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Da produção cultural às vendas, crise do coronavírus gera impacto negativo nos autônomos

Carlos Magno (esquerda) e Fernando (direita) durante evento de música, quando ele ainda acontecia (Raphael Wolf/Voz das Comunidades/Reprodução)

novo coronavírus tem causado estragos enormes pelo mundo. A Organização Mundial da Saúde declarou, no dia 12 de março, estado de pandemia global, o que gerou uma enorme crise em todos os continentes. Em efeito avalanche, presidentes e líderes políticos declararam estado emergencial em seus países. Não demorou muito para tal medida chegar ao Brasil. 

No dia 20 de março, o Senado declarou que o país está em estado de calamidade pública e milhões de pessoas tiveram a rotina mudada: trabalhadores em home office, parte do comércio fechado, setor de serviços reduzido e um impacto direto na economia – a Fundação Getulio Vargas (FGV) fala em contração de 4,4% para 2020. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o número de desempregados no Brasil pode chegar a quase 25 milhões, com uma perda de renda de 3 trilhões de dólares. 

E quem sofre muito com toda essa situação são os trabalhadores autônomos, que perderam qualquer garantia de rendimentos. 

O rapper e produtor cultural Carlos Magno, conhecido como Magneto, morador do Complexo do Lins, no Rio de Janeiro, é uma das pessoas que passa por essa situação. Além de ser um dos organizadores da Batalha do Coliseu, uma competição de rimas improvisadas que acontece toda quarta-feira no bairro do Méier, há um ano ele realiza apresentações em transportes públicos para sustentar sua família – a esposa e três filhos. 

A batalha vinha em grande crescimento, com o canal no Youtube passando de 160 mil inscritos e 13 milhões de visualizações, e o Instagram com mais de 30 mil seguidores. Os eventos sempre contam com a presença de rappers de outros estados e enchem a Praça Agripino Grieco com espectadores e comerciantes.  Entretanto, a crise pandêmica atrapalhou o planejamento.

“Foi muito grande o baque. O Coliseu ainda não gera renda fixa, além do Adsense. A gente tem um compromisso a nível nacional, as pessoas esperam as edições. Na primeira semana da crise, fizemos o evento com 16 mc’s convidados e em local reservado. Com o crescimento da pandemia, optamos por não fazer até que seja seguro. Estamos criando quadros internos para conteúdo, trabalhando com compilados e planejando batalhas online”, relatou o artista de 26 anos.   

O fato de não ter renda fixa é o ponto que tira a estabilidade destas pessoas. Segundo Magneto, quando o fluxo está bom nas apresentações no metrô, ele chega a fazer R$ 200 por dia. Agora, impossibilitado de trabalhar, a missão é se reinventar. Até mesmo a renda do conteúdo digital diminui, já que sem evento não há material de filmagem. Essa questão atrapalha não só a organização, mas também os demais artistas. 

“O Adsense que ganhamos, reinvestimos. Estamos na fase de estruturação, alugamos uma casa pra abrigar os mc’s que vêm de outros estados e para trabalharmos melhor, usando como escritório. Buscamos profissionalização. A ajuda de custo de passagem para a produção, por exemplo, não conseguimos dar esse mês”, afirmou Carlos. 

Comércio popular fica sem rumo

O Rio de Janeiro tem pontos muito conhecidos de comércio popular, os chamados camelôs. Seja no Mercado Popular da Uruguaiana, nos vagões dos trens ou pelo BRT, esse tipo de comércio garante o sustento de milhares de famílias cariocas. 

Fernando Augusto, de 30 anos, é um que tem a renda por meio deste trabalho. Há dois anos, por conta das dificuldades do mercado tradicional, Fernando circula pelas estações de BRT e linhas de ônibus vendendo biscoitos amanteigados. DaIra, como é conhecido, enfrenta essa dificuldade por mais de um lado da sua vida, uma vez que é mestre de cerimônias e apresenta a Batalha do Coliseu, citada anteriormente. 

“É difícil, hoje em dia, trabalhar como autônomo e obter muito lucro. Ultimamente, nem o da mercadoria eu estou conseguindo arranjar. Não só eu, mas meus amigos que também trabalham como camelô. São tempos difíceis, procuro fazer alguma coisa rentável, ajudar alguém ou incorporar novos quadros paro o nosso canal de batalhas de MC’s. Tenho dois filhos e está sendo muito difícil para poder dar um conforto melhor a eles”, afirma.

A situação é ainda mais grave quando se analisa o preconceito existente por trás disso tudo. Fernando conta que as pessoas parecem ter receio de comprar os produtos dos camelôs, por medo de se infectarem com o Coronavírus. Além da falta de informação em massa, o vendedor cita que o jeito que as autoridades tratam os trabalhadores informais contribui para isso. 

“O governo faz besteiras e quem paga é o povo. Não sei como vão ser nossos dias daqui para frente. Isso afeta a minha vida de tal forma…Gera uma insegurança por dias melhores, parece que estão longe de vir”, finalizou Fernando. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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