavírus e notamos que quando a pandemia chegasse naquela comunidade, teríamos muitos problemas, e as pessoas iriam precisar ter um maior suporte, pois o sistema de saúde normalmente já enfrenta muitas dificuldades para a população periférica, que na sua maioria é negra”, disse o dentista e um dos fundadores do projeto, Arthur Lima, de 27 anos.

O grupo gestor é formado por Arthur, que é responsável pela parte de central de atendimento, Leonardo Santos, de 25 anos, que cuida da parte de assessoria e comunicação e marketing, junto com o jornalista Igor Leonardo, de 33 anos, que também é sócio de Arthur e administra a parte de tecnologia. A equipe também conta com 30 médicos voluntários e profissionais das áreas de saúde atendidas pela rede.

Arthur conta que no início da  AfroSaúde, foi feita uma enquete para ser avaliado se a plataforma teria pessoas que a utilizassem e foram mais de 2.500 votos favoráveis contabilizados. Também foi elaborado um banco de dados com 1.100 profissionais de saúde negros de todo o Brasil, e mais de 1.400 pacientes também negros buscando este tipo de serviço. 

“Não tínhamos muitos recursos financeiros para começar e ainda temos pouco. Recebemos uma verba de R$10.000 para iniciar o projeto que conseguimos através de um programa de aceleração que participamos, e estamos lutando para continuar tirando as tecnologias do papel. Dividimos nossas atenções entre o Telecorona e a criação desta nova plataforma de atendimento. A dificuldade que temos é a de todo povo preto, a questão financeira ainda é uma barreira, a comunidade negra entende os motivos e razões deste projeto, contudo ainda existem pessoas não negras que ainda questionam a necessidade dele”, complementou Arthur.

O atendimento também registra os dados pessoais dos usuários, sintomas e dúvidas para tentar criar um perfil deste indivíduo e descobrir possíveis novos focos da Covid-19.

O “Telecorona da Periferia”, é uma central 0800 e as pessoas podem consultar todas as sua dúvidas sobre tudo relacionado ao coronavírus. Nas próximas semanas estará disponível a segunda parte do programa, com atendimento de acolhimento online e videochamadas, tendo em vista todas as necessidades psicológicas que cresceram nas comunidades durante o período de pandemia e isolamento social.

O atendimento é realizado de segunda à sexta, das 08h às 19h, através do número 0800 042 0503. A ligação é gratuita.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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